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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Uma mensagem a quem me lê

V de Viver, 22.05.22

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O dia lá fora está cinzento. Não sei quanto a vocês, mas a mim estes dias convidam-me a ficar no sofá. Ler um livro. Ver um filme. E reflectir. Dias cinzentos dão-me sempre vontade de pensar sobre a vida. Sobre tudo o que já vivi, o que estou a viver e o que ainda está para chegar.

Tenho andado [novamente] ausente do blogue. Não sei se posso usar a desculpa da vida corrida. Até porque sou a primeira pessoa a defender que, bem organizado, o tempo dá para tudo. Tenho continuado a escrever bastante. Mas cada vez mais aquilo que escrevo é tão pessoal que nem sempre é possível partilhar por aqui. 

Tenho feito mais por mim todos os dias. Tenho-me amado mais, mimado mais, apreciado mais. Estou feliz. Espero muito que vocês que me visitam também estejam bem e felizes. 

A vida segue, os dias entrelaçam-se entre si numa enorme mistura de altos e baixos, de dias bons com dias menos bons. Acredito que assim seja para todos. 

Estou sinceramente em paz. Batalhei muito para me tornar na pessoa que sou hoje e digo-vos, de peito cheio, que me orgulho bastante de quem sou hoje em dia. Gostava que todas as pessoas no mundo percebessem que quando nos amamos, quando cuidamos de nós, quando nos priorizamos, a vida começa a fluir de outra forma. 

No dia em que deixei de me sentir uma vitima e percebi que a responsabilidade pela minha vida, pela minha felicidade e pelo meu futuro só dependiam de mim a minha vida mudou completamente. É verdade sim que o amor próprio é o mais importante de todos. Quando nos amamos o amor chega-nos. Quando nos fazemos felizes a felicidade encontra-nos. Quando fazemos o bem o bem vem ter connosco. Acreditem. 

Hoje faço algo por mim todos os dias. Seja o que for. E foi a melhor mudança que fiz até hoje na minha vida. Priorizar-me foi a chave para chegar ao nível de paz e amor próprio em que me encontro.

Afinal sempre há frases clichés que são pura verdade:

"Quando estamos bem por dentro isso nota-se por fora."

É uma verdade universal. 

Para hoje, nesta passagem pelo blogue, sendo honesta quando vos digo que não sei quando cá voltarei (pode ser amanhã, pode ser daqui a uma semana, ou até daqui a um mês) quero deixar-vos um grande agradecimento.

Após esta ausência percebi que tive direito a dois destaques. Um pela minha querida Ana de Deus que se mantém sempre presente no meu blogue e a quem sou imensamente grata por todo o carinho. E outro pela equipa do sapo a quem sou também muito grata por ao longo dos meus (ainda poucos) anos de blogue ir, vez ou outra, destacando aquilo que escrevo. Muito grata e feliz por saber que aquilo que escrevo chega aos vossos corações.

E agradecer de igual forma a todos vocês que vão passando por cá por nunca deixarem de o fazer, mesmo com as minhas longas ausências. 

Se vos puder deixar uma mensagem hoje que seja esta: amem-se muito, priorizem-se sempre. Quando estamos bem tudo à nossa volta fica bem. 

Ancorar

V de Viver, 02.02.22

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Há dias em que as certezas se esvaem. 

Em que nos fogem das mãos como água a correr num rio bravo.

Dias em que duvidas de tudo o que já fizeste, dias em que questionas todos os caminhos que já percorreste. Em que, por muito que te esforces e que digas a ti mesma que está tudo bem, sabes que não está. Dias em que sentes a falta de momentos e pessoas do passado. Em que pões em causa todas as tuas escolhas. 

Nestes dias, em que as palavras me surgem à mente mais rápido do que as consigo escrever no papel, sei que devo respeitar-me mais do que nunca. 

O tempo ensinou-me que os dias mais difíceis são aqueles em que mais se pode aprender e crescer. Que é nestes dias cinzentos, ou nos momentos cinzentos de um dia de sol, que muitas vezes encontramos as respostas que procuramos. É no silêncio, é dentro de nós, no nosso refúgio, que estão todas elas. Todas as respostas, a todas as perguntas que já nos fizemos e que ainda faremos a nós próprios estão dentro de nós. Se nós soubermos ouvir, escutar com atenção, tudo o que precisamos saber irá surgir. Saber lidar com os dias menos bons, com os momentos de escuridão que surgem na nossa vida, não é tanto uma questão de coragem ou de inteligência. É, na minha opinião, uma questão de sobrevivência. Porque só nós nos podemos salvar, só nós podemos conquistar os nossos sonhos, só nós podemos curar as nossas dores. Está nas nossas mãos. O caminho que queremos seguir no futuro depende de nós, da nossa escolha. 

É preciso resiliência para lidar com estes dias cinzentos, com estes momentos em que falta a luz. Repara. Silencia-te e repara. Mesmo nestes momentos em que tudo à tua volta está escuro, se escutares com atenção, se olhares para dentro de ti com devoção, perceberás que há uma chama que nunca se apaga. Há uma luz que, tremeluzindo lentamente, continua acesa no teu coração. Essa chama que brilha levemente e em silêncio chama-se esperança. Esperança num amanhã melhor, num amanhã com mais luz e menos escuridão. 

Pensa: quando olhas para o céu durante a noite, é ou não é mais fácil ver o brilho das estrelas se tudo à tua volta estiver envolto numa enorme escuridão? Sim, uma certa escuridão é necessária para ver as estrelas. Do mesmo modo, é preciso haver dias cinzentos, escuros e frios, para que descubras a luz que brilha em ti. A tua luz. Tu. És tu que brilhas. Tu, na mais pura essência do teu ser tens em ti um brilho que nunca se apaga. Nem mesmo nos dias mais escuros. E é nesses dias que mais precisas dela. Agarra-te a ela como quem se agarra à vida. Porque será exactamente isso que estarás a fazer: ancorar-te à vida. 

 

Fotagrafia: @henrybe

Por mim

V de Viver, 29.01.22

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Hoje arrumei-me para mim.

Depois de treinar tomei um duche, sequei o cabelo e estiquei-o, fiz uma maquilhagem leve, perfumei-me com o meu melhor perfume e vesti um vestido novo. Sim, um vestido! Levei anos sem vestir um por vergonha. Vergonha das minhas pernas, da minha barriga, dos meus braços, enfim, do meu corpo. Vergonha do que os outros iriam pensar. Anos da minha vida em que limitei o meu guarda roupa tanto quanto me limitava a mim mesma. Não me aceitava, não aceitava o meu corpo. Sempre maior que as minhas amigas (em altura também, tenho 1,73m), destoava de todo o grupo. Era a gordinha. Sentia que o meu corpo não me pertencia. 

Hoje olho para o espelho e, embora finalmente goste do que vejo, sei que eu não sou o meu corpo. Sou muito mais que isso. 

Por isso decidi arrumar-me para mim mesma. E saí. Fui passear, fui fazer algumas compras que precisava, fui marcar o dentista. E fui de vestido! E fui a sentir-me linda! Tanto que nem queria despir o vestido quando cheguei a casa. Confesso que não me apetecia voltar para casa, coisa muito rara, porque adoro estar na minha casa. Mas apetecia-me passear. Apetecia-me, honestamente, passear de mãos dadas. Tenho que confessar que durante um momento pensei: "arrumaste-te assim e agora não tens ninguém para te elogiar, ninguém para apreciar, para te dizer como estás linda". Mas foi fugaz esse momento. Foi um pensamento dentre os milhares que temos por dia. Veio e foi embora com a mesma rapidez. Porque logo de seguida respondi-me: "arrumaste-te para ti, por ti, porque mereces sentir-te linda e bem contigo mesma". E após este breve pensamento, a contemplar-me numa montra qualquer, sorri e avancei. Passo a passo, de sorriso no rosto, segui o meu caminho em paz comigo mesma. 

Longe vão os tempos em que me odiava, em que não olhava para uma montra para não ver o meu reflexo. Hoje não. Daqui em diante não. Um corpo é apenas um corpo. Todos nós somos muito mais que o nosso corpo. Devemos, sim, cuidar do nosso corpo, tal como da nossa mente. Atrevo-me até a dizer que talvez a nossa mente seja ainda de maior importância. Mas sim, devemos cuidar do nosso corpo. Fazer exercício. Cuidar da nossa alimentação. Mas por amor. Por dedicação. Não porque alguém diz que estamos gordos demais ou magros demais. Não porque alguém decidiu um determinado padrão de beleza . Hoje, de dentro das minhas calças tamanho 42 (já retirei o vestido!) digo-vos de coração: somos o que somos por dentro, e isso reflecte-se por fora.

Se o interior estiver em paz, o resto tanto faz. 

Fotografia: @vincefleming

Cura

V de Viver, 06.10.21

Outubro. Outono. Outro ciclo. Outra mudança de pele.

Dor. Cura.

Podemos curar sem dor, mas acredito que curamos mais profundamente através dela. Suportando a dor. Olhando para ela de frente. 

Pode ser perigoso olhar para a dor se a encararmos durante muito tempo sem falar com ela. Mas se lhe sussurrarmos ao ouvido, se a acolhermos dentro de nós, se a cuidarmos, acredito que nos podemos curar. 

O último ano tem sido duro. Mas tem sido também de muito crescimento. Mudei a cada dia. Senti-me, mesmo, a mudar a cada dia. Sentimentos bipolares, eu diria. Hoje estava bem, amanhã mal. Num minuto sorria no seguinte chorava. 

Submersa. 

Durante muito tempo não consegui respirar direito. Como se um gigante me pisasse o peito, doía, o ar passava a muito custo. 

Percebi então que toda a dor é necessária ao nosso crescimento. Que cada lágrima pode ser usada como um degrau para emergir. Que cada situação nos trás sabedoria. Que crescer dói, sim. Mas é tão bom!

Olho para quem era há um ano atrás, e tanta coisa mudou. As dores não são mais as mesmas, e aquilo que me faz feliz também não. O que ontem era, hoje já não é. Coisas importantes tornam-se insignificantes quando comparadas com outras. A vida é curta e é dura. E só temos uma coisa a fazer: ser mais dura que ela. Mas sem perder a ternura. Espero não perder a minha. 

Sinto-me fria. Muito mais fria do que era há um ano atrás. Continuo a sorrir, mas já não sorrio tanto. Continuo a confiar, mas já não confio tanto. Continuo a sentir, mas já não sinto tanto. E é esta última a que mais me assusta. Tenho medo. Medo de deixar de sentir. Medo de não voltar a amar como já amei. Medo de não me conseguir entregar como já me entreguei. Medo de não voltar a sorrir como já sorri. 

Mas estou bem. Acreditem, estou muito melhor do que estava há uns meses atrás. Aprendi que a dor, por mais que doa, não nos mata. Por mais que as pessoas nos possam arrancar um bocado, não conseguem nunca levar tudo. E que, no fundo, elas só nos levam algo se nós o permitirmos. 

Mas mesmo assim, sou outra. Não sou a mesma de há um ano atrás, nem de há um mês atrás, nem, para ser totalmente sincera, de há um paragrafo atrás. Estou em constante mudança. E as palavras saem-me, ultimamente, assim em enxurradas nem sempre com sentido. Mas são sentidas. E é por isso que eu escrevo. Para me permitir sentir. Porque é sempre na escrita que me permito sentir. Que me perco e que me encontro. É a melhor terapia. Olhar para dentro e escrever: qualquer um que consiga fazer isto conseguirá curar-se. 

 

Renascer

V de Viver, 12.08.21

É aqui, sentada na minha cadeira na varanda da minha casa e a olhar para o mar, que (vos) escrevo. O mar está mais longe agora e a cadeira já não é a de plástico, mas não deixa de ser tudo aquilo que sonhei. Realizar um sonho leva-nos sempre a uma felicidade extrema. A felicidade é passageira, o momento de êxtase acaba sempre por passar. Contudo a gratidão é eterna. E é aí que vibro. Gratidão pura por tudo aquilo que já vivi e pelo que alcancei. Sei hoje, melhor do que nunca, que tudo aquilo por que passei era necessário. Que todos os caminhos que me pareceram em tempos errados, não o eram. Tudo é aprendizagem. Todas as dores são necessárias. A dor faz parte do processo. Todos os dias sombrios, todas as lágrimas, todos os gritos silenciosos. Tudo é caminho e o caminho faz-se, realmente, a caminhar. 

Estive muito ausente por aqui. Na verdade não tenho escrito tanto quanto gostaria, mas são fases. E devemos sempre respeitar as nossas fases. Continuo no meu processo de autoconhecimento. Conheço-me hoje muito melhor do que no dia em que criei este blogue. E recordo esse dia como se fosse ontem. Foi a dor que me trouxe à blogosfera, e é ela que me continua a trazer aqui. Porque embora também tenha, ao longo destes (poucos) anos partilhado convosco momentos de felicidade, é verdade que é a dor e a escuridão que me fazem escrever desenfreadamente. Em dias assim é dificíl para os meus dedos acompanharem a minha mente. 

Não me interpretem mal. Continuo a ser uma pessoa grata, sei bem que existem pessoas com histórias muito mais duras que a minha e, por vezes, dou por mim a questionar-me o porquê de me sentir sempre em falta. Não é hoje a primeira vez que sinto esta sensação de que tenho tudo e ainda assim me falta tudo. Mas, exactamente, por não ser a primeira vez que me sinto assim, sei que passa. Tudo passa. Tudo sempre acaba por passar. O que hoje nos parece o fim do mundo amanhã já é apenas uma gota no oceano. O ser humano é assim, e nós mulheres, cíclicas, ainda sentimos mais esta "bipolaridade". 

Estou a viver um processo de cura. Aprendi, recentemente, que tenho dores que me acompanham desde sempre (como a dor da rejeição) que precisam ser curadas. E esse processo não se faz da noite para o dia. Todos temos as nossas questões internas, aquelas feridas que ninguém vê, e que gostamos de camuflar com sorrisos e com palavras vãs de que está tudo bem. Hora ou outra teremos que lidar com elas, acreditem. Dói. Dói muito ir para dentro de nós e perceber onde estão essas feridas. Dói ter que "descascá-las". É como se tivéssemos que mudar a nossa pele. Uma espécie de renascer. Um dia vi um vídeo que dizia: "Tudo o que é bom dói. Tudo o que dá resultado passa por dificuldades. Nascer doi. Dói para a mãe e doi para o bebé. Mas é muito bom. Tem gente que não quer dor. Não quero nada que me incomode. Só quero gostoso. Atritos são absolutamente necessários para o nosso crescimento.Não é só com alguém batendo no nosso ombro e dizendo: ah como você é bonitinha, como eu gosto de você. Não. É quando incomoda." É uma grande verdade. É preciso, sim, passar pela dor para nos conhecermos. É um processo longo e duro. Mas acreditem que vale muito a pena. 

Por aqui continuo o meu caminho. Não tenho todos os dias a mesma clareza, nem a mesma capacidade de lidar com as minhas dores. Mas vale a pena, de verdade, cada dor e cada lágrima, porque hoje sei melhor quem sou. E acredito verdadeiramente que amanhã saberei ainda melhor. 

Não posso deixar de agradecer-vos por continuarem por cá apesar da minha ausência. Grata de coração a todos vocês que, acreditem ou não, conhecem melhor as minhas dores e as minhas alegrias e conquistas do que a maioria das pessoas que conheço no "mundo real". 

Obrigada a todos.