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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Ainda bem...

V de Viver, 25.02.21

Já dizia Clarice Lispector: 

"Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas."

Quando passamos por períodos conturbados na nossa vida é difícil ver a vida de forma positiva. Frequentemente só conseguimos ver o que está mal, tudo sem cor e sem expectativas para o futuro. 

Contudo, é bom que mesmo nesses momentos, sobretudo nesses momentos, tenhamos consciência que tudo passa. "O tempo cura tudo" é um cliché dos diabos. E nas nossas piores fases é chato ouvir quem nos rodeia dize-lo. Mas é, de facto, algo que se aproxima muito da verdade. E digo isto porque há dores que o tempo não cura. Dores profundas que nunca saram. Contudo, é verdade que com o passar do tempo elas amenizam. Deixam de doer tanto. Por vezes, de um dia para o outro, aprendemos a lidar com essa dor. Mas não foi a dor que desapareceu. Fomos nós que criámos uma forma de lidar com ela. Uma forma de a diminuir dentro de nós, de conviver diariamente com ela sem que nos seja tão dolorosa como antes. 

É importante que nunca nos esqueçamos que, realmente, sempre existe outro dia.

É verdade, sim, que sempre existem outros sonhos.

Assim como é verdade que sempre existem outros risos. E outras pessoas. E até outras coisas.

Não podemos deixar de ter esperança num amanhã melhor. Não podemos deixar que a dor nos consuma. Nos corroa. Por maior que seja o nosso problema a solução passa sempre por nos amar-mos e respeitar-mos a nós próprios. Acreditando sempre que existe, sim, um futuro. Por muito longínqua e inalcançável que nos pareça estar a felicidade, ela acaba sempre por chegar. 

Dias

V de Viver, 05.02.21

As coisas acabam, a vida muda e tu segues em frente.

Mas ainda haverão dias em que choras. Dias em que olhas pela janela, vês a chuva cair e lembras-te de momentos. Dias em que ouves uma música e as lágrimas aparecem sem aviso. Dias em que um cheiro chega até ti, sem perceberes de onde, para te recordar de dias felizes. Dias em que acordas sem perceber o porquê das coisas terem sido como foram. Em que te deitas com a sensação de que te falta um pedaço. Dias em que te lembrarás de todas as lutas e te perguntarás para que serviram, afinal. Existirão dias em que nem o sol te conseguirá aquecer. Dias em que nem o frio invernoso lá fora será superior ao que sentes por dentro. Dias em que nem o mar te acalmará o coração. Nem a chuva te limpará a alma. Nem a música, por mais alta que a ouças, te calará os pensamentos. Dias em que, por muita força que tenhas, as pernas te irão fraquejar. Em que sentirás o coração a despedaçar-se, de novo, só por causa de uma lembrança. Dias em que só queres estar deitada, ouvindo músicas tristes e deixando as lágrimas cair livremente. Dias demasiado cinzentos, em que não conseguirás ver cor em nada. Em que, por muito que tenhas a agradecer, só conseguirás ver o que te falta. Dias em que a recordação será mais forte do que a vontade de esquecer. Dias em que a tua força não será a mesma. Dias em que te vês deitada no chão, agarrada a lembranças, e à dor do que poderia ter sido e não foi. Dias em que beberás essas lágrimas que, em tantos outros dias, consegues evitar. Dias em que te sentes completamente destruída, sem força e sem esperança num amanhã melhor. Dias em que te sentes absolutamente sozinha. Em que não consegues imaginar que, um dia, ainda serás muito feliz. Dias de absoluta tristeza e dor.

A única coisa que podes e deves fazer nesses dias é aceita-los. Aceitar a dor. Deixar doer. E ter a certeza de que, no próximo dia, as coisas serão melhores. Que a vida voltará a sorrir e o sol voltará a brilhar. 

Porque nunca nada dói para sempre com a mesma intensidade. Um dia irá doer menos. E no outro, sem que nada o previsse, saberás lidar perfeitamente com essa dor. 

Repara que eu não disse que ela iria embora. Não vai. Mas, um dia, fica muito mais fácil conviver com ela.

Excertos que me tocaram a alma #18

V de Viver, 03.02.21

"É comum, em momentos difíceis, as pessoas dizerem que o tempo cura todas as feridas. Conversa fiada. Na verdade, você fica arrasado, se entrega ao sofrimento e chora até achar que não vai conseguir parar nunca mais, e então chega a um ponto em que o instinto de sobrevivência assume o controlo. E você pára. Simplesmente não quer nem consegue se permitir mais "entrar em contato" com a dor, porque ela é grande demais. Você a bloqueia. Você a renega. Mas na verdade não se cura"

 

Harlan Coben , Alta Tensão

Lembra-te de ti

V de Viver, 01.02.21

Quando nada correr bem. 

Lembra-te de ti. 

Quando o dia estiver a ser mau, fazendo-te pensar que o mundo não é um bom lugar.

Lembra-te de ti.

Quando as lágrimas teimarem em cair, como uma tempestade que veio sem aviso. 

Lembra-te de ti.

Quando tiveres vontade de desistir, de deitar tudo ao ar, e fugir.

Lembra-te de ti.

Quando a dor no peito for maior que tudo o resto.

Lembra-te de ti.

Quando o dia estiver escuro, lá fora e dentro de ti.

Lembra-te de ti.

Quando não tiveres mais ninguém. Mas também quando tiveres.

Lembra-te de ti. 

Quando não souberes qual é o caminho.

Lembra-te de ti.

Quando a vida parecer dificil, dura e triste.

Lembra-te de ti.

És tu, sempre foste tu e sempre serás tu. Tu e apenas tu. Foste tu que te trouxes-te até aqui. E serás tu a levar-te, sempre, seja onde for que vás. 

Por isso, hoje e sempre: lembra-te de ti.