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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Foi só aos 33

V de Viver, 05.12.23

Cresci a achar que era insuficiente. Que fazia tudo errado. Que era por isso que o meu pai não me queria. Porque eu era um erro. Que tinha estragado a vida da minha mãe. 

Cresci a ver erros em tudo o que eu era. O meu corpo era horrível e eu odiava-o. Não era suficientemente inteligente. As minhas amigas vestiam-se melhor. A minha família era disfuncional. Não tinha tinha dinheiro para estudar, logo nunca seria ninguém. 

Cresci e sujeitei-me a relações de merda. Corri atrás de homens que não me queriam. Chorei por eles. Envolvi-me com pessoas indisponíveis por variadíssimas razões. Metia os outros num pedestal, todos eram melhores e mais importantes que eu. 

Cresci a achar-me incapaz. Na minha cabeça eu não conseguia nada. Assustava-me fazer qualquer coisa diferente do que estava habituada. Achava-me pequena para fazer grandes coisas. 

Cresci a procurar validação. Queria que me dissessem que eu era suficiente. Que era boa. Agradava os outros, muitas vezes desagradando-me a mim, porque queria ser aceite. Queria ser gostada.

Cresci a achar que era uma porcaria. Que nunca iria ter uma relação saudável. Que não merecia a vida. Que o meu pai estava certo em não me querer. Que realmente eu tinha estragado a vida da minha mãe ao nascer. 

Cresci a comer demais. Comia as minhas emoções, engordava cada vez mais, comia mais e mais para me sentir melhor, porque já estava horrível, por isso tanto fazia. Odiava-me e odiava o meu corpo.

Cresci a investir energia nos outros. A sentir tanta rejeição em mim, por mim, que me doía até à alma.

Autodestruí-me tantas vezes. Menosprezei-me. Rejeitei-me. 

E só agora percebi.

Que eu sou suficiente. Que se eu não me amar ninguém me amará, mas que isso nem tem importância porque sou eu quem precisa de me amar. 

Que me devia ter sempre tratado como tratava os outros. Que fui sempre muito boa para todos, menos para mim. Que devia amar-me tanto como amava os outros.

Que o amor encontranos quando nos amamos.

Que o meu corpo nunca teve nada de errado. Que um corpo é só um corpo e que se o tratar com amor e respeito ele ficará bem por si só. 

Que me devia admirar a mim. Mais do que a todos os outros. 

Que preocupar-me comigo não é egoísmo. É necessário. 

Que o que eu quero deve estar em primeiro lugar. Que alcançar os meus objectivos é a melhor sensação da vida. Que me fortalece lutar pelo que quero e que, mesmo que seja dificil, nunca devo desistir de lutar pelos meus sonhos. 

Que eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Que eu tenho que me admirar todos os dias da minha vida. Que tenho que me preocupar comigo desde que acordo até que me deito.

Que eu sou digna do meu tempo, da minha atenção. Que o melhor investimento que posso fazer é sempre em mim. 

Que ninguém é mais importante que eu. E sim, eu sei, se tu que estás a ler isto tiveres filhos estás a pensar que eles são. Eu não tenho filhos. Acredito que eles sejam, sim, a coisa mais importante da nossa vida. O que eu não acredito é que não tenha que me amar a mim primeiro. Porquê? Porque eu sei (isto eu sei bem demais) que se eu não me amar e cuidar a mim primeiro eu não consigo amar e cuidar aos outros de forma saudável. 

Hoje eu sei isto tudo. Nem sempre soube. Levei anos a construir esta forma de pensar e de viver. 

Foram anos de autodestruição. De falta de autoestima e de amor próprio. De achar que não merecia nada, que era insuficiente.

Só hoje. Apenas hoje posso dizer com toda a certeza que me amo. Que sou importante. Que a minha vida vale a pena. Que sou digna de amor. 

Por isso decidi escrever este texto. Porque talvez tu também te sintas como eu me senti. E, se for esse o caso, eu queria que soubesses que não estás sozinha. Não és só tu quem se sente assim no mundo. Nem sequer só tu e eu. Infelizmente há imensa gente a passar pelo mesmo. A noticia boa? É que todos nós temos o poder de mudar isso. 

Eu sou suficiente. Tu és suficiente.

Eu sou merecedora de amor. E tu também és. 

Temos em nós tudo aquilo que precisamos. E quando descobrimos isso a nossa vida muda completamente.

Acredita em ti. Ama-te. Procura sempre o teu desenvolvimento pessoal. E nunca, jamais, coloques os outros num pedestal. Ninguém é melhor do que tu. Ninguém merece mais o teu amor do que tu. 

Foi só aos 33 que eu descobri isto. 

Nunca é tarde.

32

V de Viver, 27.11.22

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Faço hoje trinta e dois anos de vida. Trinta e dois anos de altos e baixos. De sorrisos e lágrimas. De momentos bons e menos bons. Trinta e dois anos desta história que é a minha. 

Encontrei aquilo que sempre procurei. Paz. E encontrei onde menos esperava: dentro de mim.

Hoje sei que é dentro de nós que tudo existe. Que dentro de todos nós existe o bem e o mal. Que apenas temos que escolher qual dos dois lados queremos fazer sobressair na nossa vida. Que nem sempre o lado escolhido é o que se mostra mas que é no equilíbrio que está o segredo.

Hoje sei que é do lado de dentro que está a felicidade. Que não posso procurar nos outros aquilo que me falta. Que cada um dá o que tem. E que ninguém pode receber o que não dá.

Hoje sei que sou suficiente. Que me basto para ser feliz e que ninguém me pode completar porque não me falta nada. Eu sou inteira. 

Hoje sei que aceitar é a chave para chegar mais longe. Aceitar a nossa história. Aceitar os nossos pais e aquilo que eles nos deram, e também aquilo que nunca nos deram. Porque eles também têm uma história e que, tal como a minha é só minha, a deles é só deles.

Hoje sei que o amor próprio é o maior amor que podemos nutrir na nossa vida. Que se nos amarmos tudo à nossa volta muda. Que o amor é tudo e que existem milhares de tipos de amor. 

Hoje sei que as pessoas nos tratam como permitimos que nos tratem. Que a forma como nos amamos é como ensinamos os outros a amarem-nos. Que ninguém é permanente na nossa vida. E que amores e amigos vêm e vão, apenas a gente fica.

Hoje sei que nada é mais importante do que nos conhecermos a nós mesmos. Que toda a sabedoria vem daí, do auto conhecimento. 

Hoje sei que só nos abala aquilo que permitimos, que ninguém tem a força de nos tirar do nosso eixo.

Hoje sei que a vida é curta mas é boa. Que aquilo que nós procuramos também procura por nós. Que nada nem ninguém é por acaso na nossa vida. Que tudo o que aconteceu tinha que acontecer exactamente da forma que aconteceu. Que se formos a nossa prioridade tudo à nossa volta melhora. Que não devemos nada a ninguém e ninguém nos deve nada. 

Hoje sei que não prendemos ninguém por muito que exista amor. Que o caminho de cada um é individual e que quem chega à nossa vida nem sempre chega para ficar. Mas que todos, e quando digo todos refiro-me mesmo a todos, que aparecem na nossa vida trazem algo e levam algo.

Hoje sei que ninguém nos pode fazer tanto bem e tanto mal quanto nós próprios. Que a nossa vida só depende de nós. Que conseguimos, sim, tudo aquilo que queremos. Mas que aquilo que queremos não é permanente. E que está tudo bem em ser assim. Que todos estamos em constante evolução. Todos trilhamos caminhos diferentes mas todos com o mesmo propósito: viver a nossa vida à nossa maneira.

Hoje sei que o segredo para ser feliz é, realmente, ser feliz sem motivo. Que é nas pequenas coisas do dia a dia que a vida faz mais sentido. Que tudo é tão belo quanto a pessoa que o vê. Que não há certo ou errado porque as escolhas de cada um são exactamente isso, de cada um. Que a vida é muito melhor quando fazemos o bem e que quem planta o bem, cedo ou tarde colhe o bem de volta.

Hoje sei que a vida está a nosso favor e que quando temos a certeza do que plantamos não há como temer a colheita.

Hoje sei que tudo foi necessário para chegar onde estou. Todas as situações e pessoas que passaram na minha vida tiveram um propósito e sou-lhes, verdadeiramente, grata. 

Hoje sinto orgulho na mulher que me tornei e que continuo a lutar para ser. Mas trilho agora o meu caminho com muito mais paz do que antes. Com a certeza de que a vida sabe o que faz. 

Hoje sei que estou a viver a fase mais autêntica da minha vida. Que cada vez tenho menos medo do julgamento, que vivo para me agradar a mim e não aos outros como fiz durante tantos anos. 

Não podia deixar de partilhar tudo isto convosco. Vocês que me lêem, que me leram desde sempre, que souberam das minhas dores e das minhas mortes e renascimentos como mais ninguém. Vocês que sempre me leram nas fases menos boas, nos dias em que escrevia com as lágrimas a correr pelo rosto, nos dias em que a sombra se sobrepunha à luz. Vocês que, arrisco-me a dizer, me conhecem melhor que ninguém embora não conheçam o meu rosto. Conhecem a minha alma, acreditem. Por tudo isto, não podia deixar de vos agradecer. Porque também vocês fizeram, e fazem, parte desta viagem que é a minha vida. Deste caminho de encontro à minha melhor versão, de encontro à mulher que nasci para ser. Muito grata por vos ter por cá. 

Muito grata à vida por tudo o que passei, por tudo o que me ensinou e me levou a ser hoje esta mulher de trinta e dois anos de quem tanto me orgulho. 

Eu, tal como todos vós, já senti várias sensações ao longo da minha jornada. Mas nenhuma se assemelha a esta sensação de amarmos quem somos, de termos a certeza que estamos no caminho certo, de olhar para trás e ver que tudo o que aconteceu era necessário ao nosso crescimento.

Desejo que todos vocês possam sentir isto. Desejo a todos exactamente o mesmo que desejo para mim. Porque acredito que quando uma pessoa se cura é um passo a mais na cura da humanidade.

Grata a todos.

V

Uma noite em Setembro

V de Viver, 08.10.22

Sentada na varanda da minha casa sinto as lágrimas a escorrer pelo rosto enquanto bebo um copo de vinho. Há um ano tinha o hábito de fazer exactamente isto. Sentar-me, sozinha com um copo de vinho e os meus pensamentos. E, claro, uma música.

Faz-me pensar que pouca coisa mudou. Mas o principal mudou bastante:eu.

Sinto-me grata por estar onde estou. Grata por ser a pessoa que tanto lutei para ser. E por ter a consciência que cada vez sou mais quem quero ser.

Mas sei, no fundo, que ainda há coisas que precisam de mudar. Ainda há ciclos que se repetem na minha vida, dores que voltam pelas mãos de outras pessoas. Muda a pessoa, mas a dor é sempre a mesma. E acredito que se os ciclos se repetem é porque ainda tenho alguma coisa a aprender. Claro que temos sempre algo a aprender. Mas refiro-me a ter algo a aprender relativamente ao mesmo.

Sinto que ando em círculos. Embora muita coisa mude há sempre algo que se repete. Mas não me queixo. Sei hoje, como toda a certeza, que não há erros. Há aprendizagens. Tudo vem por um motivo. E só podemos mudar o que vem quando descobrimos esse motivo. Nada nem ninguém chega até nós por acaso. Cada dia que vivo tenho mais a certeza disto.

É verdade que eu sempre fui alguém que pensa demais e sente demais. E é verdade que isso me trouxe muitos dissabores. Mas sinto-me feliz por viver a vida de acordo com os meus valores, de viver em verdade, honestidade e humildade. Não sei onde a vida me leva. Mas vou em paz seja onde for que vá. Porque dei sempre o meu melhor em tudo. Nunca fui desleal para comigo nem para com os outros. E uma das maiores bençãos que tenho na vida é deitar a cabeça no travesseiro, todas as noites, e poder dormir tranquila. Cada um dá o que tem e a conta chega para todos. E se há algo que sei é que eu não tenho motivo para me preocupar com isso.

E acreditem, sinto-me grata por isso. Grata por ser quem sou e com a certeza de que ainda serei alguém melhor. Melhor de acordo com os meus valores. Melhor para mim. Melhor para os outros, mas sempre, sempre de acordo com os meus valores.

 

PS: texto escrito em Setembro. Tenho andado bastante ausente do blogue mas nunca perdi o hábito de escrever. Espero, de coração, que todos os que me lêem sempre que (muito raramente durante este ano) publico alguma coisa, estejam bem. Estou em falta convosco porque não vos tenho lido. Mas vou tentar durante os próximos dias actualizar-me por este mundo dos blogues.

Grata a todos por continuarem por aqui 

Uma mensagem a quem me lê

V de Viver, 22.05.22

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O dia lá fora está cinzento. Não sei quanto a vocês, mas a mim estes dias convidam-me a ficar no sofá. Ler um livro. Ver um filme. E reflectir. Dias cinzentos dão-me sempre vontade de pensar sobre a vida. Sobre tudo o que já vivi, o que estou a viver e o que ainda está para chegar.

Tenho andado [novamente] ausente do blogue. Não sei se posso usar a desculpa da vida corrida. Até porque sou a primeira pessoa a defender que, bem organizado, o tempo dá para tudo. Tenho continuado a escrever bastante. Mas cada vez mais aquilo que escrevo é tão pessoal que nem sempre é possível partilhar por aqui. 

Tenho feito mais por mim todos os dias. Tenho-me amado mais, mimado mais, apreciado mais. Estou feliz. Espero muito que vocês que me visitam também estejam bem e felizes. 

A vida segue, os dias entrelaçam-se entre si numa enorme mistura de altos e baixos, de dias bons com dias menos bons. Acredito que assim seja para todos. 

Estou sinceramente em paz. Batalhei muito para me tornar na pessoa que sou hoje e digo-vos, de peito cheio, que me orgulho bastante de quem sou hoje em dia. Gostava que todas as pessoas no mundo percebessem que quando nos amamos, quando cuidamos de nós, quando nos priorizamos, a vida começa a fluir de outra forma. 

No dia em que deixei de me sentir uma vitima e percebi que a responsabilidade pela minha vida, pela minha felicidade e pelo meu futuro só dependiam de mim a minha vida mudou completamente. É verdade sim que o amor próprio é o mais importante de todos. Quando nos amamos o amor chega-nos. Quando nos fazemos felizes a felicidade encontra-nos. Quando fazemos o bem o bem vem ter connosco. Acreditem. 

Hoje faço algo por mim todos os dias. Seja o que for. E foi a melhor mudança que fiz até hoje na minha vida. Priorizar-me foi a chave para chegar ao nível de paz e amor próprio em que me encontro.

Afinal sempre há frases clichés que são pura verdade:

"Quando estamos bem por dentro isso nota-se por fora."

É uma verdade universal. 

Para hoje, nesta passagem pelo blogue, sendo honesta quando vos digo que não sei quando cá voltarei (pode ser amanhã, pode ser daqui a uma semana, ou até daqui a um mês) quero deixar-vos um grande agradecimento.

Após esta ausência percebi que tive direito a dois destaques. Um pela minha querida Ana de Deus que se mantém sempre presente no meu blogue e a quem sou imensamente grata por todo o carinho. E outro pela equipa do sapo a quem sou também muito grata por ao longo dos meus (ainda poucos) anos de blogue ir, vez ou outra, destacando aquilo que escrevo. Muito grata e feliz por saber que aquilo que escrevo chega aos vossos corações.

E agradecer de igual forma a todos vocês que vão passando por cá por nunca deixarem de o fazer, mesmo com as minhas longas ausências. 

Se vos puder deixar uma mensagem hoje que seja esta: amem-se muito, priorizem-se sempre. Quando estamos bem tudo à nossa volta fica bem. 

Por mim

V de Viver, 29.01.22

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Hoje arrumei-me para mim.

Depois de treinar tomei um duche, sequei o cabelo e estiquei-o, fiz uma maquilhagem leve, perfumei-me com o meu melhor perfume e vesti um vestido novo. Sim, um vestido! Levei anos sem vestir um por vergonha. Vergonha das minhas pernas, da minha barriga, dos meus braços, enfim, do meu corpo. Vergonha do que os outros iriam pensar. Anos da minha vida em que limitei o meu guarda roupa tanto quanto me limitava a mim mesma. Não me aceitava, não aceitava o meu corpo. Sempre maior que as minhas amigas (em altura também, tenho 1,73m), destoava de todo o grupo. Era a gordinha. Sentia que o meu corpo não me pertencia. 

Hoje olho para o espelho e, embora finalmente goste do que vejo, sei que eu não sou o meu corpo. Sou muito mais que isso. 

Por isso decidi arrumar-me para mim mesma. E saí. Fui passear, fui fazer algumas compras que precisava, fui marcar o dentista. E fui de vestido! E fui a sentir-me linda! Tanto que nem queria despir o vestido quando cheguei a casa. Confesso que não me apetecia voltar para casa, coisa muito rara, porque adoro estar na minha casa. Mas apetecia-me passear. Apetecia-me, honestamente, passear de mãos dadas. Tenho que confessar que durante um momento pensei: "arrumaste-te assim e agora não tens ninguém para te elogiar, ninguém para apreciar, para te dizer como estás linda". Mas foi fugaz esse momento. Foi um pensamento dentre os milhares que temos por dia. Veio e foi embora com a mesma rapidez. Porque logo de seguida respondi-me: "arrumaste-te para ti, por ti, porque mereces sentir-te linda e bem contigo mesma". E após este breve pensamento, a contemplar-me numa montra qualquer, sorri e avancei. Passo a passo, de sorriso no rosto, segui o meu caminho em paz comigo mesma. 

Longe vão os tempos em que me odiava, em que não olhava para uma montra para não ver o meu reflexo. Hoje não. Daqui em diante não. Um corpo é apenas um corpo. Todos nós somos muito mais que o nosso corpo. Devemos, sim, cuidar do nosso corpo, tal como da nossa mente. Atrevo-me até a dizer que talvez a nossa mente seja ainda de maior importância. Mas sim, devemos cuidar do nosso corpo. Fazer exercício. Cuidar da nossa alimentação. Mas por amor. Por dedicação. Não porque alguém diz que estamos gordos demais ou magros demais. Não porque alguém decidiu um determinado padrão de beleza . Hoje, de dentro das minhas calças tamanho 42 (já retirei o vestido!) digo-vos de coração: somos o que somos por dentro, e isso reflecte-se por fora.

Se o interior estiver em paz, o resto tanto faz. 

Fotografia: @vincefleming

Que eu nunca me esqueça

V de Viver, 17.01.22

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- Que sou suficiente

- Que tenho em mim tudo o que preciso

- Que não preciso da minha outra metade porque eu sou inteira

- Que o meu corpo é normal (como todos os outros)

- Que se quero, posso

- Que já cheguei muito longe

- Que sou inteligente

- Que ainda posso alcançar muito mais (não apenas ter, mas ser)

- Que os erros fazem parte do caminho

- Que todos os que passam na minha vida me ensinam algo

- Que devo ser grata todos os dias porque todos os dias são uma bênção

- Que eu sou capaz

- Que a família deve ser sempre prioridade

- Que o que se ganha fácil perde-se fácil

- Que vale sempre a pena amar

- Que nem tudo o que se perde é uma perda

- Que a vida é feita de fases

- Que dentro de mim existe sombra e luz

- Que todas as pessoas estão a viver as suas lutas

- Que nem todos os dias são de sol, mas ainda assim ele sempre volta

- Que a Natureza me faz bem

- Que devo cuidar de mim todos os dias

- Que se posso sonhar posso realizar

- Que nada é em vão

- Que ninguém é de ninguém

- Que devo respeitar os outros e nunca lhes fazer o que não quero que me façam

- Que esta praia é um dos meus refúgios

- Que todo o pôr do sol é um motivo para agradecer

- Que os outros nem sempre vão querer o mesmo que eu

- Que se aprende muito nos dias menos fáceis

- Que devo comemorar sempre as pequenas vitórias

- Que nunca posso parar de sonhar

- Que o amor próprio é o único que me pode salvar

- Que se eu gostar da minha companhia nunca estarei só

- Que ver o pôr do sol na praia me acalma

- Que cuidar do meu corpo me faz sentir bem

- Que a gratidão nunca é demais

- Que o silêncio pode ajudar muito

- Que a solidão nem sempre é uma coisa má

- Que eu posso tudo

- Que nunca devo depender de ninguém para ser feliz

- Que a felicidade está dentro de mim

- Que os meus objectivos devem estar sempre primeiro

- Que a opinião dos outros é isso mesmo, dos outros

- Que há beleza em tudo porque a beleza está nos olhos de quem vê

- Que nem todos os dias são fáceis e está tudo bem

- Que devo cuidar sempre dos meus pensamentos

- Que a minha paz importa mais que tudo o resto

- Que sou corajosa sim, mas não perfeita

- Que vou sempre cometer erros mas que todos me ensinam algo

- Que por muito que doa, tudo passa

Que eu nunca me esqueça disto e que vocês também não. 

Culpa

V de Viver, 13.08.21

Hoje venho falar-vos sobre culpa. Esse fardo pesado que nos acompanha ao longo de toda a vida. Quem nunca sentiu culpa? Quantas vezes por dia sentimos culpa? 

A culpa é tóxica e é inesgotável. Nunca deixamos de sentir culpa. No meu processo de cura e auto conhecimento sou convidada inúmeras vezes a olhar para dentro. A perceber o que sinto, de que forma o sinto e a deixar-me sentir. Sabendo que a culpa pode ser tanto consciente como inconsciente dou por mim a olhar para dentro e a procurar quando foi a primeira vez que senti culpa. Não é fácil voltar ao passado, ir fundo dentro de nós e procurar as nossas feridas causa muita dor. Mas é necessário. Hoje recolhi-me e procurei na minha criança interior quando terei sentido culpa pela primeira vez. E dou por mim a, mais uma vez, chegar ao mesmo sítio. À mesma pessoa. É como andar aos círculos, sabem? O meu pai. Mais uma vez o meu pai. Percebo agora que sempre me senti culpada por ele ter abandonado a minha mãe. Afinal de contas ele abandonou-a quando soube que ela me carregava dentro dela. Falar nisto leva-me a reagir. Reagir no sentido de querer gritar ao mundo (aos homens sobretudo, mas também a algumas mulheres) que nunca deviam abandonar os vossos filhos. Se soubessem o que isso causa numa criança e, posteriormente, na adulta em quem essa criança se torna, gosto de pensar que não o fariam. Mas enfim, não me é possível mudar o que já aconteceu. O que eu posso é perdoar. Pouco depois de criar o blogue escrevi sobre isso. Na altura achei, de verdade, que tinha perdoado o meu pai. Senti que o tinha perdoado. Mas precisava de ir muito mais fundo dentro de mim, conhecer-me melhor e ter a consciência que tenho agora de que o processo é muito longo e muito mais duro do que pensei. Sempre que olho para dentro, sempre que tento entender os meus sentimentos, as minhas emoções, a causa de determinadas atitudes que tive ao longo da vida, é a ele que chego. É à dor da rejeição que me acompanha desde pequena. 

A culpa corrói-nos. E sentir culpa por tudo o que de mau aconteceu na vida da minha mãe é muito duro. Sentimos ainda mais dor quando achamos que o erro foi nosso, que a culpa é nossa e que a culpa de sentirmos culpa é nossa também. 

Não sinto culpa apenas pelo que o meu pai fez. Esse é apenas o primeiro episódio que consigo ligar à sensação de culpa. Ao longo da vida a culpa acompanhou-me, como acredito que terá acompanhado cada um de vós. Afinal de contas todos somos humanos, todos erramos, todos sentimos dor. E é isso mesmo que devemos ter em mente quando sentimos culpa. Ter a certeza de que não somos especiais por isso, de que não somos apenas nós que nos sentimos assim. 

Se sentimos culpa é porque achamos que errámos, mas se errámos, com certeza evoluímos, aprendemos, e se cometemos erros é porque estávamos a tentar algo diferente, algo novo. Mesmo quem não tenta algo novo, quem não tenta ser mais, acaba por errar, porque só o facto de não tentar é por si só um erro. 

A vida é feita de erros e acertos. Às vezes acertamos, às vezes aprendemos. É preciso perdoar. Apenas perdoando os nossos erros conseguimos amenizar a culpa por tê-los cometido. Mas é preciso termos consciência de que nunca deixaremos de sentir culpa. A culpa irá sempre acompanhar-nos. Apenas temos que aprender a lidar com ela, aceitá-la, acolhê-la. É preciso olhar de frente para as nossas feridas. Dói, caramba se dói! Mas é necessário para o nosso crescimento.

Por isso vos digo: não tenham medo de sentir culpa. Não se sintam culpados por sentir culpa. E tenham sempre presente que a culpa nunca vai deixar de existir. Vez ou outra ela chega. Aprendam a aceitá-la como também eu estou a aprender. A vida é um constante processo de aprendizagem. E só aprendemos através do erro, mesmo que esses erros nos levem a sentir culpa. Somos seres falhos, mas somos também seres com uma enorme capacidade de aprendizagem e evolução. Que nunca percamos a esperença e a coragem para evoluir e nos tornarmos, cada vez mais, a pessoa que queremos ser. 

Primeiro tu

V de Viver, 23.06.21

Quantas vezes já ouvimos ou lê-mos a frase: "primeiro estás tu, depois os outros"? 

Mas realmente colocamos essa velha máxima em prática?

Quando foi a última vez que fizeste algo por ti? 

Hoje, depois da minha corrida e enquanto caminhava o último quilómetro até casa, surgiu-me este pensamento. Porque realmente colocarmos-nos em primeiro lugar não é fácil. Pelo menos não o é se tu, tal como eu, sempre colocaste os outros em primeiro. 

Acredito que o melhor que podia acontecer era que todos nós se colocássemos em primeiro, porque se nós não estamos bem, se não nos tratamos bem, não conseguimos fazer o bem aos outros, não da mesma forma. 

Há uns dias umas amigas convidaram-me para jantar. Já não estou com elas há algum tempo e apetecia-me vê-las, mas tive um dia horrível, chorei por mais de uma hora seguida, e a única coisa que me apetecia era estar sozinha no meu canto. Não é solidão, é solitude! A antiga eu (antiga de não há assim muito tempo...) teria colocado a máscara e corrido para o restaurante. E não me refiro à máscara de protecção contra o vírus, refiro-me ao fato completo da Mulher Maravilha. Chegava lá, como tantas outras vezes fiz, fingia que estava super bem, e ouvia as maravilhas que se têm passado nas vidas das minhas amigas e embora ficasse feliz por elas, no fundo, bem lá no fundo, ia sentir que a minha vida é uma merda. 

Quantas vezes já fizeste isto? Eu fiz muitas. Mas não mais. 

Hoje não vou onde não quero ir (a menos que seja algum compromisso realmente inevitável), não estou com quem não quero estar, não digo "sim" a toda a hora e a toda a gente. Priorizo-me. Coloco as minhas vontade em primeiro lugar. E isto não é egoísmo. Nada disso. Se alguém precisa da minha ajuda eu vou. Continuo disponível para os meus, mas não para toda a gente nem, com certeza, para tudo e mais alguma coisa.

Durante anos não soube dizer "não". Achava que as pessoas iam ficar chateadas ou magoadas. Que iam deixar de gostar de mim, que se afastariam de mim. Hoje já não quero saber. Aprendi que se a pessoa não respeita a tua vontade então não faz parte "das tuas pessoas". Se a pessoa não compreende que não podes ou que não queres, então não precisas dela na tua vida. Pode parecer duro, mas não é. Continuo a mesma pessoa, apenas me priorizo mais. 

E sabem que mais? Foi a melhor coisa que fiz na vida. Pensar em mim, naquilo que quero, naquilo que preciso. Dar-me presentes da mesma maneira que sempre dei aos outros. Fazer o que quero, quando quero. Alguns dirão que é egoísmo, eu chamo-lhe amor próprio. 

Não te esqueças de te priorizar. Não digo para deixares de lado tudo e todos, não digo que não dês atenção aos teus filhos, ao teu marido/mulher, à tua família e amigos. Não é nada disso. Continua a fazer por todos aquilo que o teu coração mandar, mas por favor, faz também por ti. Olha também por ti e não apenas por todos eles. Verás que quanto melhor te sentires melhor os fazes sentir. 

Cuida-te, ama-te, respeita-te...sempre!

Renovada

V de Viver, 12.09.20

Sempre falei por aqui como sou uma pessoa de fases. Acredito que todos somos, mas uns mais que outros.

Eu sou de fases. Acho que até posso dizer que sou de extremos. Oito ou oitenta. Quente ou frio. Sempre fui assim e, embora com o passar dos anos, tenha aprendido a lidar com os meios termos, nunca gostei muito deles.

Talvez por esse motivo a minha vida sempre tenha sido de altos e baixos, ou melhor, eu sempre a tenha considerado de altos e baixos.

Aprender sempre fez parte de mim, sempre foi algo que adoro. Mas o que eu já não recordava, porque em determinada altura da minha vida eu descobri-o mas deixei-me esquecer, é o quanto é bom aprender sobre nós mesmas. 

O quanto é gratificante aprender  a lidar connosco, aprender o que nos fere, o que nos incomoda, o que nos motiva, enfim, conhecermo-nos a fundo. 

Desde que voltei a focar a minha atenção na minha vida, em mim mesma, sinto-me uma pessoa renovada. Sinto-me feliz como não me sentia há muitos anos, e querem saber? Nada mudou à minha volta, no exterior, para que eu me sentisse bem. Foi dentro de mim que as coisas mudaram. Não há nada de novo na minha vida. Não comprei casa, não comprei carro, não casei, não engravidei, não fiz amigos novos, não fiquei rica, nada. Foi só por dentro que as coisas mudaram. 

E, acreditem, a mudança foi tão gigantesca que ainda estou a aprender a lidar com ela.

Voltei a casa finalmente. Ou estou a voltar, porque tudo leva tempo. Mas acredito que sei exactamente onde estou, porque estou e para onde vou. E, acredito também, que é esse o motivo de me sentir tão bem. 

É algo inexplicável sabem? Por vezes sinto que vivo uma montanha russa de emoções. Há bem pouco tempo só conseguia ver o que estava errado, o que me faltava. E agora, parece que não me falta nada. Parece que finalmente tenho tudo. Mas não tenho nada novo, percebem onde quero chegar?

Aprendi a perceber que tudo o que preciso está dentro de mim. E juro-vos que, neste momento, não me falta nada.

Amanhã? Amanhã não sei. Mas hoje estou inteira.

O amor-próprio e o autoconhecimento são revolucionários. Acredito que só através deles nos conseguimos sentir pessoas de sucesso. 

E quem é que não quer ser uma pessoa de sucesso?

Quando te amas a vida muda

Juro-vos que sim!

V de Viver, 04.09.20

Algo que já todos ouvimos dizer é que o amor próprio muda vidas. Para quem não aprofunda o autoconhecimento acredito que seja conversa da "treta". Mas quando aprendemos a conhecer-nos melhor, quando procuramos perceber o porquê das nossas dores, de onde vêm e porque vêm, a nossa vida, realmente muda. 

Toda a dor acaba por ser uma fonte de cura. É nisto que acredito. 

E por ter procurado conhecer as minhas dores, perceber de onde vêm e o porquê delas existirem sinto que estou a viver uma fase fantástica na minha vida. 

Acredito mesmo que quando aprendemos a conhecer-nos, quando vamos para dentro e procuramos ver-nos de verdade, algo de mágico acontece. 

Por isso, hoje passo aqui apenas para vos dizer que o autoconhecimento é o maior poder que podemos adquirir na vida. Talvez vocês já saibam disto, talvez não. Mas se com este post puder tocar nos vossos corações e fazer-vos ver que não há nada tão poderoso quanto conhecermos a nós mesmos, então já vale a pena estar deste lado a escrever.

Tenho andado um pouco ausente do blog porque tenho dedicado mais tempo a outro projecto. E embora goste de pensar que, se for bem dividido, o tempo dá para tudo, a verdade é que por vezes não dá. Pelo menos para quem, como eu, perde horas em deslocações para o trabalho. Infelizmente não me tenho aplicado muito por aqui e acabo por me sentir mal com isso. Em parte, esta sensação de que estou a falhar por aqui, deve-se ao facto de o blog ter sido uma das coisas mais importantes que já fiz por mim. Não quero deixá-lo para trás porque foi, sem dúvida, uma boia de salvação quando me sentia a afundar. E também não quero deixar de aparecer por aqui porque todos vocês que me lêm foram de uma enorme ajuda durante uma fase muito complicada para mim. O blog trouxe-me uma realidade que eu desconhecia. Trouxe-me um mundo de desconhecidos que, por vezes, dizem coisas tão certeiras que parece que me conhecem de toda a vida. 

Por esse motivo quero continuar a escrever por aqui. Quero continuar a ler-vos. E peço-vos desculpa se não tenho sido tão assídua quando deveria. 

Obrigada de coração a todos vocês, e se por acaso pensarem em mim e se lembrarem de mim que seja por ser sempre sincera e verdadeira convosco. 

Por muito ausente que possa estar vocês estarão sempre no meu coração. 

PS: nunca se esqueçam de se amar com todas as vossas forças. Juro-vos que o amor-próprio é algo revolucionário.