Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Todos os dias penso em voltar

V de Viver, 02.05.24

Todos! E nem estou a exagerar. Tenho saudades de escrever, de ler os comentários de quem me lê, de ler-vos e falar convosco. 

Estou numa nova e desconhecida fase da minha vida. Estou feliz. Mas há dias em que já nem sei quem sou. 

Muita coisa mudou desde o inicio do ano. Muitos sonhos se tornaram realidade, muitos objectivos já foram cumpridos. E isso, no fundo, ainda me deixa mais perturbada pelo estado de espírito em que acordo alguns dias. Não me falta nada. A serio que não. Mas aprendi que, mesmo quando não nos falta nada, podemos ter dias cinzentos. Dias confusos. 

Já passei por várias mortes e renascimentos da minha pessoa. Aprendi e evoluí com todas. E sei, tenho a certeza, que desta vez não será diferente. Mas é difícil lidar com tudo aquilo que sinto, com todos os pensamentos que me passam pela cabeça. Há momentos em que me vejo assoberbada entre o "tenho que" e o "não quero". Há dias em que me olho ao espelho e já não me reconheço. 

A minha energia anda muito em baixo. Estou saudável, mas sinto-me letárgica. "É só uma fase" é a frase que mais me digo todos os dias. E é. Sei que sim, já tive outras e bem piores. 

Se aprendi alguma coisa ao longo da minha vida é que somos sempre maiores que os problemas, questões e situações que nos assolam. Que todos os dias maus são seguidos de dias bons. Que em todas as minhas piores fases encontrei a força para renascer uma nova mulher. 

Volto a repetir [mais para mim do que para quem me lê!]: estou feliz. Sou feliz. Mas em todas as fases são necessários dias assim. E esta não é excepção. 

Despeço-me com o desejo de cá vir mais vezes. De voltar a escrever e a ler-vos como antes. Mas nunca posso prometer porque, principalmente agora, o que hoje é amanhã pode não ser.

Um grande beijinho a todos. Espero muito que todos se encontrem bem!

V.

De todas as minhas preocupações

V de Viver, 14.03.24

De todos os meus receios poucos foram os que se concretizaram. De todas as minhas preocupações poucas foram as que se mostraram fundadas. 

Preocupamos-nos demais, pensamos demais, vivemos acelerados demais. Sofremos por antecedência, choramos antes da tragédia e, na maioria das vezes felizmente, a tragédia não chega. 

É fácil falar: "vive sem stress", "deixa a vida acontecer". Clichés. Que devíamos usar à regra. 

Os dias passam, as semanas correm e os meses são como o vento. E todos os nossos anseios, no fim, só serviram para nos perturbar. 

Podemos mudar isto? Talvez. É difícil explicar a ansiedade, mas ela nem sempre tem que ser uma coisa negativa. Alguma ansiedade é necessária para que não corramos riscos inúteis. O medo faz parte da vida e devemos aceita-lo. Só não devemos permitir que nos cegue. Que nos molde e nos diminua. Há que agir, sim, apesar do medo. E sim, é precisamente isso a coragem. 

Somos muito mais corajosos do que imaginamos. Basta que ela seja precisa para que nos apercebamos da força que temos, do que somos realmente feitos. 

A minha maior coragem na vida foi não desistir. Apesar do medo, da desilusão, dos fracassos, dos erros (que no fundo foram apenas aprendizagem) continuei sempre a acreditar que era possível. Que existia uma vida maravilhosa para lá do medo.

E há. 

Acreditem tanto como eu acreditei. Os nossos sonhos estão mais perto de nós do que aquilo que podemos imaginar. Os nossos maiores anseios raramente têm fundamento. Não desistam de sonhar, nem de acreditar num amanhã melhor. Semeiem as vossas plantas da melhor forma possível e desse modo nunca terão que temer a colheita. Porque ela chega meus amigos, tarde ou cedo tudo o que plantamos dará frutos. 

Foi só aos 33

V de Viver, 05.12.23

Cresci a achar que era insuficiente. Que fazia tudo errado. Que era por isso que o meu pai não me queria. Porque eu era um erro. Que tinha estragado a vida da minha mãe. 

Cresci a ver erros em tudo o que eu era. O meu corpo era horrível e eu odiava-o. Não era suficientemente inteligente. As minhas amigas vestiam-se melhor. A minha família era disfuncional. Não tinha tinha dinheiro para estudar, logo nunca seria ninguém. 

Cresci e sujeitei-me a relações de merda. Corri atrás de homens que não me queriam. Chorei por eles. Envolvi-me com pessoas indisponíveis por variadíssimas razões. Metia os outros num pedestal, todos eram melhores e mais importantes que eu. 

Cresci a achar-me incapaz. Na minha cabeça eu não conseguia nada. Assustava-me fazer qualquer coisa diferente do que estava habituada. Achava-me pequena para fazer grandes coisas. 

Cresci a procurar validação. Queria que me dissessem que eu era suficiente. Que era boa. Agradava os outros, muitas vezes desagradando-me a mim, porque queria ser aceite. Queria ser gostada.

Cresci a achar que era uma porcaria. Que nunca iria ter uma relação saudável. Que não merecia a vida. Que o meu pai estava certo em não me querer. Que realmente eu tinha estragado a vida da minha mãe ao nascer. 

Cresci a comer demais. Comia as minhas emoções, engordava cada vez mais, comia mais e mais para me sentir melhor, porque já estava horrível, por isso tanto fazia. Odiava-me e odiava o meu corpo.

Cresci a investir energia nos outros. A sentir tanta rejeição em mim, por mim, que me doía até à alma.

Autodestruí-me tantas vezes. Menosprezei-me. Rejeitei-me. 

E só agora percebi.

Que eu sou suficiente. Que se eu não me amar ninguém me amará, mas que isso nem tem importância porque sou eu quem precisa de me amar. 

Que me devia ter sempre tratado como tratava os outros. Que fui sempre muito boa para todos, menos para mim. Que devia amar-me tanto como amava os outros.

Que o amor encontranos quando nos amamos.

Que o meu corpo nunca teve nada de errado. Que um corpo é só um corpo e que se o tratar com amor e respeito ele ficará bem por si só. 

Que me devia admirar a mim. Mais do que a todos os outros. 

Que preocupar-me comigo não é egoísmo. É necessário. 

Que o que eu quero deve estar em primeiro lugar. Que alcançar os meus objectivos é a melhor sensação da vida. Que me fortalece lutar pelo que quero e que, mesmo que seja dificil, nunca devo desistir de lutar pelos meus sonhos. 

Que eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Que eu tenho que me admirar todos os dias da minha vida. Que tenho que me preocupar comigo desde que acordo até que me deito.

Que eu sou digna do meu tempo, da minha atenção. Que o melhor investimento que posso fazer é sempre em mim. 

Que ninguém é mais importante que eu. E sim, eu sei, se tu que estás a ler isto tiveres filhos estás a pensar que eles são. Eu não tenho filhos. Acredito que eles sejam, sim, a coisa mais importante da nossa vida. O que eu não acredito é que não tenha que me amar a mim primeiro. Porquê? Porque eu sei (isto eu sei bem demais) que se eu não me amar e cuidar a mim primeiro eu não consigo amar e cuidar aos outros de forma saudável. 

Hoje eu sei isto tudo. Nem sempre soube. Levei anos a construir esta forma de pensar e de viver. 

Foram anos de autodestruição. De falta de autoestima e de amor próprio. De achar que não merecia nada, que era insuficiente.

Só hoje. Apenas hoje posso dizer com toda a certeza que me amo. Que sou importante. Que a minha vida vale a pena. Que sou digna de amor. 

Por isso decidi escrever este texto. Porque talvez tu também te sintas como eu me senti. E, se for esse o caso, eu queria que soubesses que não estás sozinha. Não és só tu quem se sente assim no mundo. Nem sequer só tu e eu. Infelizmente há imensa gente a passar pelo mesmo. A noticia boa? É que todos nós temos o poder de mudar isso. 

Eu sou suficiente. Tu és suficiente.

Eu sou merecedora de amor. E tu também és. 

Temos em nós tudo aquilo que precisamos. E quando descobrimos isso a nossa vida muda completamente.

Acredita em ti. Ama-te. Procura sempre o teu desenvolvimento pessoal. E nunca, jamais, coloques os outros num pedestal. Ninguém é melhor do que tu. Ninguém merece mais o teu amor do que tu. 

Foi só aos 33 que eu descobri isto. 

Nunca é tarde.

Está tudo bem em não estar tudo bem

V de Viver, 29.08.23

Há meses que não venho escrever por aqui. Nunca deixei de escrever porque é a minha terapia, embora tenha alturas em que escrevo diariamente e outras em que só o faço esporadicamente. 

Não houve nenhum motivo para deixar de escrever aqui. Continuo a achar o mundo dos blogues fascinante. Adoro vir aqui de tempos a tempos e ler o que as pessoas que sigo escreveram. Ver que estão vivas sobretudo. Ter "noticias" delas. 

Acho que é também por isso que por vezes volto. Para dar sinais de vida.

Vida essa que segue. Vou tentando dar o meu melhor todos os dias. Sou incapaz de escrever tudo o que me tem acontecido este ano de 2023 num texto só. Têm sido muitas coisas. A maioria coisas boas. A maioria dos dias têm sido bons, embora eu sinta que não tenho dado o máximo. Que não tenho usado o máximo do meu potencial. 

Claro que eu sei que o nosso melhor é diferente todos os dias. Mas sinto que não tenho estado a dar tudo. Sinto-me cansada, às vezes. Sinto que durante algum tempo me exigi demais e que agora o meu corpo e a minha mente querem abrandar. 

Ainda sou jovem. Mas às vezes acho que comecei a viver (verdadeiramente) muito tarde. Então não é coisa rara na minha vida sentir que me falta tempo. Que deveria acontecer tudo "para ontem" na minha vida.

Sinto-me grata na maioria dos dias. E naqueles dias, como hoje, em que acordo sem energia, sem vontade de fazer absolutamente nada, tento respeitar-me, não me exigir demais e agradecer por ter acordado (visto que não consigo ver mais nada de bom no momento!) 

Não tenho nada de que me queixar. A vida segue e tem sido um bom ano. Mas mesmo assim a minha insatisfação e julgamento acompanham-me: devias ter ido treinar; devias ter comido melhor; andas a comer mal e não alimentas o corpo com os nutrientes que ele precisa; devias ter arrumado a casa em vez de ficares no sofá; devias manter consistência no treino...enfim, todas estas frases fazem, por vezes, parte do meu discurso.

Talvez seja normal. Talvez todos nós tenhamos sido ensinados a cobrar-se demais, a exigir muito de nós. Não digo que seja errado exigir de nós. Mas sei que é preciso ter cautela para não cairmos no erro do exagero. Como em tudo na vida é preciso equilíbrio. Entre o fazer e o apenas ser.

Sim, há dias em que me apetece apenas existir. E está tudo bem.

O meu melhor nunca é o mesmo. E está tudo bem.

Nem sempre consigo fazer o que tem que ser feito. E está tudo bem.

Que consigamos ser tão nossas amigas como somos das nossas melhores amigas. Que nos julguemos menos pelos dias menos bons. A vida é feita de fases e devemos respeitar cada fase nossa.

Claro que escrevi isto para vocês. Mas mentiria se vos dissesse que não o fiz mais para mim. Há dias em que só preciso de me ouvir a dizer que está tudo bem em não estar tudo bem.

 

 

Esperança e Gratidão

V de Viver, 08.05.23

Sentada na minha praia venho só agradecer. Porque é normal reclamar, ver e sentir o que nos falta, mas é raro termos a lembrança de agradecer. Não trouxe papel e caneta por isso escrevo mesmo no telemóvel embora não me dê o mesmo prazer.

Mas sinto que preciso agradecer pelo caos dos últimos dias. Foram quase três semanas de alguma instabilidade emocional mas ao mesmo tempo de muita esperança e muito amor.

 

Foram semanas com tragédias ao meu redor, não comigo directamente, mas muito perto. Tragédias que me fazem pensar na vida e na sua impermanência. Dias que me lembram que hoje estamos aqui e está tudo bem, mas amanhã não sabemos. A vida é muito curta. A nossa cabeça às vezes prega-nos partidas. Momentos que só quem passa por eles poderá compreender, momentos que levam a atitudes incompreensíveis. A vida é injusta, é dura, mas quer sempre ensinar-nos algo. Infelizmente como digo sempre, aprendemos mais rápido pela dor que pelo amor.

 

E por falar em amor. Também é isso que tenho que agradecer hoje. Pelo amor que a vida me trouxe. Ou parece que trouxe [gato escaldado de água fria tem medo]. Mas se ele soubesse o quanto já significa para mim. O quanto me tem feito bem. O medo de dar mais do que recebo e desequilibrar isto é algo recorrente na minha mente. Gosto dele. Gosto muito em pouco tempo. Mas não dependo dele. Sei que a minha vida continua sem ele. Só lhe desejo o melhor. Talvez seja cedo para falar em amor. Ou talvez seja isto o amor.

 

Quero também agradecer à vida pelas oportunidades que me tem apresentado. Pelos caminhos que me tem aberto, ou talvez seja eu quem os tem ido abrindo. Não sei. Mas mesmo assim quero agradecer. Agradecer por estar a chegar aos lugares que sempre quis. Agradecer por estar a viver uma fase em que, embora esteja instável, estou esperançosa.

A esperança tem feito parte da minha vida, principalmente nos últimos anos.

Mas há pessoas e oportunidades que são a própria esperança. E neste momento, tanto a nível pessoal como profissional, é a esperança que me guia os passos. A esperança em ter uma vida melhor. A esperança em ter uma vida com amor. A esperança em realizar mais um punhado de sonhos. É por e para isto que eu vivo. Sempre foi para isto que vivi mas nem sempre o soube. Sinto que o meu propósito nesta vida é realizar todos os meus sonhos. Sinto também que nunca vou parar de sonhar. Mas não vejo isto com maus olhos, nem como ambição a mais. Vejo isto como a razão do meu viver. Ser feliz. Fazer os outros felizes. A vida conspira a favor de quem não conspira contra ninguém. E a força do nosso desejo pode sim mover montanhas. Se ao desejo juntarmos fé e dedicação, eu acredito que podemos conquistar o mundo.

 

Não sei onde a vida me levará amanhã. Mas sei que hoje sou grata e feliz por onde ela já me trouxe. Por onde os meus pés já me trouxeram. Fui eu que me trouxe até aqui. Fui eu que desejei tudo isto com tanta força que acabei por consegui-lo. Espero eu. É assim que gosto de ver. É assim que quero ver. A vida está a meu favor. A vida está a favor de todos nós. Só temos que acreditar muito nisto. Mesmo nos dias mais difíceis, talvez ainda mais nesses.

 

Que nunca percamos a esperança de um amanhã melhor. Que nunca deixemos de sonhar nem de acreditar que é possível. Porque tudo é possível. Podemos ter tudo sim. Talvez não tudo de uma vez. Mas podemos ter tudo, e geralmente esse tudo está dentro de nós.  

 


 

É o amor que faz girar o mundo

V de Viver, 13.02.23

Não gosto muito de dias sem sol. Deixam-me nostálgica. Fico pensativa, introspectiva e com menos energia. Fico, quase literalmente, da cor do dia. Cinzenta. Estava ainda agora a ler um romance, mas fazia-o sem grande entusiasmo, honestamente. "O Livros dos Dois Caminhos", da grande escritora Jodi Picoult, lá porque estou com pouco entusiasmo não faz do livro menos bom.

Curiosamente há uns anos só lia romances. Hoje levo tempo para ler um e já não o faço com o mesmo encantamento. Ainda acredito no amor. Sim, continuo a acreditar que é possível amar e ser amado. Continuo a dar amor a quem se cruza no meu caminho. Mesmo aos que, claramente, não chegam com essa intenção. Mas isso é só mais uma prova de que não controlamos nada, só podemos controlar a forma como reagimos às diversas situações da vida. 

Às vezes tenho a mente tão assoberbada de ideias que me custa escrever. Como hoje, como agora. Nestes dias a minha escrita torna-se confusa. Começo a escrever por um motivo mas as ideias surgem umas atrás das outras, a empurrarem-se para abrir caminho para ver qual chega primeiro ao papel. Geralmente nestes dias não sei o que sinto. Por vezes não sei o que quero. Nestes dias costumo dar-me espaço apenas para existir. Não me exigir muito. Afinal de contas se até a natureza tem dias cinzentos, de sombra, porque não haveria eu de poder tê-los? Tenho calor, curiosamente. Estão 13º lá fora e há pouco estava gelada. Às vezes sinto-me gelada. E sozinha. Quase como se uma coisa levasse à outra. Mas na maioria dos dias gosto e prezo a minha solidão. Solitude. Não sei bem. Mas aprendi, realmente, a apreciar a minha própria companhia. Na maioria dos dias. 

No fundo sou grata a estes dias cinza. Estes dias que me fazem lembrar que nem todos os dias precisamos de estar a 100%. Que o nosso melhor pode ser diferente todos os dias da nossa vida.

Gosto de sentir que aprendo todos os dias alguma coisa. A sabedoria e o conhecimento sempre me cativaram. E quanto mais velha fico mais vontade sinto de aprender. Não necessariamente sobre outros ou sobre algo em especifico. Mas sobre mim. Adoro esta sensação de que me conheço perfeitamente. Esta sensação de que sou a única pessoa no mundo capaz de me perceber, de me amar, de me dar aquilo que quero, que preciso e que procuro. 

Esta percepção de solidão que me trás a sensação de que não preciso de ninguém. De que me basto. De que me tenho a mim mesma e que isso já significa ter o mundo. Ser o mundo. O meu mundo. 

O sol aparece por entre as núvens de vez em quando. Esforça-se por aparecer, por se manter visivel. Por vezes todos nós somos sol. Esforçando-nos para acordar, para sair da cama, para fazer o que tem que ser feito. Mas é bom ser como o sol. Saber que mesmo quando não brilhamos ainda estamos aqui. Dentro de nós mesmos há uma luz que nunca se apaga. Até ao dia em que se apagará para sempre. Mas, não sei porquê, acho que mesmo nesse dia a nossa luz se manterá a brilhar. Enquanto formos lembrados pelos que nos amam, por aqueles cujas vidas conseguimos tocar de uma forma ou de outra. O que me recorda que é o amor. É sempre o amor a chave de tudo nesta vida. É e será sempre o amor que manterá as pessoas vivas. Que manterá o mundo a girar. Sim, é o amor que faz girar o mundo. O amor que sentimos pelos outros. Mas também o amor que sentimos por nós mesmos. E seja qual for o tipo de amor, o importante é que nunca o deixemos morrer. Porque enquanto existir amor as engrenagens da vida continuam a girar, o tempo continua a correr e nós continuaremos vivos. Aqui, ou onde quer que estejamos. Será sempre o amor.

Que nunca nos esqueçamos disso. 

A solitude de domingo

V de Viver, 12.02.23

Junto à janela a beber o meu café depois do almoço apoderasse de mim uma sensação incrível e inexplicável de bem estar. 

Este equilíbrio que eu encontrei. Esta paz que eu conquistei. O amor que sinto por mim, aquele que sempre dei aos outros na esperança de o receber na mesma medida.

Encontrei na solidão a minha melhor companhia. Encontrei em mim aquilo que, durante quase toda a minha existência, achei que me faltava. O amor. 

Se poder deixar um conselho nestas linhas, nesta página onde tantas vezes escrevi o que sentia, onde tantas vezes bebi lágrimas enquanto os dedos tentavam acompanhar a mente, deixo o seguinte: nunca, em hipótese alguma, desistam de vocês. Nunca se abandonem, nunca se esqueçam dos vossos sonhos, dos vossos valores, dos vossos objectivos. 

A melhor coisa que fiz por mim até hoje foi conhecer-me verdadeiramente. Foi saber onde estavam as minhas dores, conhecer a causa delas, e o que podia com elas aprender. Acredito que tudo aquilo que nos acontece na vida tem um propósito. Acredito que todas as pessoas que cruzam o nosso caminho têm uma missão. Assim como acredito que também nós, aos nos cruzarmos nesses caminhos, temos uma missão. Nem sempre vamos compreender essa missão "de caras". Nem sempre vamos conseguir entender a missão do outro na nossa vida no momento em que o outro passa por nós, deixando-nos muitas vezes em pedaços.

É preciso amor. É preciso fé. É preciso acreditar. Acreditar que um dia tudo fará sentido. 

Por muito que nos doa, tudo passa. Tudo sempre passa, o bom e o mau. Porque nunca nada dura para sempre.

É isto que me vai no coração hoje. Nesta solitude de domingo. Mais um domingo sozinha, no meu lar, o meu porto seguro que tanto amo. Pode parecer-vos triste. Pode até ser realmente triste, dependendo da perspectiva. Mas se houve algo que a vida me ensinou foi a ver sempre o melhor lado das coisas. Talvez eu seja apenas uma positiva em excesso. Talvez seja uma sonhadora. Talvez. Mas foi assim que me consegui trazer até aqui. Até este espaço no tempo onde me amo, onde tenho a certeza que consigo enfrentar cada situação que a vida me apresente. Este espaço no tempo onde me orgulho imenso da pessoa que sou e do que fiz com as dores que a vida me trouxe. 

Porque com certeza não é sobre o que nos acontece. É sobre o que fazemos com aquilo que nos acontece. 

32

V de Viver, 27.11.22

wout-vanacker-l4HBYkURqvE-unsplash.jpg

Faço hoje trinta e dois anos de vida. Trinta e dois anos de altos e baixos. De sorrisos e lágrimas. De momentos bons e menos bons. Trinta e dois anos desta história que é a minha. 

Encontrei aquilo que sempre procurei. Paz. E encontrei onde menos esperava: dentro de mim.

Hoje sei que é dentro de nós que tudo existe. Que dentro de todos nós existe o bem e o mal. Que apenas temos que escolher qual dos dois lados queremos fazer sobressair na nossa vida. Que nem sempre o lado escolhido é o que se mostra mas que é no equilíbrio que está o segredo.

Hoje sei que é do lado de dentro que está a felicidade. Que não posso procurar nos outros aquilo que me falta. Que cada um dá o que tem. E que ninguém pode receber o que não dá.

Hoje sei que sou suficiente. Que me basto para ser feliz e que ninguém me pode completar porque não me falta nada. Eu sou inteira. 

Hoje sei que aceitar é a chave para chegar mais longe. Aceitar a nossa história. Aceitar os nossos pais e aquilo que eles nos deram, e também aquilo que nunca nos deram. Porque eles também têm uma história e que, tal como a minha é só minha, a deles é só deles.

Hoje sei que o amor próprio é o maior amor que podemos nutrir na nossa vida. Que se nos amarmos tudo à nossa volta muda. Que o amor é tudo e que existem milhares de tipos de amor. 

Hoje sei que as pessoas nos tratam como permitimos que nos tratem. Que a forma como nos amamos é como ensinamos os outros a amarem-nos. Que ninguém é permanente na nossa vida. E que amores e amigos vêm e vão, apenas a gente fica.

Hoje sei que nada é mais importante do que nos conhecermos a nós mesmos. Que toda a sabedoria vem daí, do auto conhecimento. 

Hoje sei que só nos abala aquilo que permitimos, que ninguém tem a força de nos tirar do nosso eixo.

Hoje sei que a vida é curta mas é boa. Que aquilo que nós procuramos também procura por nós. Que nada nem ninguém é por acaso na nossa vida. Que tudo o que aconteceu tinha que acontecer exactamente da forma que aconteceu. Que se formos a nossa prioridade tudo à nossa volta melhora. Que não devemos nada a ninguém e ninguém nos deve nada. 

Hoje sei que não prendemos ninguém por muito que exista amor. Que o caminho de cada um é individual e que quem chega à nossa vida nem sempre chega para ficar. Mas que todos, e quando digo todos refiro-me mesmo a todos, que aparecem na nossa vida trazem algo e levam algo.

Hoje sei que ninguém nos pode fazer tanto bem e tanto mal quanto nós próprios. Que a nossa vida só depende de nós. Que conseguimos, sim, tudo aquilo que queremos. Mas que aquilo que queremos não é permanente. E que está tudo bem em ser assim. Que todos estamos em constante evolução. Todos trilhamos caminhos diferentes mas todos com o mesmo propósito: viver a nossa vida à nossa maneira.

Hoje sei que o segredo para ser feliz é, realmente, ser feliz sem motivo. Que é nas pequenas coisas do dia a dia que a vida faz mais sentido. Que tudo é tão belo quanto a pessoa que o vê. Que não há certo ou errado porque as escolhas de cada um são exactamente isso, de cada um. Que a vida é muito melhor quando fazemos o bem e que quem planta o bem, cedo ou tarde colhe o bem de volta.

Hoje sei que a vida está a nosso favor e que quando temos a certeza do que plantamos não há como temer a colheita.

Hoje sei que tudo foi necessário para chegar onde estou. Todas as situações e pessoas que passaram na minha vida tiveram um propósito e sou-lhes, verdadeiramente, grata. 

Hoje sinto orgulho na mulher que me tornei e que continuo a lutar para ser. Mas trilho agora o meu caminho com muito mais paz do que antes. Com a certeza de que a vida sabe o que faz. 

Hoje sei que estou a viver a fase mais autêntica da minha vida. Que cada vez tenho menos medo do julgamento, que vivo para me agradar a mim e não aos outros como fiz durante tantos anos. 

Não podia deixar de partilhar tudo isto convosco. Vocês que me lêem, que me leram desde sempre, que souberam das minhas dores e das minhas mortes e renascimentos como mais ninguém. Vocês que sempre me leram nas fases menos boas, nos dias em que escrevia com as lágrimas a correr pelo rosto, nos dias em que a sombra se sobrepunha à luz. Vocês que, arrisco-me a dizer, me conhecem melhor que ninguém embora não conheçam o meu rosto. Conhecem a minha alma, acreditem. Por tudo isto, não podia deixar de vos agradecer. Porque também vocês fizeram, e fazem, parte desta viagem que é a minha vida. Deste caminho de encontro à minha melhor versão, de encontro à mulher que nasci para ser. Muito grata por vos ter por cá. 

Muito grata à vida por tudo o que passei, por tudo o que me ensinou e me levou a ser hoje esta mulher de trinta e dois anos de quem tanto me orgulho. 

Eu, tal como todos vós, já senti várias sensações ao longo da minha jornada. Mas nenhuma se assemelha a esta sensação de amarmos quem somos, de termos a certeza que estamos no caminho certo, de olhar para trás e ver que tudo o que aconteceu era necessário ao nosso crescimento.

Desejo que todos vocês possam sentir isto. Desejo a todos exactamente o mesmo que desejo para mim. Porque acredito que quando uma pessoa se cura é um passo a mais na cura da humanidade.

Grata a todos.

V

3º aniversário do blogue

V de Viver, 16.10.22

isabella-and-zsa-fischer-sQoIRY84a2E-unsplash.jpg

Ontem o blogue completou mais um aniversário! Não me foi possível vir aqui deixar umas palavras, mas cá estou hoje para relembrar e "festejar" de alguma forma esta data. 

Juro-vos que me lembro do dia em que criei o blogue como se fosse hoje. Foi uma fase tão dura. Doía-me até aos ossos. Doía-me a vida. A falta dela. A forma como ela se me apresentava. 

Tanta coisa mudou desde esse dia. 

Este blogue foi sempre um refúgio. A escrita em si foi sempre onde procurava respostas. 

Escrevia ( e continuo a escrever) mais para mim do que qualquer outra coisa. Mas tive o enorme prazer de vos ter por cá a ler-me, a responder-me, a dar-me força. Como se nos conhecêssemos. Como se fossemos amigos. Talvez sejamos. Talvez todos vocês que de uma forma ou de outra tocaram a minha alma e a minha vida estivessem destinados a isso. 

Nada é por acaso. Ninguém é por acaso. Nisso eu acredito com toda a força do meu ser.

Muito obrigada a todos por estarem por aqui. Por me tocarem profundamente com o que escrevem. 

Que, embora com as ausências necessárias a cada um, continuemos a ler-nos durante muitos anos. 

Mais um dia ou menos um dia?

V de Viver, 13.10.22

1665684093649.jpg

Sentada numa falésia junto ao mar vim finalizar o meu dia. Um daqueles que não foi nem bom nem mau. Acho que estes dias existem para nos mostrar que nem sempre é preto no branco. Nem sempre é sim ou não. Tristeza ou felicidade. Existem meios termos. Até para alguém que, como eu, não está habituada a eles.

Nem todos os dias são bons, mas todos têm algo de bom, disso não duvido. Pode ser a minha mania de ver sempre o copo meio cheio. Mas é assim que vejo as coisas. Há sempre algo pelo que agradecer. Mais que não seja por ter olhos e ouvidos capazes de ver e ouvir aquilo que estou aqui a presenciar. Não é positivismo fingido. Eu sinto mesmo aquilo que digo.

Felizmente sou uma apaixonada pelas coisas simples da vida. Aquelas que não se pagam e que por nos serem tão comuns não damos o verdadeiro valor. Porque achamos que elas são nossas por direito. Talvez sejam. Talvez o sol, a lua, o mar, o vento, o cantar dos passarinhos sejam um bocadinho de cada um de nós. Pelo menos daqueles que os sabem apreciar. Talvez.

Talvez a vida, no fundo, seja só isto que estou a sentir agora. Está sensação de paz e tranquilidade que o mar e o pôr do sol sempre me proporcionam. A cabeça vazia de outros pensamentos. Nem passado, nem futuro. Apenas o agora, eu, o mar, e a despedida do sol.

Mais um dia ou menos um dia? Talvez seja apenas uma questão de perspectiva.