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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Sempre o Outono

V de Viver, 08.10.24

Não existe outra estação que me faça sentir desta forma. Casa. Outono para mim é sinónimo de casa. De mantas sobre as pernas. De velas acesas enquanto leio um livro e bebo um chá. É sinónimo de paz. De gotas de chuva a escorrer pelos vidros das janelas. É no Outono que a cama me sabe melhor. Lençol e colcha, porque o frio ainda não é tanto ao ponto de pedir mantas ou edredons quentes, puxados até às orelhas. Som da chuva e do vento a bater forte contra as janelas. E aqui, neste paraíso para onde me mudei há uns meses, todos os sabores, cores e sons do Outono são ainda mais acentuados. 

Um dia li: " tem cuidado com o que desejas". Desde esse dia comecei a desejar ainda com mais força tudo aquilo que sabia que desejava de verdade, tudo o que tinha a certeza de querer mesmo na minha vida. E ela, a Vida, foi-me dando aos poucos tudo aquilo que desejei. A única coisa que me pediu em troca foi que fizesse a minha parte. E digo isto porque este paraíso a que hoje chamo de casa foi um sonho um dia. Vivi junto à praia oito anos da minha vida. Quem me segue desde o inicio sabe o quanto a praia foi casa para mim. O quanto a água salgada do mar se juntou às lágrimas salgadas no meu rosto durante os piores e os melhores momentos. Mas sempre quis viver no campo. Sempre quis acordar e ouvir os passarinhos, ouvir o vento nas árvores, ouvir os animais, ouvir a natureza, a vida. E tenho hoje esse privilégio. Abdiquei de muito para chegar aqui, mas faria tudo novamente.

É aqui o meu lugar. É aqui que gosto de ver o sol nascer, porque aqui ele nasce com cores que nunca antes tinha percebido no céu. Aqui o pôr do sol é o mais bonito que vi em toda a minha vida. Aqui o vento sopra, por vezes tão forte que assusta. Aqui o ar é puro, e o verde é de perder de vista. 

Sempre soube que se estivermos em paz por dentro pouco importa o que está por fora, e até acredito que se tivermos paz interior pouco importa o lugar onde estamos. Mas acreditem em mim, se podermos juntar a nossa paz interior a um lugar de paz exterior, a vida fica ainda mais maravilhosa. 

Hoje estou nostálgica, como apenas o Outono ou as datas especiais me tornam. Hoje recordo dias menos bons na minha vida, dias em que corria para este blogue porque sempre foi um lugar seguro e contava a quem me quisesse ler todo o inferno que vivia por dentro. Foram tempos duros, mas aos poucos encontrei a minha paz. 

E tudo isso ensinou-me que, se procurarmos bem, tudo o que precisamos está dentro de nós. E que se tivermos a coragem de correr atrás dos nossos sonhos, tudo o que já é bom pode sempre melhorar. 

Mas nunca se esqueçam: antes de melhorar, tudo piora. Não se deixem vencer pelos dias menos bons, o sol pode estar mais escondido nos dias cinzentos de Outono, mas ele está sempre lá. 

"Esta chuva é a mágoa de alguém"

V de Viver, 30.10.21

1635615364724.jpg(Imagem: @opoemaensinaacair)

Lágrimas.

De felicidade ou de tristeza. 

Lágrimas. 

Limpam a alma. 

Lágrimas.

Deixa-as correr. Deixa que te limpem. 

Lágrimas.

Frias e húmidas. 

Lágrimas.

Como o mar que nos limpa a alma.

Lágrimas.

Uma forma de seguir.

Lágrimas.

Como a chuva que caí lá fora, sem parar.

Lágrimas.

Gotas que correm, na rua e cá dentro. De mim. De ti.

Lágrimas.

Por dentro ou por fora.

Lágrimas.

Não as temas. Saboreia-as. 

Lágrimas.

Por vezes, tudo aquilo de que precisamos.

Lágrimas.

Tal como a chuva que caí.

Será mesmo a mágoa de alguém?

 

Dias cinzentos

V de Viver, 02.10.20

anandu-vinod-pbxwxwfI0B4-unsplash.jpg(Fotografia: @anandu)

Dias cinzentos, na sua maioria, enchem-me de vontade de escrever. É como se uma força invisível me puxasse para as teclas. Como se uma enxurrada de palavras me quisesse sair da boca, do peito, do coração, dos dedos. Deixo os dedos fluir nas teclas porque no fundo não tenho nada para dizer. É só esta ânsia de escrever. De deixar os sentimentos fluir. A imaginação voar. Este desejo de ouvir o som das teclas. Escrevo sem parar. Não sei o que escrevo. Só escrevo. Deixo-me levar pelo som do vento, o som dos pássaros lá fora. O sol quer espreitar mas as nuvens teimam em lhe dificultar o caminho. Nuvens escuras que já deixaram na terra a sua água. Vento melodioso que me faz ter saudades, de quê? Não sei. São estes dias cinzentos que me fazem voar sem sair de casa. Que levam a minha imaginação para sítios desconhecidos. São estes dias que colocam na ponta dos meus dedos as palavras que saem diretamente do meu coração. Anseio por viajar, sem sair do mesmo sitio. Anseio por me expressar, por deitar para fora tudo o que guardo no coração. Mas nem tudo quer sair, nem tudo pode sair. Recordo-me de segredos. Os segredos são tão nossos como o nosso próprio sangue. Aliás, mais do que ele. O sangue podemos doa-lo, mas os nossos segredos? Não, há segredos que são muito nossos, só nossos. Aqui continuo com as ideias apressadas querendo sair de dentro de mim. Não sei que mais dizer. Há sentimentos tão fortes que nos impedem de os descrever. Há momentos tão marcantes que nos impedem de os repetir, mesmo que apenas em palavras. Desconfio que mesmo que quisesse não conseguiria descreve-los. Vida. É isto a vida, hoje sei. Vou continuar aqui, a deixar-me divagar, a deixar as ideias ir e vir. A deixar fluir os dedos nas teclas. 

Aqui. Em mim.

Afinal de contas não é Inverno?

V de Viver, 20.12.19

79644583_566768594162537_1120440251790131200_n.jpg(Imagem Facebook)

Ontem adormeci ao som da chuva. O vento, forte e obstinado trazia com ele o barulho do mar. Não fossem os meus sons preferidos (principalmente na hora de adormecer) e, provavelmente, eu não estaria a escrever este post.

Não percebo nada de meteorologia, os meus conhecimentos sobre o tema não se estenderam além dos retratados nas aulas de geografia de algum ano escolar, já nem sei precisar qual. Mas hoje ao ler nas noticías um título que dizia: "Depois da Elsa chega o Fabian" não consegui deixar de pensar o quão sensacionalistas estão os jornais. 

Elsa? Fabian? Não será apenas Dezembro? A sério, não é normal haver chuva e vento forte em Dezembro?

Juro que não consigo perceber o porquê de tanto alarido. O porquê de terem que dar um nome a cada temporada de chuva e vento. Estamos no fim do Outono, quase início de Inverno, esperavam o quê? Temperaturas acima dos 30 graus e um sol esplendoroso todos os dias?

Eu adoro sol, e nada me deixa mais animada do que acordar com o cantar dos passarinhos na janela, porque imediatamente, ainda antes de abrir a persiana, sei que está um bom dia lá fora. Mas a chuva faz falta. É tempo dela cair. 

O que vale é que ainda existem pessoas imaginativas porque logo após ler sobre as depressões Elsa e Fabian vi a imagem que se apresenta neste post.

E é verdade, esqueçam lá isso. Está um "vento dum cabrão". E é altura dele.

Deixar chover

V de Viver, 19.10.19

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Está a chover lá fora. O sol não despertou. Não há passarinhos a cantar na varanda. Não há barulho na rua. Vou à janela só para confirmar que ainda estou no mesmo sítio. Que não aconteceu nada extraordinário durante a noite que levasse o meu pequeno apartamento para o meio do nada. É que não é normal não ouvir nada lá fora sabem?! Mas eu gosto. Aí se eu gosto do silêncio. O único problema do silêncio é que nos obriga a ouvir o que temos cá dentro. Eu hoje também não tenho sol. Hoje só me apetece, tal como o dia, deixar chover. Provavelmente vou deixar. Ou talvez daqui a pouco o sol acorde. Dentro de mim. Lá fora dúvido muito. Mas ele está lá. Pode não estar a brilhar mas está lá. Acredito que dentro de mim seja igual. Pelo menos gosto de pensar que sim.