Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Por mim

V de Viver, 29.01.22

vince-fleming-Vmr8bGURExo-unsplash.jpg

Hoje arrumei-me para mim.

Depois de treinar tomei um duche, sequei o cabelo e estiquei-o, fiz uma maquilhagem leve, perfumei-me com o meu melhor perfume e vesti um vestido novo. Sim, um vestido! Levei anos sem vestir um por vergonha. Vergonha das minhas pernas, da minha barriga, dos meus braços, enfim, do meu corpo. Vergonha do que os outros iriam pensar. Anos da minha vida em que limitei o meu guarda roupa tanto quanto me limitava a mim mesma. Não me aceitava, não aceitava o meu corpo. Sempre maior que as minhas amigas (em altura também, tenho 1,73m), destoava de todo o grupo. Era a gordinha. Sentia que o meu corpo não me pertencia. 

Hoje olho para o espelho e, embora finalmente goste do que vejo, sei que eu não sou o meu corpo. Sou muito mais que isso. 

Por isso decidi arrumar-me para mim mesma. E saí. Fui passear, fui fazer algumas compras que precisava, fui marcar o dentista. E fui de vestido! E fui a sentir-me linda! Tanto que nem queria despir o vestido quando cheguei a casa. Confesso que não me apetecia voltar para casa, coisa muito rara, porque adoro estar na minha casa. Mas apetecia-me passear. Apetecia-me, honestamente, passear de mãos dadas. Tenho que confessar que durante um momento pensei: "arrumaste-te assim e agora não tens ninguém para te elogiar, ninguém para apreciar, para te dizer como estás linda". Mas foi fugaz esse momento. Foi um pensamento dentre os milhares que temos por dia. Veio e foi embora com a mesma rapidez. Porque logo de seguida respondi-me: "arrumaste-te para ti, por ti, porque mereces sentir-te linda e bem contigo mesma". E após este breve pensamento, a contemplar-me numa montra qualquer, sorri e avancei. Passo a passo, de sorriso no rosto, segui o meu caminho em paz comigo mesma. 

Longe vão os tempos em que me odiava, em que não olhava para uma montra para não ver o meu reflexo. Hoje não. Daqui em diante não. Um corpo é apenas um corpo. Todos nós somos muito mais que o nosso corpo. Devemos, sim, cuidar do nosso corpo, tal como da nossa mente. Atrevo-me até a dizer que talvez a nossa mente seja ainda de maior importância. Mas sim, devemos cuidar do nosso corpo. Fazer exercício. Cuidar da nossa alimentação. Mas por amor. Por dedicação. Não porque alguém diz que estamos gordos demais ou magros demais. Não porque alguém decidiu um determinado padrão de beleza . Hoje, de dentro das minhas calças tamanho 42 (já retirei o vestido!) digo-vos de coração: somos o que somos por dentro, e isso reflecte-se por fora.

Se o interior estiver em paz, o resto tanto faz. 

Fotografia: @vincefleming

6 comentários

Comentar post