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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

7 dias

V de Viver, 12.01.22

kristina-tripkovic-nwWUBsW6ud4-unsplash.jpgAdivinhem quem se deixou caçar pelo Covid-19? Exactamente, eu.

Mas não vos venho falar do facto de nos mandarem ficar em casa sem que ninguém se preocupe se estamos bem ou mal. Para quem, como eu, vive sozinha não é fácil. Mas não é sobre o facto de nos dizerem que nos vão contactar e nunca o chegarem a fazer que vos venho falar. Embora me assuste pensar que poderão haver pessoas que não têm ninguém e que, efectivamente, podem passar mal sem que ninguém sequer saiba ou se preocupe. Mas não é sobre isto que vos venho falar.

Também não vos venho falar sobre ter tido o lixo sete dias em casa. Sempre ouvi aquela expressão: "as visitas em casa são como o saco do lixo, mais de três dias e começa a cheirar mal". Não que eu concorde plenamente com esta expressão, confesso. Mas não vos venho falar disso, afinal de contas sei que há pessoas que colocam a máscara e vão levar o lixo. Eu também o podia ter feito, mas vivo num prédio, uso o elevador e achei que não devia fazê-lo. Por isso, não é disso que vos venho falar.

Também não vos venho falar do facto de ter que comer o que há em casa, porque afinal de contas eu vivo sozinha, a 200km da minha família. E sim, posso-me dar por contente de ter comida em casa porque há quem não tenha. E sim também, claro que podia ter pedido a algum dos meus colegas de trabalho que fizesse 40km para me vir trazer compras, mas não quis dar trabalho, por isso também não é disto que vos venho falar.

Não é também sobre os sintomas que vos venho falar. Não é sobre a tosse, nem sobre o ranho, nem sobre a dor de cabeça constante. Nem sequer sobre o cansaço físico que, realmente, não me larga mesmo tendo estado sete dias sem fazer nada. Também não é sobre o facto de ter tirado um café na minha máquina de café e de o ter despejado pela pia abaixo porque me sabia a soro fisiológico. Não é sobre nada disto que vos venho falar.

Também não é sobre o facto de pormos tudo em perspectiva e, não pela primeira vez na vida, chegar à conclusão que a saúde é, sim, o nosso bem mais valioso. 

Mas também não é sobre o facto de ser exactamente quando estás doente que vês quem realmente é teu amigo. Sim. Aqueles que mandam pelo menos uma mensagem por dia a perguntar como te sentes. Não, não é sobre o sentires-te acarinhada que vos venho falar. 

Nem é também sobre o facto de pessoas que não esperavas te ligarem a perguntar se estás bem. Não, mais uma vez, não é sobre o facto de te fazerem sentir especial com um simples gesto que vos venho falar. 

Dois minutos. Às vezes menos. É o tempo que leva a fazer alguém sentir-se especial. Impressionante, não?

Acreditem ou não, também não é sobre a solidão que nos assola quando estamos sete dias fechados em casa que vos venho falar. Não é sobre o facto de, mesmo para quem está habituado à solidão, ser mais difícil lidar com ela quando não é por vontade própria. 

Nem sobre o facto de ninguém estar, realmente, preparado para perder a liberdade ainda que por um curto espaço de tempo. 

Nem, e isso seria egoísmo meu, sobre o facto de ter sentido falta de ver e cheirar o mar, de ser acariciada pela brisa e pelo calor do sol no rosto enquanto os meus pés tocam a areia fria. 

Não, não é sobre nada disto que vos venho falar. Mas querem saber a verdade? Se não é sobre isto, então não sei sobre o que vos queria falar. Porque isto é tudo o que vos posso dizer: a vida é imprevisível. Um vírus pode sim chegar e mudar os nossos planos. E é um abre olhos. Porque percebemos o quanto somos pequenos e insignificantes neste mundo. E ao mesmo tempo percebemos como somos todos iguais. Como isto nos pode afectar a todos. Aos que acreditam, aos que não acreditam e aos que não pensam muito no assunto. Achamos sempre que só acontece aos outros, mas adivinhem: não acontece só aos outros. E não, não é só uma gripe. É uma gripe que nos tira a liberdade e, ainda que sejam só sete dias (para assintomáticos/sintomas ligeiros), nos priva daquilo a que estamos tão habituados, a nossa rotina.

 

PS: não me estou a queixar, estou a escrever sobre a minha perspectiva.

PS2: já estou recuperada e fora do isolamento (terminou ontem, embora ainda não tenha saído de casa... Juro-vos que nunca desejei tanto ir levar o lixo!!). 

Fotografia: @kristinatripkovic

200

V de Viver, 17.07.20

200 dias.

200 dias de 2020 já passaram. 

200 dias de um ano, completamente, fora do vulgar. 

200 dias dos quais, a grande maioria, foram de descobertas, de reaprender a viver.

200 dias de muita mudança.

200 dias de poucos beijos, abraços, carinhos.

200 dias dos quais muitos foram de saudades.

200 dias dos quais poucos foram de festas, convivios, jantaradas.

200 dias dos quais muitos foram de lágrimas, muitos foram de perda.

200 dias dos quais muitos foram de resiliência.

200 dias dos quais muitos foram de videochamadas, de palavras ditas ao longe.

200 dias de adaptação.

200 dias dos quais a grande maioria foram de medo. Porque sempre tememos o que desconhecemos.

200 dias de esperança.

200 dias em que muitos foram de noticias tristes, sufocantes, nas nossas televisões.

200 dias dos quais muitos foram de palmas à janela.

200 dias dos quais muitos foram de números, de estatísticas. 

200 dias em que andámos a meio a gás.

200 dias estranhos, atrevo-me a dizer.

200 dias em que só pensámos em como éramos livres e sortudos por isso.

200 dias em que o mundo mudou.

200 dias dos quais, na maioria, o mundou quase parou.

Restam, este ano, 166 dias. 

Que os possamos aproveitar da melhor forma, com todas as mudanças a que fomos sujeitos. Estes duzentos dias provaram-nos, mais uma vez, que rico ou pobre, quando tivermos que cair, caímos todos. A saúde é, sempre foi, e sempre será o nosso bem mais precioso. Aquele que dinheiro nenhum compra. Pode comprar melhores tratamentos, pode comprar melhores condições. Mas não pode comprar a vida. E sem saúde não vivemos. Sobrevivemos. 

 

 

 

 

Singela saudade

V de Viver, 20.04.20

Hoje acordei com saudades da minha mãe. Do beijo e do abraço que só ela sabe dar. Talvez seja a nostalgia provocada pela chuva que caí, vigorosa, lá fora. Ou, talvez, a melancolia motivada pelo tempo que passou desde a última vez que a vi e abracei. Toda esta guerra invisível, contra este vírus maldito que veio mudar as nossas vidas, já dura há tempo demasiado. E, como toda e qualquer guerra, também esta deixa mazelas. Os dias passam, para mim intercalados entre temporadas a trabalhar e outras, de duração análoga, em casa. Dia após dia. Dias que se misturam. Que se confundem. Ontem foi terça-feira? Ou domingo? Tanta faz. Começam a manifestar-se as saudades da simplicidade do quotidiano. Saudades de molhar os pés na água salgada do mar. De pisar a areia fresca da praia. De caminhar ao som harmonioso dos pássaros e do restolhar. Saudades da normalidade do dia a dia. De passear pelas ruas repletas de multidões, cada um no seu ritmo, a lidar com os seus problemas, a viver a sua vida. De olhar as montras das lojas. De entrar nas lojas de decoração apreciando tudo aquilo que posso e, principalmente, aquilo que não tenho possibilidade de comprar. Saudades de beber um café na esplanada. Das jantaradas com os amigos. Das longas e ruidosas conversas de família ao redor de uma mesa farta, de comida e de amor. Saudades, até, de ir às compras com calma, sem pressa, e sem sentir que estou a fazer algo errado. Saudades dos abraços aos colegas, dos cumprimentos sem medo, dos beijinhos de saudação. Das idas ao mercado comprar fruta e legumes frescos e das conversas entre as gentes que lá encontro. Pessoas sem medo, alegres. Conversas de circunstância, umas longas outras menos demoradas, mas calorosas. Saudades de tudo aquilo que pensámos ter por garantido. Que julgámos ser tão nosso que ninguém nos poderia tirar. Mas tiraram. E, oxalá nos seja, rapidamente, devolvida essa liberdade de viver aquilo que amamos, principalmente, as coisas mais simples. 

O silêncio da cidade

V de Viver, 08.04.20

Acorda tarde. Levanta-se e come qualquer coisa. Tira um café. Sente-lhe o cheiro ainda antes de o ver a cair na chavéna. Pega na chávena, atravessa a pequena sala, abre a janela e sai para a varanda. Senta-se na cadeira de plástico que lá se encontra à espera de ir para o lixo. A mesma cadeira de sempre, que ainda continua, contra todas as probabilidades, a conseguir sustentar-lhe o peso. Aquela cadeira que já lhe viu um milhão de sorrisos e lágrimas. Senta-se. Olha à volta. Vê o mar. Aquele pedacinho de azul que lhe acalma a alma. Deixa-se estar com a chavéna de café entre as mãos. Sente o liquído quente, sente o cheiro forte que lhe acaricia as narinas. Leva a chavéna aos lábios e sorve um pouco daquela droga que ela tanto adora. Antes mesmo de lhe sentir o sabor apercebe-se do silêncio. Escuta-o. Não há pessoas a passear na rua. Não há carros a circular. O cão da vizinha não ladra e os passarinhos hoje não se deixam ouvir. A vida mudou há uns dias. O silêncio apoderou-se da cidade. Ouve, agora, crianças a brincar nos quintais das vivendas. Nem sabia que naquelas casas viviam crianças. Também ao anoitecer, da janela da sala, ela percebe mudanças. Vêm-se luzes acesas em janelas onde nunca antes vira uma luz brilhar. E ela é uma pessoa atenta. E ela passa muito tempo naquela varanda, naquela cadeira. Pensou que eram casas vazias. Afinal parecem estar cheias de vida. Leva, novamente, a chavéna aos lábios e absorve mais um pouco de café. Deixa-se ficar sentada a apreciar o mar. Ao longe escuta as gaivotas. Imagina-as a percorrer a praia. Uma praia que, se todos estiverem a ser civilizados, será apenas delas por estes dias. Sente-se grata por estar viva. Pensa nas pessoas que já perderam a vida nos últimos dias. Nas pessoas que perderam entes queridos dos quais nem puderam despedir-se. Pensa, não pela primeira vez, se isto será a vida a tentar chamar a atenção da humanidade. Se será uma forma de nos mostrar que estavamos a fazer tudo errado. Acaba o café. Não tem respostas para as suas perguntas. Sopra uma brisa ligeira que a faz arrepiar. Levanta-se da sua cadeira, abandona a sua varanda e recolhe-se no interior do seu apartamento. E, mais uma vez, sente-se grata por ter um porto seguro. 

Vidas suspensas

V de Viver, 31.03.20

Ruas desertas. Trânsito vago. Jardins distituídos de risos infantis. Caras escondidas detrás de máscaras. Mãos ocultadas por luvas. Vidas suspensas. Não se ouve ruído de automóveis. Não se escutam conversas susurradas na rua. Passeiam-se os cães a um ritmo acelerado. Luzes cintilam em janelas de prédios que, anteriormente, pareciam desprovidos de vida. Músicas tocam, alto, nas janelas desses mesmos prédios. Pessoas aplaudem. Ecos de assobios ouvem-se pelas cidades. Cidades essas que descansam, ermas, estranhando, com certeza, por não serem calcadas como outrora. Esplanadas recolhidas. Escuridão. Silêncio. Vidas em stand-by. Pessoas que esperam, ansiosamente, por voltar a rotinas que, ainda há uns dias, abominavam. Seres humanos, não habituados a ser privados da sua liberdade, sentem agora falta de vulgares passeios na rua, de porês-do-sol na praia, de fins de tarde nas esplanadas. Todos. Talvez, finalmente, no tempo que lhes foi concedido ficar em segurança, no tempo que lhes foi oferecido para olharem para a vida. Talvez a compreensão de que somos todos iguais os tenha bafejado. Aqui, perante uma pandemia, situação desconhecida para muitos de nós, descobrimos que, afinal, somos todos iguais. O dinheiro de muitos não lhes conseguiu comprar a liberdade. Assim como também a saúde ele é incapaz de comprar. Talvez, agora, consigamos viver neste mundo todos juntos. Sem brigas, sem discusões, sem comparações. Todos pela mesma causa.

A vida. 

V. de Viver

Coisas que eu fiz durante a minha quarentena

V de Viver, 30.03.20

Pessoas lindas e maravilhosas que me lêm, como estão? Eu estou bem, embora um pouco apreensiva por estar a passar para vos dizer que a minha quarentena acabou!

Pois é. Hoje volto ao trabalho. Está na hora de descansar quem esteve a trabalhar e de outros (eu incluída) assegurarem agora o serviço. 

E não podia ir sem vos deixar umas palavrinhas.

Primeiro: agradecer por me lerem e pelo carinho deixado nos comentários. Gosto de vocês, a sério! Obrigada.

Segundo: informar-vos que é possível que nos próximos dias esteja um pouco ausente pois vou trabalhar mais horas do que o costume e, como já vos disse várias vezes (não fosse essa uma das minhas grandes "dores") às horas de trabalho ainda tenho que juntar o tempo das deslocações, são quase 80km todos os dias. Contudo, prometo tentar passar, nem que seja para partilhar a frase do dia. A propósito, nunca vos perguntei se gostaram da ideia de blogar uma frase diáriamente. Gostam?! Digam-me lá, por favor!

Terceiro: indo de encontro ao título do post quero partilhar convosco, resumidamente, o que fiz durante estes dias.

1º Papéis: sim, esta dica que vos deixei foi seguida à risca. Dei um olho à papelada que havia aqui por casa. Organizei tudo por pastas e deitei ao lixo imensa coisa que não fazia falta.

2º Roupa: dei um jeito aos roupeiros, gavetas de roupa interior, etc,. Deixei de parte algumas coisas que já não uso, ainda deitei ao lixo algumas que já estavam demasiado usadas. Também dei "uns pontinhos" em algumas que estavam em mau estado, não ficaram novas mas ainda dão para usar. 

3º Arrumei os armários da sala: troquei algumas coisas de sítio e acabei por ganhar mais espaço.

4º Limpei e arrumei os armários da cozinha: estava a precisar de espaço, a cozinha é pequena e já tinha inventado umas prateleiras. Acabei por dar um jeitinho, mudar algumas coisas de sítio e ganhar espaço. Arrumei também o armário do WC, já agora! (Não, eu não comprei mil rolos de papel higiénico)

5º Organizei as fotografias: adoro fotografias! E, também neste ponto segui as minhas próprias dicas. Tinha um álbum de fotografias vazio (oferta da minha irmã no ano passado, já agora) e imensas fotos dentro de envelopes. Acabaram por ficar todas dentro do álbum e os envelopes foram para o lixo.

6º Limpei, limpei e limpei a casa: é verdade. Provavelmente, limpei em excesso, se é que isso existe!

7º Mudei a decoração: troquei algumas coisas de sítio e só isso já faz a diferença. Como é lógico não comprei nada, tudo o que tenho é aquilo que tinha, apenas mudei de sítio. 

8º Treinei! Verdade. Treinei na sala quase todos os dias. Tirei a mesa para o lado e fiquei com algum espaço, coloquei um video de treino a rodar e já está...

9º Vi o Harry Potter: o primeiro filme saiu em 2001. Sim 2001, não me enganei, e provavelmente muitos de vocês sabem. Nunca tinha visto. Quase vinte anos depois do lançamento do primeiro, vi-os todos! 

10º  Descobri novos blog's: é verdade, andei a bisbilhotar pela blogosfera e descobri mais uns quantos blog's que passei a seguir. Curioso que uma grande maioria são bem recentes, iniciados mesmo neste mês de Março. Penso que o vírus pode, neste caso, trazer coisas boas também. Mais pessoas a escrever, e a escrita faz-nos tão bem

11º Dormi: pessoas queridas, a sério! Dormi. Dormi tanto. E foi TÃO bom. 

12º Fiz bolos, bolos e mais bolos: adoro cozinhar. Para além de ter experimentado algumas receitas novas, voltei a fazer bolos, algo que não fazia há imenso tempo. Quando tinha os meus 10/11 anos, lá em casa, pelo menos ao fim de semana havia sempre um bolo em cima da mesa. A minha mãe deixava-me fazer os bolos sozinha e eu sentia-me uma grande chef. Lembro o cheiro do bolo acabado de sair do forno com imensa nostalgia. E ainda hoje sinto a mesma sensação de "estar em casa" quando tiro um bolo do forno. 

13º Li e escrevi: li muito, escrevi muito. E quanto a isso não há muito a dizer. Todos sabemos qual é a sensação

14º Namorei: sim. Felizmente consegui estar com o meu namorado. Ficámos, lógicamente, sempre por casa (saímos apenas uma vez para ir às compras). Aproveitámos para ver filmes, ver séries e, claro, namorar! 

15º Não fiz nada: sim, exacatamente isso. Também gastei algumas horas a não fazer nada. E sabem que mais? Foi fantástico!

E pronto, julgo ser um bom resumo daquilo que fiz nos últimos dias. Agora é hora de ir para a rua. De ir cumprir o meu dever. Espero, de coração, que todos vocês e os vossos familiares se possam manter a salvo nos vossos lares. Aproveitem muito este tempo. O tempo é a coisa mais preciosa que temos. Vivam e aproveitem cada momento, agora e sempre. 

Nunca se esqueçam que aquilo que já vivemos ninguém nos pode tirar. O amanhã é incerto, aproveitem hoje. É tudo o que temos!

PS1: percebi que tenho muito pouca roupa. De verdade. Detesto comprar roupa, vou usando a que tenho, e usando, e usando...até que não há outro destino para ela que não seja o lixo e depois percebo que quase não tenho o que vestir! 

PS2: sempre adorei comer a massa do bolo antes de ir ao forno, vocês não?

PPS: provavelmente há mais uma coisa que fiz durante a quarentena: ganhei peso! It happens! What can i do?

Vamos todos ficar bem

V de Viver, 26.03.20

1.jpg(Imagem: google)

Sei que tudo isto parece o fim do mundo. Sei que muitos de nós fomos obrigados a mudar, drásticamente, as nossas rotinas. Mas também sei que vamos todos ficar bem. Porque tudo passa. Tudo acaba sempre por passar. Mesmo nas fases mais negras. Nos dias mais cinzentos. Quando achámos que a nossa vida era uma miséria. Quando julgámos não ter sorte nenhuma. Quando chegámos ao fundo do poço. Quando cada um de nós viveu aquela que considerou a pior fase da sua vida. Sempre. Sempre ficou tudo bem. Também desta vez vai ficar tudo bem.

Porque nós somos resilientes. Porque temos muito mais força do que aquela que julgamos ter. Sim. Mesmo que trabalhes por conta própria e percebas, nesta fase, que o teu negócio e vida profissional vão sofrer um terremoto. Mesmo que tenhas sido despedida ou que estejas desempregada. Sim, mesmo tu, que estavas, novamente, a entrar no ritmo dos treinos e agora te viste obrigado a parar. Que não sentes vontade de te exercitar. E tu, que estavas focado nos estudos e agora não tens cabeça para estudar. Mesmo que estivesses a sair de uma situação complicada e, agora que começavas a ver a luz ao fundo do túnel, foste brindada com esta escuridão. Vamos todos ficar bem. Mesmo que não vejas a tua família desde que este inferno começou. Que, pela primeira vez em muitos anos, não tenhas abraçado e beijado o teu pai no Dia do Pai. Mesmo que nunca tenhas passado tanto tempo sem pegar na tua irmã ao colo. Ou no teu sobrinho. Ou, em alguns casos, até no teu filho. Mesmo que seja a primeira vez na vida que não beijas a tua mãe durante tantos dias seguidos. Ou que, agora, não visites os teus avós diáriamente, como sempre fizeste. Mesmo assim, vamos todos ficar bem. Mesmo que tenhas sido obrigado a alterar a tua rotina. Que os miúdos estejam a dar contigo em doida. Lembra-te, antes doida do que doída. Mesmo que tenhas discutido com o teu companheiro. Que o cão tenha feito xixi na sala porque estavas a adiar a ida à rua. Mesmo que estejas aborrecido por não poderes fazer a tua vida normal. Vamos todos ficar bem. Mesmo que te pareça que os teus esforços de não sair de casa há mais de dez dias sejam em vão, porque continuas a ver pessoas que não estão a cumprir o que lhes é pedido, sabe que não é em vão. Fizeste, e estás a fazer, a tua parte e deves, apenas, sentir orgulho nisso. Também eu tive vontade de sair. Também a mim me apeteceu ir caminhar ou correr. Não o fiz e, também eu, vi quem o fizesse. Ainda assim. Vamos todos ficar bem. Mesmo que uns se tenham esforçado mais para isso acontecer do que outros. Vamos todos ficar bem.

Estamos todos no mesmo barco. Estamos todos a viver dias cinzentos. Mas o sol vai voltar a brilhar para todos nós.

Fé. Esperança. Paciência. E amor. 

Vamos todos ficar bem 

Gratidão em tempo de crise

Consegues tirar algo de positivo desta tormenta?

V de Viver, 24.03.20

Será errado, na fase em que nos encontramos, sentir-me grata?

Faço parte daquela percentagem de população que tem que continuar a trabalhar. Sim, é "engraçado" que agora, talvez, os portugueses percebam quais as profissões que, realmente, fazem a diferença na vida da nação. E, pasmem-se, não são aqueles que ganham milhões a correr atrás de uma bola. Mas não é sobre isso que vos quero falar hoje.

Hoje quero falar de gratidão. Sim. Estou, extremamente, preocupada com toda a situação que flagela o nosso país e o mundo. No entanto, não posso negar que tendo ficado de quarentena na primeira fase (volto ao trabalho, com horário redobrado, na próxima semana) me sinto grata por poder estar resguardada. É verdade que dentro de pouco tempo já vou ter que ir para a rua. Vou cumprir a minha missão e podem ter a certeza que irei cumpri-la de alma e coração. Mas com medo, muito medo, não por mim, mas pelos meus, de trazer alguma coisa para casa. 

O nosso lar é o nosso porto seguro e a última coisa que queremos é vê-lo invadido. E neste caso o invasor é invisível. E, eu pelo menos, tenho ainda mais medo daquilo que não posso ver. 

Mas agora, a viver no momento presente, sem pensar no que os próximos tempos nos vão trazer, aquilo que sinto por dentro é gratidão. Gratidão por estar viva. Gratidão por, até agora, os meus estarem incólumes. Gratidão por ter a minha casa. É para mim incompreensível, que as pessoas se queixem por ter que ficar em casa. Caramba, será que não conseguem perceber que há pessoas que nem uma casa têm para se proteger? Que têm que dormir na rua, à mercê deste inimigo invisível! Não só hoje, claro. Mas sobretudo hoje. Quando, quase todos, podem estar em casa no conforto e no calor da família. 

Não consigo entender do que se queixam aqueles que podem ficar em casa. Compreendo, sim, que é uma grande mudança na nossa rotina, mas não podem ver o lado positivo? 

Eu consegui ver o lado positivo. Talvez porque sei que a qualquer momento posso ser chamada para ir para a rua, e que, ainda que seja apenas na próxima semana, vou ter que sair para trabalhar. Mas eu consegui ver o lado bom. Porque tudo tem um lado bom. Estou em casa, tenho ao meu lado o meu namorado. Já vimos mais séries e filmes nestes dias do que nos últimos seis meses. Já passámos mais tempo juntos agora do que desde o ínicio do ano. Falamos todos os dias com as nossas famílias por videochamada, muitas vezes "jantamos todos juntos". Porque agora, quase todos, estão disponiveis. Isso é mau? Por favor, pensem bem! Isso é mau? 

Da minha parte digo-vos, sinceramente, aproveitem este tempo. Aproveitem-no, acima de tudo, para estar com a vossa família seja presencial ou virtualmente. 

Talvez isto tenha sido a vida a dar-nos uma lição. A mostrar-nos aquilo que realmente importa. 

O amor.

 

E vocês, conseguem ver algo positivo nesta tormenta?

 

Estado de emergência

V de Viver, 18.03.20

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18 de Março de 2020, 20H01

É sentada na minha cozinha, a jantar uma taça de caldo verde, que me deparo, pela primeira vez na minha vida, com a declaração pública, por parte do Presidente da República Portuguesa, a decretar estado de emergência.

Hoje, estranhamente, a minha TV está ligada. Hoje ouço, de forma atenta, aquilo que o Presidente da República tem para dizer. Porque interessa a todos.

De todo o discurso proferido pelo Presidente da República, além da informação principal, o estado de emergência, retenho, e faço questão de aqui deixar, as seguintes palavras:

"Nesta guerra, como em todas as guerras, só há um efectivo inimigo. Invisível, insidioso e por isso perigoso. Que tem vários nomes: desânimo, cansaço, fadiga do tempo que nunca mais chega ao fim. Temos de lutar todos os dias contra ele. Contra o desânimo pelo que corre mal ou menos bem. Contra o cansaço das batalhas serem ainda muitas e parecerem difíceis de ganhar. Contra a fadiga que tolhe a vontade e aumenta as dúvidas, alimenta indignações e revoltas. Tudo o que nos enfraquecer e dividir nesta guerra alongará a luta e torná-la-a mais custosa e dolorosa. Resistência, solidariedade e coragem são as palavras de ordem."

Lembrem-se que a nossa volta à normalidade depende da contenção do vírus. Já o disse aqui em post's anteriores, e volto a dizer: quanto mais depressa deixarmos de fazer a vida normal, mais depressa voltamos à normalidade.

A juntar às palavras de ordem pronunciadas pelo nosso Presidente da República, eu junto: esperança e fé. 

Vai correr tudo bem!

 

 

15 ideias do que fazer durante a quarentena

Sejam conscientes, mantenham-se em casa

V de Viver, 17.03.20

Ainda na sequência do meu post anterior, Nevoeiro, e na esperança de que, embora os meus textos não sejam lidos por milhares, ainda assim aqueles que os lêm possam passar "a mensagem" decidi criar este post.

Deixo aqui algumas ideias de actividades para quem se encontra a seguir, acertada e distintamente, as ordens de se manter em casa o máximo possível. 

1- Acordar tarde ( sim pessoas queridas, estamos sempre a queixar-se de que dormimos pouco, então cá está a oportunidade de dormirmos até mais tarde);

2 - Brincar com os filhos (quem diz filhos diz também sobrinhos, irmãos, etc. Os pequenos agradecem a atenção e no fim disto tudo ainda vão sentir a falta dela);

3 - Jogos de tabuleiro, jogar as cartas, jogos de papel e caneta (do género do que eu fazia com os meus primos e irmã [e ainda faço quando temos oportunidade], algo como: um diz o alfabeto mentalmente e o outro diz STOP, e a partir da letra que sair escrevem no menor período de tempo um nome, uma cidade, um objecto, um animal, etc. tudo iniciado com aquela letra);

4 - Pôr as leituras em dia (sabem aquele livro que já está na prateleira há tanto tempo que já tem um quilo de pó? Esse mesmo, aproveitem para o ler agora. Não tens nenhum livro por ler [tal como eu, diga-se de passagem] então volta a ler um que já leste há muitos anos, ou então procura na Internet um em PDF);

5 - Arrumar as gavetas (sabem aquela gaveta onde tudo o "não sei onde guardar isto!" vai parar? Sim, admitam, todas as casas têm uma. Aproveitem e organizem-na);

6 - Tens roupa que não vestes há séculos a ocupar espaço no armário? Óptimo! Aproveita a quarentena para separá-la e oferecer a alguém (quando a "tempestade" passar) que possa gostar, ou até quem sabe, se tiveres jeito para linha e agulha, lhe possas dar um aspecto diferente?;

7 - Papéis! Sim. Eles precisam ser organizados e alguém, algum dia, terá que fazê-lo. Pega nas facturas, receitas médicas, garantias de electrodomésticos, recibos de vencimento, etc. e vê o que realmente é necessário guardar. O que não fizer falta...bem, já sabes o que deves fazer!;

8 - Gostas de cozinhar? Cozinha algo que nunca tenhas experimentado. Ou até podes pesquisar algumas receitas para experimentares quando a vida voltar à normalidade e conseguires ir às compras tranquilamente;

9 - Séries. Quem é que não gosta de ver uma série? Aquela sensação, ao fim de alguns episódios, de que já conhecemos as personagens e até de nos "preocuparmos" com o que elas vão fazer. Então, aproveita e revê uma série antiga, tipo FRIEND'S. Quem é que não adora?! Ou procura uma série nova e aproveita bem o teu sofá!

10 - Ou filmes. Certamente existe algum filme que queres ver e ainda não vistes (no meu caso existem uns 30). O Senhor dos Anéis, Harry Potter, Velocidade Furiosa, John Wick, James Bond, O Hobbit, enfim... existem muitos que são uma espécie de trilogia (digo espécie porque não faço ideia se é assim que se diz ) e que podes aproveitar para ver. Ou então daqueles nomeados para Óscares, sei lá, existe uma panóplia de possibilidades.

11 - Limpar a casa. Vocês não gostam? Eu adoro. É melhor que terapia (estou a mentir, não sei dizer porque nunca experimentei terapia). Mas a sério, limpar a casa é uma actividade espetacular e se for a ouvir música melhor ainda;

12 - Pronto, eu admito que esta aqui nem todos vão achar piada, aliás, é provável que uma grande maioria fique a pensar que eu tenho 80 anos. Não tenho, ok? Mas porque não experimentam (para quem ainda não sabe) aprender a bordar? Eu adoro bordar em ponto de cruz, tenho imensos quadros feitos por mim e para quem tiver filhos pequenos, enquanto eles dormem, podem aproveitar e fazer aqueles quadros super giros que dizem o nome, o dia de aniversário, o tamanho e o peso com que eles nasceram. Eu tenho um, feito por mim, e para mim  (fiz quando tinha 14 anos, já agora). Claro que iriam precisar de tecido e linhas mas, quem sabe, as vossas mães ou alguém próximo não possam ter?;

13 - Fotografias, se forem como eu, têm aos milhares. Vá, nem tanto assim. Mas tenho muitas e "espalhadas" em vários pacotes de papel. Se tiverem um albúm podem aproveitar para as organizar;

14 - Treinar. "Ah mas os ginásios estão fechados e não disseste para ficarmos em casa?". Exactamente. Fiquem em casa e treinem em casa. É importante que não deixemos de nos exercitar porque, numa fase em que estamos mais preocupados e atentos à TV, a tendência será para ficar no sofá a maioria do tempo. Mas hoje em dia existem imensos videos com ideias de treinos e no Instagram há imensas pessoas a partilhar treinos caseiros para esta fase. É só procurar!;

15 - Achaste todas as ideias uma seca, e ainda por cima o tempo lá fora está brutal? Tens varanda? Ok. Não precisas ir para a praia com um grupo de amigos apanhar sol. Com os devidos cuidados e precauções, podes sim, apanhar um pouco de sol na varanda enquanto falas com os amigos por videochamada. Agora... não abusem. Ainda não é verão!

 

E pronto, claro que eu podia estar aqui o resto do dia a escrever ideias para porem em prática nestes dias de quarentena. Mas o que eu pretendo mesmo com este post é chamar a atenção para que as pessoas vejam que existe uma enorme possibilidade de coisas para fazer em casa. Já para não falar de uma, que agora que penso nisso podia ser a 16: passar horas no facebook, no instagram, twitter ou que rede social seja. Uma grande maioria de nós já faz isso quando "não tem tempo para nada", imaginem agora! Aproveitem e acima de tudo, sejam conscienciosos. Evitem expor-se a riscos desnecessários. Lembrem-se que muitos profissionais gostavam de ter esta oportunidade de ficar em casa e não podem fazê-lo. 

Não se esqueçam: "quanto mais depressa deixarmos de fazer a vida normal, mais depressa voltamos à normalidade". 

 

PS: não sugeri a escrita porque essa parece-me óbvia!Quem gosta de escrever vai, certamente, aproveitar estes dias para o fazer. Até porque a atual situação acaba por nos fazer pensar muito acerca da vida e do que andamos cá a fazer.