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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

22 Jan, 2020

Há dias e dias...

E dias que não são dias

V de Viver

Há sete anos atrás o dia 22 de Janeiro foi o pior dia da minha vida. Se no dia anterior tinha recebido a notícia que viria abalar a minha vida completamente, nesse dia foi a descoberta de que existe realmente uma coisa que é para sempre: a morte.

O dia do funeral do meu avô foi o mais difícil da minha vida até hoje. Foi a primeira vez que fui a um funeral. Foi a última vez que vi o meu avô.

Sei que, por vezes, as pessoas desvalorizam quando falo da morte do meu avô, afinal de contas "ele era velhinho" como elas dizem. Como se o facto de ser velhinho mudasse alguma coisa no coração de quem os perde. Nunca vou perceber o porquê de as pessoas competirem a dor. "Eu sofri mais que isso, imagina quando morreu o meu pai, ele era muito mais novo" foi uma frase que me disseram ainda há dias. Achei "engraçado", a pessoa ter concluído que sofreu mais do que eu. Não sei como ela mediu isso mas, honestamente, também não quero saber. A vida não é uma competição de problemas e dores. Cada um tem as suas lutas, os seus pesos para carregar. Mas acho sempre curioso o facto de as pessoas usarem a expressão "já era velhinho" para desvalorizar a dor dos outros. Sim, era velhinho. Em número. Mas o meu avô era a pessoa mais forte que eu conheci. Nunca, mas mesmo nunca, o vi doente. Lembro-me perfeitamente de em criança pensar que ele ia viver para sempre. Nada o detinha. Mas não foi assim. Ele partiu.

Eu aceito, claro que aceito. Aceitar é inevitável nestas situações. É a lei da vida. Tudo é cíclico. Uns nascem outros morrem. Mas aceitar não significa concordar. O que também não significa que eu viva o resto da vida a pensar que foi injusto. Não. Foi como tinha que ser. Mas doeu. Caramba se doeu. Só eu sei como me doí ainda pensar naquele dia. Chorei tanto que cheguei a um ponto de me sentir fraca e desidratada. Com certeza pode ser exagero. Não devo ter vertido pelos olhos toda a água que tinha no corpo. Mas chorei muito. E choveu muito. Nesse dia eu disse à minha irmã: "mana parece que até os anjos estão tristes". Chorámos muito as duas. O céu também chorou, juro-vos que até hoje é isso que penso. Não me lembro de um dia tão escuro, tão chuvoso e tão triste na minha vida. 

Hoje está um dia escuro. Mas não chove. Contudo é inevitável que me lembre desse dia há sete anos atrás. Um dia que não foi um dia. Um dia que pareceu um ano. Que pareceu que nunca mais chegava ao fim. O dia que vi o meu avô pela última vez quando lhe depositei uma rosa branca sobre o caixão, no preciso momento em que o recolhiam ao túmulo. 

Há despedidas que doem demasiado. Aquelas que são para sempre são as piores.

Há dias e dias. E dias que não são dias. Esse dia não foi dia. 

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