Eu perdoo-me
V de Viver
É o penúltimo dia do ano e após dois dias com duas situações diferentes em que me sinto uma merda no que diz respeito ao meu trabalho fico a pensar: o que é que eu tenho que aprender com isto?
Sinto-me ridícula. E acho que é essa sensação de ridículo e de desadequação que me faz sentir com o coração tão apertado. Uma espécie de ansiedade, uma vibração bem baixa que me aperta o peito e me faz sentir verdadeiramente mal. Uma dor que chega a ser física.
Quero deixar isto em 2021.
Quero escrever para limpar a mente porque não quero voltar a pensar nisto. No quão ridícula fui. Na quantidade de vezes que me senti ridícula na vida.
Portanto escrevo agora para me perdoar.
Eu perdoo-me por todos os erros do passado.
Eu perdoo-me por todas as vezes que agi sem pensar (como ontem à noite).
Eu perdoo-me por todas as vezes que fiz ou deixei de fazer algo que me fez sentir ridícula.
Eu perdoo-me por nem sempre saber como agir profissional e pessoalmente.
Eu perdoo-me por ter feito coisas das quais não me orgulho e que não gostava que me fizessem a mim.
Eu perdoo-me por todas as vezes em que não soube colocar limites.
Eu perdoo-me por todas as vezes que fiz coisas que não queria fazer. Por todas as vezes que disse sim quando queria dizer não.
Eu perdoo-me por todas as vezes que me deixei para trás.
Eu perdoo-me por todas as vezes que me senti burra. Fiz sempre o melhor que consegui, o melhor que sabia.
Eu perdoo-me por ter confiado em pessoas que não mereciam. Por confiar rápido demais, por não saber ver, de verdade, o interior de certas pessoas.
Eu perdoo-me por me ter deixado enganar. Por me ter entregue a pessoas que não mereciam, ter confiado, ter partilhado parte de mim e da minha vida.
Eu perdoo-me por nem sempre ter feito as escolhas certas, na altura pareciam ser as devidas.
Eu perdoo-me por ter magoado alguém e por me ter magoado a mim.
Eu perdoo-me por nem sempre ser tão inteligente quanto devia. Pelas vezes em que não coloquei em prática aquilo que sei, aquilo que digo aos outros.
Eu perdoo-me pelas falhas. Pelas desistências. Pelas mudanças de rota inesperadas.
Nem sempre fui a pessoa que quero ser. Nem sempre agi com a calma que deveria. Nem sempre pensei com clareza antes de agir (como ontem). Fiz figura de ridícula e ninguém gosta de se sentir ridículo. Mas eu perdoo-me por isso. Fiz sempre, este ano e em todos os outros, aquilo que me parecia mais correto. Agi sempre com o coração e talvez isso não tenha sido bom.
Mas perdoo-me porque fiz sempre, sempre, aquilo que me pareceu mais correto.
Eu perdoo-me por me sentir uma falhada, por todas as vezes que me senti uma merda. Perdoo-me porque eu não sou uma merda. Sou um ser humano. E erro, falho, engano-me e, sim, faço figura de ridícula às vezes. Mas perdoo-me porque faço sempre o melhor que consigo.
Esta é a única certeza que tenho: não sou perfeita mas sou sempre eu mesma.
PS: já passou.