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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

V de Viver

Desculpem-me os apaixonados. Os que estão juntos, por amor, há mais de 20 anos. Os que iniciaram agora uma relação. Os que querem muito acreditar que ele existe. Desculpem-me, mas eu não acredito no amor.

Não falo do amor de mãe, nem de pai, nem de irmãos. Nem do amor que sentimos pelos nossos amigos, familiares, e até animais.
Falo do amor no contexto de uma relação amorosa. Não acredito nele, desculpem lá.

Apaixonas-te, crias laços, olhas para a pessoa como a tua metade (como se alguém fosse só metade pessoa e precisasse de outro alguém pra ser uma pessoa completa). Depois manténs uma relação durante uns anos. Por vezes muitos. Vives com a pessoa, comes com a pessoa, fazes planos com a pessoa, dormes e acordas com a pessoa. Anos a fio. Consideras a pessoa como melhor amiga, como braço direito, como tudo. Amas a pessoa. Investes tempo, atenção e sentimentos na pessoa. Achas que está tudo a correr às mil maravilhas. Uns dias melhores outros piores porque, afinal de contas, nenhuma relação é um mar de rosas. E um dia a relação acaba. E tu tentas ver aquilo da melhor forma: não tinha que ser; vamos ser amigos; vamos manter uma relação de cordialidade; quem sabe um dia ainda dê certo. Até que um dia, pouco tempo depois do fim, descobres que a pessoa não era quem dizia ser. Não era o que dizia ser. Até que descobres que afinal talvez, só talvez, não tenhas sido assim tão importante. Não tenham tido uma história de amor assim tão bonita. Não tenham sido assim tão felizes. Talvez, apenas talvez, fosses apenas tu a ver cor de rosa onde não existia sequer cor. Talvez, só talvez, tenhas sido tu a ver coisas onde não existiam. Talvez, apenas talvez, não tenhas sido assim tão importante para a pessoa. Talvez ela já tenha alguém. Talvez ela tenha colocado alguém no teu lugar sem pensar duas vezes. Tu não o farias. Mas a pessoa fez. Nem deixou o teu lugar na cama arrefecer. Mal saíste e já lá estava outra pessoa. E tu paras. Reflectes por um instante e pensas: afinal há alguém insubstituível? Afinal não pode sempre existir alguém para ocupar o nosso lugar no emprego, no comboio, no autocarro, na fila do supermercado e até na vida de quem julgámos ser o nosso amor? Na vida de alguém para quem julgámos ser importantes!

Desculpem-me mas eu não acredito no amor.
Levei um tiro no peito hoje. E não foi usada arma. Talvez seja por isso que não acredito no amor. Mas não acredito. Provavelmente nunca mais vou acreditar. Mas sei, tenho a certeza, que a vida é isto: uma sucessão de desilusões e de aprendizagens.

Um dia, quem sabe, eu possa acreditar no amor novamente. Mas agora não. Desculpem-me mas não acredito no amor.

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