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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

E de repente

Já nos trinta

V de Viver, 27.11.20

nikhita-singhal-k8y9HrzonOQ-unsplash.jpg(Fotografia: @nikhita)

Trinta.

Trinta anos. 

Hoje completo o meu trigésimo aniversário. E não consigo deixar de pensar em como os mais velhos tinham razão quando diziam: "o tempo passa a correr". Assim como não consigo evitar lembrar-me que, há uns anos atrás, uma pessoa com trinta anos para mim já era velha!  Quando somos crianças achamos que o seremos para sempre. 

Mas não somos. Felizmente. A vida passa, o tempo corre e nós temos que seguir com ele. Ou tentando acompanha-lo. 

São trinta anos de lutas e desafios, como qualquer um de nós. Trinta anos vividos, não sei se da melhor forma que existe mas com certeza da melhor forma que consegui. 

Não consigo evitar pensar que não estou exatamente onde me imaginava com trinta anos. Não, não estou. 

Não conquistei tudo o que queria conquistar, não tenho tudo o que queria ter, nem tenho comigo todos aqueles que gostaria de ter. Mas sei, com toda a certeza, que fiz o melhor que pude com aquilo que tinha. 

Não fui a mais feliz, nem a mais saudável, nem a mais inteligente, nem a mais forte ou a mais conquistadora. Não fui a mais fit, a mais rica nem a mais bonita. Mas fui, disso tenho a certeza, eu mesma. 

Hoje posso, finalmente, dizer que me aceito. Que aceito a minha história, que aceito o meu corpo, que aceito a pessoa em que me tornei. Posso também dizer que me orgulho de ser quem sou. E, acredito, esta deve ser uma das mais notáveis conquistas de qualquer ser humano. 

Posso não estar onde queria, nem como queria, nem sequer com quem queria. Mas vivo com a certeza de que fiz o que pude para estar onde estou. Vivo com a certeza de que temos aquilo que achamos que merecemos, de que só nós nos podemos levar onde queremos e de que a nossa vida só depende de nós. 

Que a entrada nos famosos "intas" me traga sabedoria para lidar com a vida, com as pessoas e comigo mesma. Que eu seja sempre capaz de me levantar a cada queda porque, com certeza, elas continuarão a existir. Que tenha sempre a capacidade de sorrir, e de ver o lado positivo de cada situação. E que nunca deixe de sonhar. Enquanto houver sonho haverá vida e vontade de vive-la.

Parabéns para mim!

Permuta de dores

V de Viver, 24.11.20

Existem dores que nos sufocam. Por vezes não sabemos de onde vêm. Outras vezes sabemos, mas fingimos não saber. Será que podemos usar uma dor para sufocar outra? Ah, sim. Podemos. Podemos e fazêmo-lo muitas vezes. Bem, pelo menos eu faço. Descobri não há muito tempo que existe um escape para os dias maus. Aqueles em que tudo está escuro. Em que, aparentemente está tudo bem, mas não por dentro. Não no interior. E, afinal de contas, se o interior estiver inquieto como pode o exterior estar em paz? Mas agora sei o que fazer para acabar com aqueles pensamentos que me sufocam. Que me envolvem a mente, que me querem fazer acreditar que nunca vou conseguir ir mais além, que nunca vou ser ninguém, que nunca serei quem quero ser. Sim. Agora sei. Levanto-me do sofá. Visto umas legging's, uma blusa, calço os ténis. Ligo a música. Bem alto. Se a música estiver alta os problemas ficam em silêncio. Ou, pelo menos, não os ouço nitidamente. Começo a treinar. Alongamentos para evitar dores depois. Evitar dores? Mas não é para isso que eu treino? Sofrer para esquecer o sofrimento. São dores. O significado da palavra pode ser o mesmo. Mas a dor é diferente. Começo agora a treinar com alguma intensidade. Começo a sentir a respiração a ficar pesada. Os músculos começam a aquecer. Sinto dores ligeiras nas pernas. Ainda não calei os pensamentos. Aumento a intensidade. Aumento mais. E mais. E mais. Agora já não consigo respirar de forma fluída. O peito começa a pesar. O coração salta. Os músculos doem. As pernas tremem. A música toca, estridente nas colunas. Será que incomodo os vizinhos? Não quero saber. Preciso de barulho para poder ficar em silêncio. E são apenas alguns minutos. Acelero mais. O relógio apita. Informa que os níveis de pulsação estão elevados. Agora estou a chegar ao meu limite. Não paro. Só mais uma série. Os músculos ardem. Os braços não aguentam mais o peso do corpo. O suor escorre por todo o meu corpo. A música grita. Eu salto. Está quase. Está quase. Não ouço mais nada. Sinto dores em todos os músculos do corpo. Até naqueles que nem sabia que existiam. Mas doem. Ardem. E assim, outras coisas deixam de doer. Afinal, podemos sim procurar dores para suprimir outras dores. Podemos sim! 

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