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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Gostava que me tivessem dito...

V de Viver, 06.04.22

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Foi ainda agora enquanto bebia café na varanda da minha casa. 

Aquela sensação de que tudo está no sitio. De que não me falta nada. É rara esta sensação em mim, quase sempre sinto que me falta algo.

Mas quanto mais me conheço, quanto mais olho para dentro de mim, mais consciente fico de que não me falta nada. Tenho em mim tudo o que preciso para ser feliz. Hoje sei que ninguém, além de mim, me pode fazer feliz. Mas sei também que a vida é cíclica e que nós mulheres somos mais ainda. Todos os meses, todos os dias da nossa vida, lidamos com mil e uma emoções. As alterações de humor são constantes mas acredito que se quisermos podemos aprender a lidar com elas. O primeiro passo e o mais importante é aceitar. Aceitar o que estamos a sentir. Depois perceber de onde isso vem.

A nossa mente, consciente e inconsciente, é um mundo inteiro. Nem sempre é fácil lidar com tudo aquilo que somos mas isso é bom. É sinal que somos muito. Hoje não duvido disso. A partir de hoje (desde há uns tempos, felizmente!) não permito que me digam que sou menos, que sou pouco. Não sou.

Não é a minha aparência, é a minha essência que faz de mim quem eu sou.

Porque eu não sou o meu corpo. Quem me dera ter aprendido isto antes. Sinto que deixei de viver muita coisa boa por causa da minha aparência. Por vergonha do meu corpo, de mim. Por achar que nenhuma roupa me ficava bem. Por ter acreditado quando me diziam (e dizem) que sou gorda. Gorda comparada com o quê ou com quem? - pergunto hoje em dia quando me dizem que estou gorda. Estou, não sou. Percebem a diferença?

Gostava que esta mensagem chegasse a muitas jovens, adolescentes, crianças, mulheres e homens por todo o mundo. Porque eu gostava que me tivessem dito isto muitas vezes: Tu não és o teu corpo!

Tive que aprender sozinha, aprender pela dor. A vida era tão mais bonita se aprendessemos pelo amor ao invés de aprendermos pela dor. Mas tudo é um constante processo. A vida é um processo. Nós e o nosso crescimento somos um processo. E viver o processo é tão bom. Acreditar no processo. Acreditar que nunca nada é para sempre. Que o que hoje nos parece um enorme problema amanhã, ou até daqui a pouco, já não é nada.

Tudo passa. Duas palavras e um significado gigantesco. Tudo passa.

Tenham sempre a certeza disso. 

Fotografia:@jacksondavid

Gratidão à chuva

V de Viver, 05.04.22

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Aconteceu hoje quando saí do ginásio. Quando fui para lá o dia estava escuro, mas não chovia. Quando saí estava a chover e eu fui a pé, sem guarda chuva. E foi ao vir para casa à chuva que senti. Uma enorme gratidão. Gratidão pela chuva que me caía no rosto. Gratidão por estar viva. Por ter uma casa para onde voltar. Nesse momento passou por mim de mota um senhor que trabalha na entrega de comida. E mais uma vez apoderou-se de mim uma enorme gratidão por não ter que trabalhar debaixo de chuva (na maioria das vezes pelo menos!). 

Continuei o meu caminho em direcção à minha casa e senti-me feliz. Feliz por ter crescido, por ter amadurecido, por conseguir perceber, hoje, que todas as situações e pessoas que passaram na minha vida tinham um propósito. Tudo aconteceu por um motivo e cada vez tenho mais a certeza disso.

Segui o meu caminho sentido-me grata pelos tombos que dei na vida, de verdade. Porque todos me ensinaram algo, porque foram eles que me transformaram na pessoa que sou hoje. E, acreditem, eu orgulho-me muito de quem sou. Orgulho-me muito do meu crescimento e das minhas conquistas. 

Já encharcada pela chuva entro no prédio e, no elevador, ao dar com os olhos no meu reflexo agradeço-me por não ter desistido. Por fazer todos os dias o que tem que ser feito para chegar onde quero. Para ser quem quero ser. Agradeço-me por continuar a lutar todos os dias. Por ter chorado mas ter persistido sempre. Olhei para o espelho do elevador uma última vez antes de sair no meu andar. E vi. Vi a mulher que quero ser. A mulher que me orgulho de ser. E senti-me grata mais uma vez. Grata pela minha história desde o dia em que nasci. Hoje sei que tudo aconteceu como tinha que acontecer. 

Se tivesse que escolher uma palavra para o dia de hoje seria gratidão. Usada em demasia ultimamente, talvez. Mas hoje é a que faz mais sentido.

PS: também poderia ser amor-próprio!