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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

V de Viver

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Sentada numa arriba, como se pairasse sobre a imensidão do mar, ouço o barulho das ondas a rebentar na areia acompanhadas pelos gritos incessantes das gaivotas.Também eu grito em silêncio. Foi exactamente para gritar que sai de casa e vim até aqui. 

Já sentia falta deste sitio. O sol de Dezembro aquece-me o rosto contrariando a brisa fresca que vem do mar. À minha volta só a natureza. Ao longe algumas pessoas mas aqui apenas eu. Sozinha. Como sempre me senti. Mas já há muito que não temo a solidão. Aprendi a fazer-me companhia a mim mesma, e gostei. E é isso que por vezes me assusta. Gostar tanto da solidão. Gostar tanto de estar sozinha. Tenho medo de deixar de sentir. Temo não conseguir mais aproximar-me de ninguém. Sinto amor, não me interpretem mal. Sinto amor pelos meus, pela minha família, por mim. Mas amo tanto estar sozinha. Escrevo agora coisas sem sentido, eu sei. Estou num desses dias em que as ideias, os pensamentos, são mais rápidos que os meus dedos. Num desses dias em que não consigo acompanhar o meu raciocínio. 

As ondas vêm e vão. Rebentam formando a espuma que rapidamente desaparece na areia. Verde, azul, creme. As cores que me rodeiam. Mar. Gosto tanto que por vezes me sinto como se fosse apenas uma extensão dele. É inexplicável. Por vezes penso como seria entrar nele e perder-me. Mas não sei se somos nós que entramos nele ou se é ele que entra em nós de toda a vez que nos toca. Consigo senti-lo na pele embora esteja uns bons metros acima dele. 

Tenho-me sentido perdida. Não sei bem o que sinto. Não estou triste, não mesmo. É mais como se um barulho de fundo não saísse da minha mente. Como se alguma coisa quisesse sair de dentro de mim. 

Mas estou em paz. 

Não é isso que todos procuramos? Sinto uma enorme gratidão por este último ano, mas sobre isso escreverei depois. Agora quero apenas deixar fluir os pensamentos e deixar a caneta rolar nas folhas do meu pequeno caderno. Gotas de lágrimas tingem o papel à medida que a caneta avança. Rabiscos de dor. Rabiscos de vida. A vida é algo tão difícil de descrever. 

Estou em paz.

Sinto o coração tão livre como uma borboleta. Borboleta. Sempre gostei de borboletas. Apercebo-me hoje que sempre quis aquilo que elas simbolizam. Transformação. E consegui. Já não sou aquela menina assustada, aquela adolescente incompreendida. Sou hoje a mulher que sempre quis ser. Quero sempre melhorar, quero sempre mais. Sempre fui uma insaciável. Sempre tive fome de viver. Sempre. Mas aprendi, com o grande professor que é o tempo, a viver com calma. A esperar sempre mais mas com a consciência que nem tudo chega quando quero. Por vezes há coisas que só chegam quando ela, a vida, sabe que estamos preparados. 

Portimão, 03/12/2021

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