Outubro. Outono. Outro ciclo. Outra mudança de pele.
Dor. Cura.
Podemos curar sem dor, mas acredito que curamos mais profundamente através dela. Suportando a dor. Olhando para ela de frente.
Pode ser perigoso olhar para a dor se a encararmos durante muito tempo sem falar com ela. Mas se lhe sussurrarmos ao ouvido, se a acolhermos dentro de nós, se a cuidarmos, acredito que nos podemos curar.
O último ano tem sido duro. Mas tem sido também de muito crescimento. Mudei a cada dia. Senti-me, mesmo, a mudar a cada dia. Sentimentos bipolares, eu diria. Hoje estava bem, amanhã mal. Num minuto sorria no seguinte chorava.
Submersa.
Durante muito tempo não consegui respirar direito. Como se um gigante me pisasse o peito, doía, o ar passava a muito custo.
Percebi então que toda a dor é necessária ao nosso crescimento. Que cada lágrima pode ser usada como um degrau para emergir. Que cada situação nos trás sabedoria. Que crescer dói, sim. Mas é tão bom!
Olho para quem era há um ano atrás, e tanta coisa mudou. As dores não são mais as mesmas, e aquilo que me faz feliz também não. O que ontem era, hoje já não é. Coisas importantes tornam-se insignificantes quando comparadas com outras. A vida é curta e é dura. E só temos uma coisa a fazer: ser mais dura que ela. Mas sem perder a ternura. Espero não perder a minha.
Sinto-me fria. Muito mais fria do que era há um ano atrás. Continuo a sorrir, mas já não sorrio tanto. Continuo a confiar, mas já não confio tanto. Continuo a sentir, mas já não sinto tanto. E é esta última a que mais me assusta. Tenho medo. Medo de deixar de sentir. Medo de não voltar a amar como já amei. Medo de não me conseguir entregar como já me entreguei. Medo de não voltar a sorrir como já sorri.
Mas estou bem. Acreditem, estou muito melhor do que estava há uns meses atrás. Aprendi que a dor, por mais que doa, não nos mata. Por mais que as pessoas nos possam arrancar um bocado, não conseguem nunca levar tudo. E que, no fundo, elas só nos levam algo se nós o permitirmos.
Mas mesmo assim, sou outra. Não sou a mesma de há um ano atrás, nem de há um mês atrás, nem, para ser totalmente sincera, de há um paragrafo atrás. Estou em constante mudança. E as palavras saem-me, ultimamente, assim em enxurradas nem sempre com sentido. Mas são sentidas. E é por isso que eu escrevo. Para me permitir sentir. Porque é sempre na escrita que me permito sentir. Que me perco e que me encontro. É a melhor terapia. Olhar para dentro e escrever: qualquer um que consiga fazer isto conseguirá curar-se.