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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

V de Viver

O fim de tarde aproximasse. Crepúsculo. O azul claro do céu diurno a misturar-se, lentamente, com o azul escuro da noite. O sol desaparece. E logo ali, naquele instante, sem que saiba dizer o momento exacto, ela aparece. 

A primeira estrela do céu.

Quando era pequena lembro-me de pensar que aquela estrela era o irmão da minha mãe que tinha falecido seis dias antes de eu nascer. Não foi uma ideia que me surgiu. Foi a minha mãe que me disse, numa das muitas vezes que a vi chorar ao final da tarde: "Vês aquela estrelinha filha? A mais brilhante, a primeira a aparecer no céu todas as noites, é o tio. Estejamos onde estivermos, ao anoitecer ele vem sempre ter connosco, e está sempre lá a olhar por nós, mesmo quando não a conseguimos ver".

Acreditei.

Ainda hoje acredito. Talvez por isso, no dia que o meu avô faleceu, achei a estrela mais brilhante. Loucura? Talvez. Mas acredito que temos que ter sempre onde nos agarrar. Eu agarrei-me àquela estrela e à promessa que ela me fazia ao brilhar mais forte. Só podia significar que o meu avô estava junto ao meu tio, que agora ambos olhavam por nós. 

Todos os dias, ao deixar-me levar pelo prazer de contemplar o anoitecer, quando a primeira estrela aparece, tenho a certeza que eles estão ali. 

E, loucura ou não, há uns meses atrás, quando a minha avó partiu, fiz questão de sair do estado infausto em que me encontrava, e olhar o céu. Logo na primeira noite em que ela não estava mais aqui. E sim, a estrela brilhava ainda mais nessa noite. Ilusão? Talvez.

Mas nada me fará pensar de outra forma. Ela brilha mais. E brilha sempre. Nunca se apaga. É sempre a primeira a aparecer no céu. Sempre a primeira a chegar. Esteja eu onde estiver, ocupada ou não, a presença dela chama-me sempre. Tem a força de mil imáns. Quase a ouço sussurrar o meu nome. Por vezes só lhe lanço um olhar fugidiu. Outras vezes, com tempo, deixo-me ficar a olhar para ela até as lágrimas me cegarem. 

A primeira estrela do céu é minha. Sempre foi minha, sempre será minha. Cada um agarra-se ao que pode. Cada um usa como boia de salvação aquilo que consegue encontrar. Eu encontrei aquela estrela. É a ela que me agarro. Para mim, a primeira estrela do céu será sempre a demonstração de que os meus três anjos estão lá em cima, a olhar por mim. 

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