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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Foi só aos 33

V de Viver, 05.12.23

Cresci a achar que era insuficiente. Que fazia tudo errado. Que era por isso que o meu pai não me queria. Porque eu era um erro. Que tinha estragado a vida da minha mãe. 

Cresci a ver erros em tudo o que eu era. O meu corpo era horrível e eu odiava-o. Não era suficientemente inteligente. As minhas amigas vestiam-se melhor. A minha família era disfuncional. Não tinha tinha dinheiro para estudar, logo nunca seria ninguém. 

Cresci e sujeitei-me a relações de merda. Corri atrás de homens que não me queriam. Chorei por eles. Envolvi-me com pessoas indisponíveis por variadíssimas razões. Metia os outros num pedestal, todos eram melhores e mais importantes que eu. 

Cresci a achar-me incapaz. Na minha cabeça eu não conseguia nada. Assustava-me fazer qualquer coisa diferente do que estava habituada. Achava-me pequena para fazer grandes coisas. 

Cresci a procurar validação. Queria que me dissessem que eu era suficiente. Que era boa. Agradava os outros, muitas vezes desagradando-me a mim, porque queria ser aceite. Queria ser gostada.

Cresci a achar que era uma porcaria. Que nunca iria ter uma relação saudável. Que não merecia a vida. Que o meu pai estava certo em não me querer. Que realmente eu tinha estragado a vida da minha mãe ao nascer. 

Cresci a comer demais. Comia as minhas emoções, engordava cada vez mais, comia mais e mais para me sentir melhor, porque já estava horrível, por isso tanto fazia. Odiava-me e odiava o meu corpo.

Cresci a investir energia nos outros. A sentir tanta rejeição em mim, por mim, que me doía até à alma.

Autodestruí-me tantas vezes. Menosprezei-me. Rejeitei-me. 

E só agora percebi.

Que eu sou suficiente. Que se eu não me amar ninguém me amará, mas que isso nem tem importância porque sou eu quem precisa de me amar. 

Que me devia ter sempre tratado como tratava os outros. Que fui sempre muito boa para todos, menos para mim. Que devia amar-me tanto como amava os outros.

Que o amor encontranos quando nos amamos.

Que o meu corpo nunca teve nada de errado. Que um corpo é só um corpo e que se o tratar com amor e respeito ele ficará bem por si só. 

Que me devia admirar a mim. Mais do que a todos os outros. 

Que preocupar-me comigo não é egoísmo. É necessário. 

Que o que eu quero deve estar em primeiro lugar. Que alcançar os meus objectivos é a melhor sensação da vida. Que me fortalece lutar pelo que quero e que, mesmo que seja dificil, nunca devo desistir de lutar pelos meus sonhos. 

Que eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Que eu tenho que me admirar todos os dias da minha vida. Que tenho que me preocupar comigo desde que acordo até que me deito.

Que eu sou digna do meu tempo, da minha atenção. Que o melhor investimento que posso fazer é sempre em mim. 

Que ninguém é mais importante que eu. E sim, eu sei, se tu que estás a ler isto tiveres filhos estás a pensar que eles são. Eu não tenho filhos. Acredito que eles sejam, sim, a coisa mais importante da nossa vida. O que eu não acredito é que não tenha que me amar a mim primeiro. Porquê? Porque eu sei (isto eu sei bem demais) que se eu não me amar e cuidar a mim primeiro eu não consigo amar e cuidar aos outros de forma saudável. 

Hoje eu sei isto tudo. Nem sempre soube. Levei anos a construir esta forma de pensar e de viver. 

Foram anos de autodestruição. De falta de autoestima e de amor próprio. De achar que não merecia nada, que era insuficiente.

Só hoje. Apenas hoje posso dizer com toda a certeza que me amo. Que sou importante. Que a minha vida vale a pena. Que sou digna de amor. 

Por isso decidi escrever este texto. Porque talvez tu também te sintas como eu me senti. E, se for esse o caso, eu queria que soubesses que não estás sozinha. Não és só tu quem se sente assim no mundo. Nem sequer só tu e eu. Infelizmente há imensa gente a passar pelo mesmo. A noticia boa? É que todos nós temos o poder de mudar isso. 

Eu sou suficiente. Tu és suficiente.

Eu sou merecedora de amor. E tu também és. 

Temos em nós tudo aquilo que precisamos. E quando descobrimos isso a nossa vida muda completamente.

Acredita em ti. Ama-te. Procura sempre o teu desenvolvimento pessoal. E nunca, jamais, coloques os outros num pedestal. Ninguém é melhor do que tu. Ninguém merece mais o teu amor do que tu. 

Foi só aos 33 que eu descobri isto. 

Nunca é tarde.

Está tudo bem em não estar tudo bem

V de Viver, 29.08.23

Há meses que não venho escrever por aqui. Nunca deixei de escrever porque é a minha terapia, embora tenha alturas em que escrevo diariamente e outras em que só o faço esporadicamente. 

Não houve nenhum motivo para deixar de escrever aqui. Continuo a achar o mundo dos blogues fascinante. Adoro vir aqui de tempos a tempos e ler o que as pessoas que sigo escreveram. Ver que estão vivas sobretudo. Ter "noticias" delas. 

Acho que é também por isso que por vezes volto. Para dar sinais de vida.

Vida essa que segue. Vou tentando dar o meu melhor todos os dias. Sou incapaz de escrever tudo o que me tem acontecido este ano de 2023 num texto só. Têm sido muitas coisas. A maioria coisas boas. A maioria dos dias têm sido bons, embora eu sinta que não tenho dado o máximo. Que não tenho usado o máximo do meu potencial. 

Claro que eu sei que o nosso melhor é diferente todos os dias. Mas sinto que não tenho estado a dar tudo. Sinto-me cansada, às vezes. Sinto que durante algum tempo me exigi demais e que agora o meu corpo e a minha mente querem abrandar. 

Ainda sou jovem. Mas às vezes acho que comecei a viver (verdadeiramente) muito tarde. Então não é coisa rara na minha vida sentir que me falta tempo. Que deveria acontecer tudo "para ontem" na minha vida.

Sinto-me grata na maioria dos dias. E naqueles dias, como hoje, em que acordo sem energia, sem vontade de fazer absolutamente nada, tento respeitar-me, não me exigir demais e agradecer por ter acordado (visto que não consigo ver mais nada de bom no momento!) 

Não tenho nada de que me queixar. A vida segue e tem sido um bom ano. Mas mesmo assim a minha insatisfação e julgamento acompanham-me: devias ter ido treinar; devias ter comido melhor; andas a comer mal e não alimentas o corpo com os nutrientes que ele precisa; devias ter arrumado a casa em vez de ficares no sofá; devias manter consistência no treino...enfim, todas estas frases fazem, por vezes, parte do meu discurso.

Talvez seja normal. Talvez todos nós tenhamos sido ensinados a cobrar-se demais, a exigir muito de nós. Não digo que seja errado exigir de nós. Mas sei que é preciso ter cautela para não cairmos no erro do exagero. Como em tudo na vida é preciso equilíbrio. Entre o fazer e o apenas ser.

Sim, há dias em que me apetece apenas existir. E está tudo bem.

O meu melhor nunca é o mesmo. E está tudo bem.

Nem sempre consigo fazer o que tem que ser feito. E está tudo bem.

Que consigamos ser tão nossas amigas como somos das nossas melhores amigas. Que nos julguemos menos pelos dias menos bons. A vida é feita de fases e devemos respeitar cada fase nossa.

Claro que escrevi isto para vocês. Mas mentiria se vos dissesse que não o fiz mais para mim. Há dias em que só preciso de me ouvir a dizer que está tudo bem em não estar tudo bem.

 

 

É o amor que faz girar o mundo

V de Viver, 13.02.23

Não gosto muito de dias sem sol. Deixam-me nostálgica. Fico pensativa, introspectiva e com menos energia. Fico, quase literalmente, da cor do dia. Cinzenta. Estava ainda agora a ler um romance, mas fazia-o sem grande entusiasmo, honestamente. "O Livros dos Dois Caminhos", da grande escritora Jodi Picoult, lá porque estou com pouco entusiasmo não faz do livro menos bom.

Curiosamente há uns anos só lia romances. Hoje levo tempo para ler um e já não o faço com o mesmo encantamento. Ainda acredito no amor. Sim, continuo a acreditar que é possível amar e ser amado. Continuo a dar amor a quem se cruza no meu caminho. Mesmo aos que, claramente, não chegam com essa intenção. Mas isso é só mais uma prova de que não controlamos nada, só podemos controlar a forma como reagimos às diversas situações da vida. 

Às vezes tenho a mente tão assoberbada de ideias que me custa escrever. Como hoje, como agora. Nestes dias a minha escrita torna-se confusa. Começo a escrever por um motivo mas as ideias surgem umas atrás das outras, a empurrarem-se para abrir caminho para ver qual chega primeiro ao papel. Geralmente nestes dias não sei o que sinto. Por vezes não sei o que quero. Nestes dias costumo dar-me espaço apenas para existir. Não me exigir muito. Afinal de contas se até a natureza tem dias cinzentos, de sombra, porque não haveria eu de poder tê-los? Tenho calor, curiosamente. Estão 13º lá fora e há pouco estava gelada. Às vezes sinto-me gelada. E sozinha. Quase como se uma coisa levasse à outra. Mas na maioria dos dias gosto e prezo a minha solidão. Solitude. Não sei bem. Mas aprendi, realmente, a apreciar a minha própria companhia. Na maioria dos dias. 

No fundo sou grata a estes dias cinza. Estes dias que me fazem lembrar que nem todos os dias precisamos de estar a 100%. Que o nosso melhor pode ser diferente todos os dias da nossa vida.

Gosto de sentir que aprendo todos os dias alguma coisa. A sabedoria e o conhecimento sempre me cativaram. E quanto mais velha fico mais vontade sinto de aprender. Não necessariamente sobre outros ou sobre algo em especifico. Mas sobre mim. Adoro esta sensação de que me conheço perfeitamente. Esta sensação de que sou a única pessoa no mundo capaz de me perceber, de me amar, de me dar aquilo que quero, que preciso e que procuro. 

Esta percepção de solidão que me trás a sensação de que não preciso de ninguém. De que me basto. De que me tenho a mim mesma e que isso já significa ter o mundo. Ser o mundo. O meu mundo. 

O sol aparece por entre as núvens de vez em quando. Esforça-se por aparecer, por se manter visivel. Por vezes todos nós somos sol. Esforçando-nos para acordar, para sair da cama, para fazer o que tem que ser feito. Mas é bom ser como o sol. Saber que mesmo quando não brilhamos ainda estamos aqui. Dentro de nós mesmos há uma luz que nunca se apaga. Até ao dia em que se apagará para sempre. Mas, não sei porquê, acho que mesmo nesse dia a nossa luz se manterá a brilhar. Enquanto formos lembrados pelos que nos amam, por aqueles cujas vidas conseguimos tocar de uma forma ou de outra. O que me recorda que é o amor. É sempre o amor a chave de tudo nesta vida. É e será sempre o amor que manterá as pessoas vivas. Que manterá o mundo a girar. Sim, é o amor que faz girar o mundo. O amor que sentimos pelos outros. Mas também o amor que sentimos por nós mesmos. E seja qual for o tipo de amor, o importante é que nunca o deixemos morrer. Porque enquanto existir amor as engrenagens da vida continuam a girar, o tempo continua a correr e nós continuaremos vivos. Aqui, ou onde quer que estejamos. Será sempre o amor.

Que nunca nos esqueçamos disso. 

A solitude de domingo

V de Viver, 12.02.23

Junto à janela a beber o meu café depois do almoço apoderasse de mim uma sensação incrível e inexplicável de bem estar. 

Este equilíbrio que eu encontrei. Esta paz que eu conquistei. O amor que sinto por mim, aquele que sempre dei aos outros na esperança de o receber na mesma medida.

Encontrei na solidão a minha melhor companhia. Encontrei em mim aquilo que, durante quase toda a minha existência, achei que me faltava. O amor. 

Se poder deixar um conselho nestas linhas, nesta página onde tantas vezes escrevi o que sentia, onde tantas vezes bebi lágrimas enquanto os dedos tentavam acompanhar a mente, deixo o seguinte: nunca, em hipótese alguma, desistam de vocês. Nunca se abandonem, nunca se esqueçam dos vossos sonhos, dos vossos valores, dos vossos objectivos. 

A melhor coisa que fiz por mim até hoje foi conhecer-me verdadeiramente. Foi saber onde estavam as minhas dores, conhecer a causa delas, e o que podia com elas aprender. Acredito que tudo aquilo que nos acontece na vida tem um propósito. Acredito que todas as pessoas que cruzam o nosso caminho têm uma missão. Assim como acredito que também nós, aos nos cruzarmos nesses caminhos, temos uma missão. Nem sempre vamos compreender essa missão "de caras". Nem sempre vamos conseguir entender a missão do outro na nossa vida no momento em que o outro passa por nós, deixando-nos muitas vezes em pedaços.

É preciso amor. É preciso fé. É preciso acreditar. Acreditar que um dia tudo fará sentido. 

Por muito que nos doa, tudo passa. Tudo sempre passa, o bom e o mau. Porque nunca nada dura para sempre.

É isto que me vai no coração hoje. Nesta solitude de domingo. Mais um domingo sozinha, no meu lar, o meu porto seguro que tanto amo. Pode parecer-vos triste. Pode até ser realmente triste, dependendo da perspectiva. Mas se houve algo que a vida me ensinou foi a ver sempre o melhor lado das coisas. Talvez eu seja apenas uma positiva em excesso. Talvez seja uma sonhadora. Talvez. Mas foi assim que me consegui trazer até aqui. Até este espaço no tempo onde me amo, onde tenho a certeza que consigo enfrentar cada situação que a vida me apresente. Este espaço no tempo onde me orgulho imenso da pessoa que sou e do que fiz com as dores que a vida me trouxe. 

Porque com certeza não é sobre o que nos acontece. É sobre o que fazemos com aquilo que nos acontece. 

32

V de Viver, 27.11.22

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Faço hoje trinta e dois anos de vida. Trinta e dois anos de altos e baixos. De sorrisos e lágrimas. De momentos bons e menos bons. Trinta e dois anos desta história que é a minha. 

Encontrei aquilo que sempre procurei. Paz. E encontrei onde menos esperava: dentro de mim.

Hoje sei que é dentro de nós que tudo existe. Que dentro de todos nós existe o bem e o mal. Que apenas temos que escolher qual dos dois lados queremos fazer sobressair na nossa vida. Que nem sempre o lado escolhido é o que se mostra mas que é no equilíbrio que está o segredo.

Hoje sei que é do lado de dentro que está a felicidade. Que não posso procurar nos outros aquilo que me falta. Que cada um dá o que tem. E que ninguém pode receber o que não dá.

Hoje sei que sou suficiente. Que me basto para ser feliz e que ninguém me pode completar porque não me falta nada. Eu sou inteira. 

Hoje sei que aceitar é a chave para chegar mais longe. Aceitar a nossa história. Aceitar os nossos pais e aquilo que eles nos deram, e também aquilo que nunca nos deram. Porque eles também têm uma história e que, tal como a minha é só minha, a deles é só deles.

Hoje sei que o amor próprio é o maior amor que podemos nutrir na nossa vida. Que se nos amarmos tudo à nossa volta muda. Que o amor é tudo e que existem milhares de tipos de amor. 

Hoje sei que as pessoas nos tratam como permitimos que nos tratem. Que a forma como nos amamos é como ensinamos os outros a amarem-nos. Que ninguém é permanente na nossa vida. E que amores e amigos vêm e vão, apenas a gente fica.

Hoje sei que nada é mais importante do que nos conhecermos a nós mesmos. Que toda a sabedoria vem daí, do auto conhecimento. 

Hoje sei que só nos abala aquilo que permitimos, que ninguém tem a força de nos tirar do nosso eixo.

Hoje sei que a vida é curta mas é boa. Que aquilo que nós procuramos também procura por nós. Que nada nem ninguém é por acaso na nossa vida. Que tudo o que aconteceu tinha que acontecer exactamente da forma que aconteceu. Que se formos a nossa prioridade tudo à nossa volta melhora. Que não devemos nada a ninguém e ninguém nos deve nada. 

Hoje sei que não prendemos ninguém por muito que exista amor. Que o caminho de cada um é individual e que quem chega à nossa vida nem sempre chega para ficar. Mas que todos, e quando digo todos refiro-me mesmo a todos, que aparecem na nossa vida trazem algo e levam algo.

Hoje sei que ninguém nos pode fazer tanto bem e tanto mal quanto nós próprios. Que a nossa vida só depende de nós. Que conseguimos, sim, tudo aquilo que queremos. Mas que aquilo que queremos não é permanente. E que está tudo bem em ser assim. Que todos estamos em constante evolução. Todos trilhamos caminhos diferentes mas todos com o mesmo propósito: viver a nossa vida à nossa maneira.

Hoje sei que o segredo para ser feliz é, realmente, ser feliz sem motivo. Que é nas pequenas coisas do dia a dia que a vida faz mais sentido. Que tudo é tão belo quanto a pessoa que o vê. Que não há certo ou errado porque as escolhas de cada um são exactamente isso, de cada um. Que a vida é muito melhor quando fazemos o bem e que quem planta o bem, cedo ou tarde colhe o bem de volta.

Hoje sei que a vida está a nosso favor e que quando temos a certeza do que plantamos não há como temer a colheita.

Hoje sei que tudo foi necessário para chegar onde estou. Todas as situações e pessoas que passaram na minha vida tiveram um propósito e sou-lhes, verdadeiramente, grata. 

Hoje sinto orgulho na mulher que me tornei e que continuo a lutar para ser. Mas trilho agora o meu caminho com muito mais paz do que antes. Com a certeza de que a vida sabe o que faz. 

Hoje sei que estou a viver a fase mais autêntica da minha vida. Que cada vez tenho menos medo do julgamento, que vivo para me agradar a mim e não aos outros como fiz durante tantos anos. 

Não podia deixar de partilhar tudo isto convosco. Vocês que me lêem, que me leram desde sempre, que souberam das minhas dores e das minhas mortes e renascimentos como mais ninguém. Vocês que sempre me leram nas fases menos boas, nos dias em que escrevia com as lágrimas a correr pelo rosto, nos dias em que a sombra se sobrepunha à luz. Vocês que, arrisco-me a dizer, me conhecem melhor que ninguém embora não conheçam o meu rosto. Conhecem a minha alma, acreditem. Por tudo isto, não podia deixar de vos agradecer. Porque também vocês fizeram, e fazem, parte desta viagem que é a minha vida. Deste caminho de encontro à minha melhor versão, de encontro à mulher que nasci para ser. Muito grata por vos ter por cá. 

Muito grata à vida por tudo o que passei, por tudo o que me ensinou e me levou a ser hoje esta mulher de trinta e dois anos de quem tanto me orgulho. 

Eu, tal como todos vós, já senti várias sensações ao longo da minha jornada. Mas nenhuma se assemelha a esta sensação de amarmos quem somos, de termos a certeza que estamos no caminho certo, de olhar para trás e ver que tudo o que aconteceu era necessário ao nosso crescimento.

Desejo que todos vocês possam sentir isto. Desejo a todos exactamente o mesmo que desejo para mim. Porque acredito que quando uma pessoa se cura é um passo a mais na cura da humanidade.

Grata a todos.

V

Uma mensagem a quem me lê

V de Viver, 22.05.22

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O dia lá fora está cinzento. Não sei quanto a vocês, mas a mim estes dias convidam-me a ficar no sofá. Ler um livro. Ver um filme. E reflectir. Dias cinzentos dão-me sempre vontade de pensar sobre a vida. Sobre tudo o que já vivi, o que estou a viver e o que ainda está para chegar.

Tenho andado [novamente] ausente do blogue. Não sei se posso usar a desculpa da vida corrida. Até porque sou a primeira pessoa a defender que, bem organizado, o tempo dá para tudo. Tenho continuado a escrever bastante. Mas cada vez mais aquilo que escrevo é tão pessoal que nem sempre é possível partilhar por aqui. 

Tenho feito mais por mim todos os dias. Tenho-me amado mais, mimado mais, apreciado mais. Estou feliz. Espero muito que vocês que me visitam também estejam bem e felizes. 

A vida segue, os dias entrelaçam-se entre si numa enorme mistura de altos e baixos, de dias bons com dias menos bons. Acredito que assim seja para todos. 

Estou sinceramente em paz. Batalhei muito para me tornar na pessoa que sou hoje e digo-vos, de peito cheio, que me orgulho bastante de quem sou hoje em dia. Gostava que todas as pessoas no mundo percebessem que quando nos amamos, quando cuidamos de nós, quando nos priorizamos, a vida começa a fluir de outra forma. 

No dia em que deixei de me sentir uma vitima e percebi que a responsabilidade pela minha vida, pela minha felicidade e pelo meu futuro só dependiam de mim a minha vida mudou completamente. É verdade sim que o amor próprio é o mais importante de todos. Quando nos amamos o amor chega-nos. Quando nos fazemos felizes a felicidade encontra-nos. Quando fazemos o bem o bem vem ter connosco. Acreditem. 

Hoje faço algo por mim todos os dias. Seja o que for. E foi a melhor mudança que fiz até hoje na minha vida. Priorizar-me foi a chave para chegar ao nível de paz e amor próprio em que me encontro.

Afinal sempre há frases clichés que são pura verdade:

"Quando estamos bem por dentro isso nota-se por fora."

É uma verdade universal. 

Para hoje, nesta passagem pelo blogue, sendo honesta quando vos digo que não sei quando cá voltarei (pode ser amanhã, pode ser daqui a uma semana, ou até daqui a um mês) quero deixar-vos um grande agradecimento.

Após esta ausência percebi que tive direito a dois destaques. Um pela minha querida Ana de Deus que se mantém sempre presente no meu blogue e a quem sou imensamente grata por todo o carinho. E outro pela equipa do sapo a quem sou também muito grata por ao longo dos meus (ainda poucos) anos de blogue ir, vez ou outra, destacando aquilo que escrevo. Muito grata e feliz por saber que aquilo que escrevo chega aos vossos corações.

E agradecer de igual forma a todos vocês que vão passando por cá por nunca deixarem de o fazer, mesmo com as minhas longas ausências. 

Se vos puder deixar uma mensagem hoje que seja esta: amem-se muito, priorizem-se sempre. Quando estamos bem tudo à nossa volta fica bem. 

Gostava que me tivessem dito...

V de Viver, 06.04.22

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Foi ainda agora enquanto bebia café na varanda da minha casa. 

Aquela sensação de que tudo está no sitio. De que não me falta nada. É rara esta sensação em mim, quase sempre sinto que me falta algo.

Mas quanto mais me conheço, quanto mais olho para dentro de mim, mais consciente fico de que não me falta nada. Tenho em mim tudo o que preciso para ser feliz. Hoje sei que ninguém, além de mim, me pode fazer feliz. Mas sei também que a vida é cíclica e que nós mulheres somos mais ainda. Todos os meses, todos os dias da nossa vida, lidamos com mil e uma emoções. As alterações de humor são constantes mas acredito que se quisermos podemos aprender a lidar com elas. O primeiro passo e o mais importante é aceitar. Aceitar o que estamos a sentir. Depois perceber de onde isso vem.

A nossa mente, consciente e inconsciente, é um mundo inteiro. Nem sempre é fácil lidar com tudo aquilo que somos mas isso é bom. É sinal que somos muito. Hoje não duvido disso. A partir de hoje (desde há uns tempos, felizmente!) não permito que me digam que sou menos, que sou pouco. Não sou.

Não é a minha aparência, é a minha essência que faz de mim quem eu sou.

Porque eu não sou o meu corpo. Quem me dera ter aprendido isto antes. Sinto que deixei de viver muita coisa boa por causa da minha aparência. Por vergonha do meu corpo, de mim. Por achar que nenhuma roupa me ficava bem. Por ter acreditado quando me diziam (e dizem) que sou gorda. Gorda comparada com o quê ou com quem? - pergunto hoje em dia quando me dizem que estou gorda. Estou, não sou. Percebem a diferença?

Gostava que esta mensagem chegasse a muitas jovens, adolescentes, crianças, mulheres e homens por todo o mundo. Porque eu gostava que me tivessem dito isto muitas vezes: Tu não és o teu corpo!

Tive que aprender sozinha, aprender pela dor. A vida era tão mais bonita se aprendessemos pelo amor ao invés de aprendermos pela dor. Mas tudo é um constante processo. A vida é um processo. Nós e o nosso crescimento somos um processo. E viver o processo é tão bom. Acreditar no processo. Acreditar que nunca nada é para sempre. Que o que hoje nos parece um enorme problema amanhã, ou até daqui a pouco, já não é nada.

Tudo passa. Duas palavras e um significado gigantesco. Tudo passa.

Tenham sempre a certeza disso. 

Fotografia:@jacksondavid

Gratidão à chuva

V de Viver, 05.04.22

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Aconteceu hoje quando saí do ginásio. Quando fui para lá o dia estava escuro, mas não chovia. Quando saí estava a chover e eu fui a pé, sem guarda chuva. E foi ao vir para casa à chuva que senti. Uma enorme gratidão. Gratidão pela chuva que me caía no rosto. Gratidão por estar viva. Por ter uma casa para onde voltar. Nesse momento passou por mim de mota um senhor que trabalha na entrega de comida. E mais uma vez apoderou-se de mim uma enorme gratidão por não ter que trabalhar debaixo de chuva (na maioria das vezes pelo menos!). 

Continuei o meu caminho em direcção à minha casa e senti-me feliz. Feliz por ter crescido, por ter amadurecido, por conseguir perceber, hoje, que todas as situações e pessoas que passaram na minha vida tinham um propósito. Tudo aconteceu por um motivo e cada vez tenho mais a certeza disso.

Segui o meu caminho sentido-me grata pelos tombos que dei na vida, de verdade. Porque todos me ensinaram algo, porque foram eles que me transformaram na pessoa que sou hoje. E, acreditem, eu orgulho-me muito de quem sou. Orgulho-me muito do meu crescimento e das minhas conquistas. 

Já encharcada pela chuva entro no prédio e, no elevador, ao dar com os olhos no meu reflexo agradeço-me por não ter desistido. Por fazer todos os dias o que tem que ser feito para chegar onde quero. Para ser quem quero ser. Agradeço-me por continuar a lutar todos os dias. Por ter chorado mas ter persistido sempre. Olhei para o espelho do elevador uma última vez antes de sair no meu andar. E vi. Vi a mulher que quero ser. A mulher que me orgulho de ser. E senti-me grata mais uma vez. Grata pela minha história desde o dia em que nasci. Hoje sei que tudo aconteceu como tinha que acontecer. 

Se tivesse que escolher uma palavra para o dia de hoje seria gratidão. Usada em demasia ultimamente, talvez. Mas hoje é a que faz mais sentido.

PS: também poderia ser amor-próprio!

Ancorar

V de Viver, 02.02.22

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Há dias em que as certezas se esvaem. 

Em que nos fogem das mãos como água a correr num rio bravo.

Dias em que duvidas de tudo o que já fizeste, dias em que questionas todos os caminhos que já percorreste. Em que, por muito que te esforces e que digas a ti mesma que está tudo bem, sabes que não está. Dias em que sentes a falta de momentos e pessoas do passado. Em que pões em causa todas as tuas escolhas. 

Nestes dias, em que as palavras me surgem à mente mais rápido do que as consigo escrever no papel, sei que devo respeitar-me mais do que nunca. 

O tempo ensinou-me que os dias mais difíceis são aqueles em que mais se pode aprender e crescer. Que é nestes dias cinzentos, ou nos momentos cinzentos de um dia de sol, que muitas vezes encontramos as respostas que procuramos. É no silêncio, é dentro de nós, no nosso refúgio, que estão todas elas. Todas as respostas, a todas as perguntas que já nos fizemos e que ainda faremos a nós próprios estão dentro de nós. Se nós soubermos ouvir, escutar com atenção, tudo o que precisamos saber irá surgir. Saber lidar com os dias menos bons, com os momentos de escuridão que surgem na nossa vida, não é tanto uma questão de coragem ou de inteligência. É, na minha opinião, uma questão de sobrevivência. Porque só nós nos podemos salvar, só nós podemos conquistar os nossos sonhos, só nós podemos curar as nossas dores. Está nas nossas mãos. O caminho que queremos seguir no futuro depende de nós, da nossa escolha. 

É preciso resiliência para lidar com estes dias cinzentos, com estes momentos em que falta a luz. Repara. Silencia-te e repara. Mesmo nestes momentos em que tudo à tua volta está escuro, se escutares com atenção, se olhares para dentro de ti com devoção, perceberás que há uma chama que nunca se apaga. Há uma luz que, tremeluzindo lentamente, continua acesa no teu coração. Essa chama que brilha levemente e em silêncio chama-se esperança. Esperança num amanhã melhor, num amanhã com mais luz e menos escuridão. 

Pensa: quando olhas para o céu durante a noite, é ou não é mais fácil ver o brilho das estrelas se tudo à tua volta estiver envolto numa enorme escuridão? Sim, uma certa escuridão é necessária para ver as estrelas. Do mesmo modo, é preciso haver dias cinzentos, escuros e frios, para que descubras a luz que brilha em ti. A tua luz. Tu. És tu que brilhas. Tu, na mais pura essência do teu ser tens em ti um brilho que nunca se apaga. Nem mesmo nos dias mais escuros. E é nesses dias que mais precisas dela. Agarra-te a ela como quem se agarra à vida. Porque será exactamente isso que estarás a fazer: ancorar-te à vida. 

 

Fotagrafia: @henrybe

Por mim

V de Viver, 29.01.22

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Hoje arrumei-me para mim.

Depois de treinar tomei um duche, sequei o cabelo e estiquei-o, fiz uma maquilhagem leve, perfumei-me com o meu melhor perfume e vesti um vestido novo. Sim, um vestido! Levei anos sem vestir um por vergonha. Vergonha das minhas pernas, da minha barriga, dos meus braços, enfim, do meu corpo. Vergonha do que os outros iriam pensar. Anos da minha vida em que limitei o meu guarda roupa tanto quanto me limitava a mim mesma. Não me aceitava, não aceitava o meu corpo. Sempre maior que as minhas amigas (em altura também, tenho 1,73m), destoava de todo o grupo. Era a gordinha. Sentia que o meu corpo não me pertencia. 

Hoje olho para o espelho e, embora finalmente goste do que vejo, sei que eu não sou o meu corpo. Sou muito mais que isso. 

Por isso decidi arrumar-me para mim mesma. E saí. Fui passear, fui fazer algumas compras que precisava, fui marcar o dentista. E fui de vestido! E fui a sentir-me linda! Tanto que nem queria despir o vestido quando cheguei a casa. Confesso que não me apetecia voltar para casa, coisa muito rara, porque adoro estar na minha casa. Mas apetecia-me passear. Apetecia-me, honestamente, passear de mãos dadas. Tenho que confessar que durante um momento pensei: "arrumaste-te assim e agora não tens ninguém para te elogiar, ninguém para apreciar, para te dizer como estás linda". Mas foi fugaz esse momento. Foi um pensamento dentre os milhares que temos por dia. Veio e foi embora com a mesma rapidez. Porque logo de seguida respondi-me: "arrumaste-te para ti, por ti, porque mereces sentir-te linda e bem contigo mesma". E após este breve pensamento, a contemplar-me numa montra qualquer, sorri e avancei. Passo a passo, de sorriso no rosto, segui o meu caminho em paz comigo mesma. 

Longe vão os tempos em que me odiava, em que não olhava para uma montra para não ver o meu reflexo. Hoje não. Daqui em diante não. Um corpo é apenas um corpo. Todos nós somos muito mais que o nosso corpo. Devemos, sim, cuidar do nosso corpo, tal como da nossa mente. Atrevo-me até a dizer que talvez a nossa mente seja ainda de maior importância. Mas sim, devemos cuidar do nosso corpo. Fazer exercício. Cuidar da nossa alimentação. Mas por amor. Por dedicação. Não porque alguém diz que estamos gordos demais ou magros demais. Não porque alguém decidiu um determinado padrão de beleza . Hoje, de dentro das minhas calças tamanho 42 (já retirei o vestido!) digo-vos de coração: somos o que somos por dentro, e isso reflecte-se por fora.

Se o interior estiver em paz, o resto tanto faz. 

Fotografia: @vincefleming