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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Do avesso

V de Viver, 31.05.20

Hoje acordei do avesso. 

Olhei-me ao espelho e não fiquei satisfeita. Mas não me refiro ao meu aspecto físico. Não falo dos "quilinhos" a mais. Da celulite. Das olheiras de quem pouco dormiu nos últimos dias. Não. Refiro-me à minha alma. Ao que está dentro de mim. Ao passado, ao presente. A tudo o que fiz a pensar que seria o melhor, mas que não foi. A todas as vezes que me anulei para caber no mundo dos outros. Para ser aceite pelos outros. A todas as vezes que engoli as minhas emoções para que ninguém as visse escorrer pelos meus olhos. Todas as vezes que disse "sim" quando queria dizer "não". Todos os abraços que dei a pensar que receberia a troca.  Todas as palavras que dei aos outros para os reconfortar. Onde é que isso me levou? Dou por mim a pensar que passei a minha vida a dar aos outros tudo aquilo que eu mais queria receber. Todos os beijos, abraços e palavras de conforto que ofereci, quantas vezes me foram retribuídos? 

Hoje acordei do avesso.

Não gostei do que vi cá dentro. Não gostei da sensação de carregar o mundo nas costas. Não gostei de saber que se eu desistir, se eu deixar cair aquilo que seguro, a minha vida desmorona. Não gostei de sentir que piso em areia movediça. De sentir que posso ser sugada a qualquer momento se deixar de usar a minha armadura. Não gostei de me sentir perdida, como tantas vezes já senti. Afinal de contas, eu sou importante para quem? 

Hoje acordei do avesso.

Não gostei. Não quero mais carregar o mundo nas costas. Não quero mais ser o degrau onde todos se equilibram para subir mais alto. Não quero ser aquela que dá um "empurrãozinho" em todos e que, quando precisa, não tem onde se apoiar. Não quero mais sentir-me pequena num mundo de gente que se faz maior do que aquilo que é. Não quero mais passar a vida envolvida neste mundo de aparências. Neste mundo de pessoas falsas. De pessoas que não dizem o que realmente sentem. Pessoas que falam com a cabeça mas nunca com o coração. 

Hoje acordei do avesso.

E hoje, só por mim, vou manter-me assim. 

As luzes da cidade

V de Viver, 27.05.20

As luzes brilham lá fora. A rua calma indica que o fim do dia se aproxima. Escurece, lá fora e dentro de mim. Nostalgia de fim de dia, todos os dias, desde sempre. Lusco-fusco que me preenche a alma e a memória. Risos, grilos, passáros, estrelas, céu, família, amor. Sempre e para sempre, para mim, o fim do dia será o culminar da felicidade e da saudade. A nostalgia escorre-me pelos olhos. No estômago um vazio. No peito um buraco em ferida. Saudades que me corroem a alma. Dores que nunca terão cura. Pessoas que partiram e das quais, jamais, deixarei de ter saudades. Avós. Sinónimo de amor, vida, cuidado, carinho, alegria. Sinónimo de tudo o que de melhor e mais feliz tive na minha vida. Olho, agora, as luzes da cidade que cintilam como pirilampos. Há algo na iluminação noturna da cidade que me faz recordar o Natal. E há, sempre houve, e tenho a certeza que sempre haverá, algo no final do dia que me faz chorar. Saudades. Gostava de vos falar do que significa para mim um final de dia de verão. Mas não tenho palavras para descrever. Afloram-me à memória risos de crianças felizes. Vozes de adultos a chamá-los, insistentemente, para a mesa. Risos. Felicidade e contos ao jantar. Silêncios pedidos pelo avô para poder ouvir as notícias na televisão. Susurros de crianças que não conseguem parar de falar embora queiram respeitar o pedido do avô. Baralhos de cartas depois do jantar. Pés descalços. Noites estreladas. O fresco ansiado da noite. Cadeiras dispostas na rua ou no quintal. Cabeças viradas para o céu. Olhos atentos nas estrelas. O avô a dizer-nos os nomes das constelações. A prever o tempo do dia seguinte. Saudades. Imensas saudades de tempos que jamais voltarão mas que continuam tão presentes na minha alma, na minha mente, no meu coração. Desconhecíamos que seriam aquelas noites, aqueles risos, aqueles contos, aqueles momentos, os mais felizes das nossas vidas. Aqueles que levaríamos a vida toda a recordar através de um cheiro, do cantar de um grilo, de uma brisa ou das luzes dos candeeiros da rua, como que por magia. Aqueles que nos assomariam à memória nos momentos menos oportunos, trazendo com eles lágrimas de saudade que preferiamos guardar lá dentro. Penso agora, mas não pela primeira vez, que erámos felizes e não sabíamos. 

De fugida...

V de Viver, 26.05.20

Pessoas queridas que me visitam, peço-vos desculpa. Tenho andado meio desaparecida, passando "de fugida" para fazer o post da frase do dia, e pouco mais. 

Têm sido tempos difíceis para a maioria de nós. No que me diz respeito, as últimas semanas foram, sem dúvida, uma correria desgraçada. Estou cansada. Física e psicológicamente. Mas nada grave. Espero. Mas com tanta coisa a acontecer acabo por não ter inspiração para escrever. Rabisco qualquer coisa no papel mas, sinceramente, nada de interessante ou que valha a pena ler. Desabafos apenas. Tal como este que vos escrevo da minha varanda. Aquele meu sítio. O meu "happy place". Vocês sabem. Sim, estou na velha cadeira de plástico que continua uma sobrevivente. Não sei se ela chega ao fim do verão, o que me deixa uma estúpida nostalgia! Mas, adiante, está um entardecer FANTÁSTICO! Sim, assim com maiúsculas e tudo. Sem vento, temperatura amena. Avisto o mar e todas as cores inerentes ao fim do dia. E é isto que me dá força para continuar. É isto que me faz agradecer por estar viva. Por estar cansada, até. Se estou cansada é porque a minha vida não foi, afinal, tão afectada pelo maldito virus. Não é que não tenha sido afectada, deixem-me ver se me explico, quero apenas dizer que não fui das pessoas que sofreu mais alterações no seu dia-a-dia. Porque afectar, de uma maneira ou de outra, isto afectou-nos a todos. Mas, enfim, passei por aqui mesmo para vos dizer que não me esqueci de vocês. Tenho mil e uma leituras de blogues maravilhosos para colocar em dia, e espero conseguir dedicar-me a essa prazerosa tarefa amanhã. Mas sem promessas. Espero que todos vocês estejam bem. Obrigada a quem foi passando por aqui, mesmo sem grande conteúdo para ler. Agradeço-vos do coração.

 

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