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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Todos os dias penso em voltar

V de Viver, 02.05.24

Todos! E nem estou a exagerar. Tenho saudades de escrever, de ler os comentários de quem me lê, de ler-vos e falar convosco. 

Estou numa nova e desconhecida fase da minha vida. Estou feliz. Mas há dias em que já nem sei quem sou. 

Muita coisa mudou desde o inicio do ano. Muitos sonhos se tornaram realidade, muitos objectivos já foram cumpridos. E isso, no fundo, ainda me deixa mais perturbada pelo estado de espírito em que acordo alguns dias. Não me falta nada. A serio que não. Mas aprendi que, mesmo quando não nos falta nada, podemos ter dias cinzentos. Dias confusos. 

Já passei por várias mortes e renascimentos da minha pessoa. Aprendi e evoluí com todas. E sei, tenho a certeza, que desta vez não será diferente. Mas é difícil lidar com tudo aquilo que sinto, com todos os pensamentos que me passam pela cabeça. Há momentos em que me vejo assoberbada entre o "tenho que" e o "não quero". Há dias em que me olho ao espelho e já não me reconheço. 

A minha energia anda muito em baixo. Estou saudável, mas sinto-me letárgica. "É só uma fase" é a frase que mais me digo todos os dias. E é. Sei que sim, já tive outras e bem piores. 

Se aprendi alguma coisa ao longo da minha vida é que somos sempre maiores que os problemas, questões e situações que nos assolam. Que todos os dias maus são seguidos de dias bons. Que em todas as minhas piores fases encontrei a força para renascer uma nova mulher. 

Volto a repetir [mais para mim do que para quem me lê!]: estou feliz. Sou feliz. Mas em todas as fases são necessários dias assim. E esta não é excepção. 

Despeço-me com o desejo de cá vir mais vezes. De voltar a escrever e a ler-vos como antes. Mas nunca posso prometer porque, principalmente agora, o que hoje é amanhã pode não ser.

Um grande beijinho a todos. Espero muito que todos se encontrem bem!

V.

Está tudo bem em não estar tudo bem

V de Viver, 29.08.23

Há meses que não venho escrever por aqui. Nunca deixei de escrever porque é a minha terapia, embora tenha alturas em que escrevo diariamente e outras em que só o faço esporadicamente. 

Não houve nenhum motivo para deixar de escrever aqui. Continuo a achar o mundo dos blogues fascinante. Adoro vir aqui de tempos a tempos e ler o que as pessoas que sigo escreveram. Ver que estão vivas sobretudo. Ter "noticias" delas. 

Acho que é também por isso que por vezes volto. Para dar sinais de vida.

Vida essa que segue. Vou tentando dar o meu melhor todos os dias. Sou incapaz de escrever tudo o que me tem acontecido este ano de 2023 num texto só. Têm sido muitas coisas. A maioria coisas boas. A maioria dos dias têm sido bons, embora eu sinta que não tenho dado o máximo. Que não tenho usado o máximo do meu potencial. 

Claro que eu sei que o nosso melhor é diferente todos os dias. Mas sinto que não tenho estado a dar tudo. Sinto-me cansada, às vezes. Sinto que durante algum tempo me exigi demais e que agora o meu corpo e a minha mente querem abrandar. 

Ainda sou jovem. Mas às vezes acho que comecei a viver (verdadeiramente) muito tarde. Então não é coisa rara na minha vida sentir que me falta tempo. Que deveria acontecer tudo "para ontem" na minha vida.

Sinto-me grata na maioria dos dias. E naqueles dias, como hoje, em que acordo sem energia, sem vontade de fazer absolutamente nada, tento respeitar-me, não me exigir demais e agradecer por ter acordado (visto que não consigo ver mais nada de bom no momento!) 

Não tenho nada de que me queixar. A vida segue e tem sido um bom ano. Mas mesmo assim a minha insatisfação e julgamento acompanham-me: devias ter ido treinar; devias ter comido melhor; andas a comer mal e não alimentas o corpo com os nutrientes que ele precisa; devias ter arrumado a casa em vez de ficares no sofá; devias manter consistência no treino...enfim, todas estas frases fazem, por vezes, parte do meu discurso.

Talvez seja normal. Talvez todos nós tenhamos sido ensinados a cobrar-se demais, a exigir muito de nós. Não digo que seja errado exigir de nós. Mas sei que é preciso ter cautela para não cairmos no erro do exagero. Como em tudo na vida é preciso equilíbrio. Entre o fazer e o apenas ser.

Sim, há dias em que me apetece apenas existir. E está tudo bem.

O meu melhor nunca é o mesmo. E está tudo bem.

Nem sempre consigo fazer o que tem que ser feito. E está tudo bem.

Que consigamos ser tão nossas amigas como somos das nossas melhores amigas. Que nos julguemos menos pelos dias menos bons. A vida é feita de fases e devemos respeitar cada fase nossa.

Claro que escrevi isto para vocês. Mas mentiria se vos dissesse que não o fiz mais para mim. Há dias em que só preciso de me ouvir a dizer que está tudo bem em não estar tudo bem.

 

 

É o amor que faz girar o mundo

V de Viver, 13.02.23

Não gosto muito de dias sem sol. Deixam-me nostálgica. Fico pensativa, introspectiva e com menos energia. Fico, quase literalmente, da cor do dia. Cinzenta. Estava ainda agora a ler um romance, mas fazia-o sem grande entusiasmo, honestamente. "O Livros dos Dois Caminhos", da grande escritora Jodi Picoult, lá porque estou com pouco entusiasmo não faz do livro menos bom.

Curiosamente há uns anos só lia romances. Hoje levo tempo para ler um e já não o faço com o mesmo encantamento. Ainda acredito no amor. Sim, continuo a acreditar que é possível amar e ser amado. Continuo a dar amor a quem se cruza no meu caminho. Mesmo aos que, claramente, não chegam com essa intenção. Mas isso é só mais uma prova de que não controlamos nada, só podemos controlar a forma como reagimos às diversas situações da vida. 

Às vezes tenho a mente tão assoberbada de ideias que me custa escrever. Como hoje, como agora. Nestes dias a minha escrita torna-se confusa. Começo a escrever por um motivo mas as ideias surgem umas atrás das outras, a empurrarem-se para abrir caminho para ver qual chega primeiro ao papel. Geralmente nestes dias não sei o que sinto. Por vezes não sei o que quero. Nestes dias costumo dar-me espaço apenas para existir. Não me exigir muito. Afinal de contas se até a natureza tem dias cinzentos, de sombra, porque não haveria eu de poder tê-los? Tenho calor, curiosamente. Estão 13º lá fora e há pouco estava gelada. Às vezes sinto-me gelada. E sozinha. Quase como se uma coisa levasse à outra. Mas na maioria dos dias gosto e prezo a minha solidão. Solitude. Não sei bem. Mas aprendi, realmente, a apreciar a minha própria companhia. Na maioria dos dias. 

No fundo sou grata a estes dias cinza. Estes dias que me fazem lembrar que nem todos os dias precisamos de estar a 100%. Que o nosso melhor pode ser diferente todos os dias da nossa vida.

Gosto de sentir que aprendo todos os dias alguma coisa. A sabedoria e o conhecimento sempre me cativaram. E quanto mais velha fico mais vontade sinto de aprender. Não necessariamente sobre outros ou sobre algo em especifico. Mas sobre mim. Adoro esta sensação de que me conheço perfeitamente. Esta sensação de que sou a única pessoa no mundo capaz de me perceber, de me amar, de me dar aquilo que quero, que preciso e que procuro. 

Esta percepção de solidão que me trás a sensação de que não preciso de ninguém. De que me basto. De que me tenho a mim mesma e que isso já significa ter o mundo. Ser o mundo. O meu mundo. 

O sol aparece por entre as núvens de vez em quando. Esforça-se por aparecer, por se manter visivel. Por vezes todos nós somos sol. Esforçando-nos para acordar, para sair da cama, para fazer o que tem que ser feito. Mas é bom ser como o sol. Saber que mesmo quando não brilhamos ainda estamos aqui. Dentro de nós mesmos há uma luz que nunca se apaga. Até ao dia em que se apagará para sempre. Mas, não sei porquê, acho que mesmo nesse dia a nossa luz se manterá a brilhar. Enquanto formos lembrados pelos que nos amam, por aqueles cujas vidas conseguimos tocar de uma forma ou de outra. O que me recorda que é o amor. É sempre o amor a chave de tudo nesta vida. É e será sempre o amor que manterá as pessoas vivas. Que manterá o mundo a girar. Sim, é o amor que faz girar o mundo. O amor que sentimos pelos outros. Mas também o amor que sentimos por nós mesmos. E seja qual for o tipo de amor, o importante é que nunca o deixemos morrer. Porque enquanto existir amor as engrenagens da vida continuam a girar, o tempo continua a correr e nós continuaremos vivos. Aqui, ou onde quer que estejamos. Será sempre o amor.

Que nunca nos esqueçamos disso. 

Mais uma noite...

V de Viver, 07.07.22
Sentada na varanda da minha casa sinto as lágrimas a escorrer pelo rosto enquanto bebo um copo de vinho. Mas não são lágrimas de tristeza. 

 

Há um ano tinha o hábito de fazer exactamente isto. Sentar-me, sozinha com um copo de vinho e os meus pensamentos. E, claro, uma música.

 

Faz-me pensar que pouca coisa mudou. Mas o principal mudou bastante: eu.

 

Sinto-me grata por estar onde estou. Grata por ser a pessoa que tanto lutei para ser. E por ter a consciência que cada vez sou mais quem quero ser.

Mas sei, no fundo, que ainda há coisas que precisam de mudar. Ainda há ciclos que se repetem na minha vida, dores que voltam pelas mãos de outras pessoas. Muda a pessoa, mas a dor é sempre a mesma. E acredito que se os ciclos se repetem é porque ainda tenho alguma coisa a aprender.

Claro que temos sempre algo a aprender. Mas refiro-me a ter algo a aprender relativamente ao mesmo.

Sinto que ando em círculos. Embora muita coisa mude há sempre algo que se repete.

 

Mas não me queixo.

 

Sei hoje, como toda a certeza, que não há erros. Há aprendizagens. Tudo vem por um motivo. E só podemos mudar o que vem quando descobrimos esse motivo.

Nada nem ninguém chega até nós por acaso. Cada dia que vivo tenho mais a certeza disto.

 

É verdade que eu sempre fui alguém que pensa demais e sente demais. E é verdade que isso me trouxe muitos dissabores. Mas sinto-me feliz por viver a vida de acordo com os meus valores, de viver em verdade, honestidade e humildade.

 

Não sei onde a vida me leva. Mas vou em paz seja onde for que vá. Porque dei sempre o meu melhor em tudo. Nunca fui desleal para comigo nem para com os outros. E uma das maiores bênçãos que tenho na vida é deitar a cabeça no travesseiro, todas as noites, e poder dormir tranquila. Cada um dá o que tem e a conta chega para todos. E se há algo que sei é que eu não tenho motivo para me preocupar com isso.

E acreditem, sinto-me grata por isso. Grata por ser quem sou e com a certeza de que ainda serei alguém melhor. Melhor de acordo com os meus valores. Melhor para mim. Melhor para os outros, mas sempre, sempre de acordo com os meus valores.

Ancorar

V de Viver, 02.02.22

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Há dias em que as certezas se esvaem. 

Em que nos fogem das mãos como água a correr num rio bravo.

Dias em que duvidas de tudo o que já fizeste, dias em que questionas todos os caminhos que já percorreste. Em que, por muito que te esforces e que digas a ti mesma que está tudo bem, sabes que não está. Dias em que sentes a falta de momentos e pessoas do passado. Em que pões em causa todas as tuas escolhas. 

Nestes dias, em que as palavras me surgem à mente mais rápido do que as consigo escrever no papel, sei que devo respeitar-me mais do que nunca. 

O tempo ensinou-me que os dias mais difíceis são aqueles em que mais se pode aprender e crescer. Que é nestes dias cinzentos, ou nos momentos cinzentos de um dia de sol, que muitas vezes encontramos as respostas que procuramos. É no silêncio, é dentro de nós, no nosso refúgio, que estão todas elas. Todas as respostas, a todas as perguntas que já nos fizemos e que ainda faremos a nós próprios estão dentro de nós. Se nós soubermos ouvir, escutar com atenção, tudo o que precisamos saber irá surgir. Saber lidar com os dias menos bons, com os momentos de escuridão que surgem na nossa vida, não é tanto uma questão de coragem ou de inteligência. É, na minha opinião, uma questão de sobrevivência. Porque só nós nos podemos salvar, só nós podemos conquistar os nossos sonhos, só nós podemos curar as nossas dores. Está nas nossas mãos. O caminho que queremos seguir no futuro depende de nós, da nossa escolha. 

É preciso resiliência para lidar com estes dias cinzentos, com estes momentos em que falta a luz. Repara. Silencia-te e repara. Mesmo nestes momentos em que tudo à tua volta está escuro, se escutares com atenção, se olhares para dentro de ti com devoção, perceberás que há uma chama que nunca se apaga. Há uma luz que, tremeluzindo lentamente, continua acesa no teu coração. Essa chama que brilha levemente e em silêncio chama-se esperança. Esperança num amanhã melhor, num amanhã com mais luz e menos escuridão. 

Pensa: quando olhas para o céu durante a noite, é ou não é mais fácil ver o brilho das estrelas se tudo à tua volta estiver envolto numa enorme escuridão? Sim, uma certa escuridão é necessária para ver as estrelas. Do mesmo modo, é preciso haver dias cinzentos, escuros e frios, para que descubras a luz que brilha em ti. A tua luz. Tu. És tu que brilhas. Tu, na mais pura essência do teu ser tens em ti um brilho que nunca se apaga. Nem mesmo nos dias mais escuros. E é nesses dias que mais precisas dela. Agarra-te a ela como quem se agarra à vida. Porque será exactamente isso que estarás a fazer: ancorar-te à vida. 

 

Fotagrafia: @henrybe

7 dias

V de Viver, 12.01.22

kristina-tripkovic-nwWUBsW6ud4-unsplash.jpgAdivinhem quem se deixou caçar pelo Covid-19? Exactamente, eu.

Mas não vos venho falar do facto de nos mandarem ficar em casa sem que ninguém se preocupe se estamos bem ou mal. Para quem, como eu, vive sozinha não é fácil. Mas não é sobre o facto de nos dizerem que nos vão contactar e nunca o chegarem a fazer que vos venho falar. Embora me assuste pensar que poderão haver pessoas que não têm ninguém e que, efectivamente, podem passar mal sem que ninguém sequer saiba ou se preocupe. Mas não é sobre isto que vos venho falar.

Também não vos venho falar sobre ter tido o lixo sete dias em casa. Sempre ouvi aquela expressão: "as visitas em casa são como o saco do lixo, mais de três dias e começa a cheirar mal". Não que eu concorde plenamente com esta expressão, confesso. Mas não vos venho falar disso, afinal de contas sei que há pessoas que colocam a máscara e vão levar o lixo. Eu também o podia ter feito, mas vivo num prédio, uso o elevador e achei que não devia fazê-lo. Por isso, não é disso que vos venho falar.

Também não vos venho falar do facto de ter que comer o que há em casa, porque afinal de contas eu vivo sozinha, a 200km da minha família. E sim, posso-me dar por contente de ter comida em casa porque há quem não tenha. E sim também, claro que podia ter pedido a algum dos meus colegas de trabalho que fizesse 40km para me vir trazer compras, mas não quis dar trabalho, por isso também não é disto que vos venho falar.

Não é também sobre os sintomas que vos venho falar. Não é sobre a tosse, nem sobre o ranho, nem sobre a dor de cabeça constante. Nem sequer sobre o cansaço físico que, realmente, não me larga mesmo tendo estado sete dias sem fazer nada. Também não é sobre o facto de ter tirado um café na minha máquina de café e de o ter despejado pela pia abaixo porque me sabia a soro fisiológico. Não é sobre nada disto que vos venho falar.

Também não é sobre o facto de pormos tudo em perspectiva e, não pela primeira vez na vida, chegar à conclusão que a saúde é, sim, o nosso bem mais valioso. 

Mas também não é sobre o facto de ser exactamente quando estás doente que vês quem realmente é teu amigo. Sim. Aqueles que mandam pelo menos uma mensagem por dia a perguntar como te sentes. Não, não é sobre o sentires-te acarinhada que vos venho falar. 

Nem é também sobre o facto de pessoas que não esperavas te ligarem a perguntar se estás bem. Não, mais uma vez, não é sobre o facto de te fazerem sentir especial com um simples gesto que vos venho falar. 

Dois minutos. Às vezes menos. É o tempo que leva a fazer alguém sentir-se especial. Impressionante, não?

Acreditem ou não, também não é sobre a solidão que nos assola quando estamos sete dias fechados em casa que vos venho falar. Não é sobre o facto de, mesmo para quem está habituado à solidão, ser mais difícil lidar com ela quando não é por vontade própria. 

Nem sobre o facto de ninguém estar, realmente, preparado para perder a liberdade ainda que por um curto espaço de tempo. 

Nem, e isso seria egoísmo meu, sobre o facto de ter sentido falta de ver e cheirar o mar, de ser acariciada pela brisa e pelo calor do sol no rosto enquanto os meus pés tocam a areia fria. 

Não, não é sobre nada disto que vos venho falar. Mas querem saber a verdade? Se não é sobre isto, então não sei sobre o que vos queria falar. Porque isto é tudo o que vos posso dizer: a vida é imprevisível. Um vírus pode sim chegar e mudar os nossos planos. E é um abre olhos. Porque percebemos o quanto somos pequenos e insignificantes neste mundo. E ao mesmo tempo percebemos como somos todos iguais. Como isto nos pode afectar a todos. Aos que acreditam, aos que não acreditam e aos que não pensam muito no assunto. Achamos sempre que só acontece aos outros, mas adivinhem: não acontece só aos outros. E não, não é só uma gripe. É uma gripe que nos tira a liberdade e, ainda que sejam só sete dias (para assintomáticos/sintomas ligeiros), nos priva daquilo a que estamos tão habituados, a nossa rotina.

 

PS: não me estou a queixar, estou a escrever sobre a minha perspectiva.

PS2: já estou recuperada e fora do isolamento (terminou ontem, embora ainda não tenha saído de casa... Juro-vos que nunca desejei tanto ir levar o lixo!!). 

Fotografia: @kristinatripkovic

1º lição do ano

V de Viver, 03.01.22

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Quem é mulher sabe como nos podemos sentir naquela fase do mês. Se a vida em si já pode ser uma montanha russa de emoções para qualquer um, experimentem ser uma mulher nessa altura do mês.

Hoje acordei menos bem. Sem qualquer motivo aparente. Li umas páginas do livro que estou a reler (Faz um Restart à tua vida, do Jorge Coutinho), bebi um café, treinei, tomei um duche, sentei-me e escrevi.

Até aqui tudo bem. É a rotina que tento manter nos dias em que não trabalho ou em que faço o turno da tarde. O senão foi apenas a sensação de que algo está errado que me acompanhou durante todo o tempo. 

Sempre fui curiosa com o tema do desenvolvimento pessoal. Mas de há cinco anos para cá tenho lido muito sobre o assunto e até tenho feito algumas formações. Confesso que é uma área na qual gostaria de vir a trabalhar, sinto-o como uma espécie de missão, sabem? Ajudar outras pessoas para que não tenham que fazer um percurso tão longo como o meu para alcançar a paz interior. Mas isso é tema para outro dia. 

O que queria dizer é que, por já ter algumas bases e já ter alguma consciência da minha pessoa, gosto de analisar o que se passa nestes dias. E hoje, depois de ter escrito novamente, de ter colocado uma música Celta a tocar no Youtube e de ter meditado por uns minutos, cheguei à conclusão (não pela primeira vez, confesso!) de que não se passa nada! De que sou apenas eu a querer controlar coisas que não posso controlar. Que este peso no peito sou apenas eu, naquela fase do mês, a ver coisas onde não existem, a preocupar-me demasiado com coisas exteriores a mim e que, precisamente por serem exteriores, eu não controlo. 

E, acredito, isto acontece-me mais nesta fase do mês porque é quando estou mais sensível e também quando tenho que fazer um maior esforço para estar consciente de mim mesma devido a todas as alterações de humor (e não só) que existem no meu corpo e mente. 

Portanto a primeira lição do ano é: sê mais paciente contigo mesma e aceita que não podes controlar o que é exterior a ti.

Alguma lady por aí que se identifique com o que acabei de escrever? Não sei de vocês, mas a mim esta fase acaba-me com os nervos 

 Fotografia:@coleito

Esperança

V de Viver, 24.08.21

Alguém morreu. Eu não conhecia a pessoa, nem a sua história, nem a forma como morreu. Mas era jovem, e desde sempre que a morte de pessoas jovens me afecta. Nunca soube explicar porquê. Não sei se é empatia. Ou se é medo de um dia ser eu ou um dos meus. Sei que todos nós sabemos a teoria: "devíamos aproveitar mais, preocupar-se menos e viver cada dia como se fosse o último". Sim, a teoria julgo que todos a sabemos. Mas quantos de nós colocam essa teoria, efectivamente, em prática? Eu não, confesso. Há já algum tempo que ando, novamente, dentro de mim, a conviver com o meu lado sombra. É assustador como podemos ter tanta dor dentro de nós. É inexplicável. Acredito que essa dor chegou um dia e não foi cuidada. E depois deixamos acumular dor em cima de dor. E o que acontece se deixarmos de limpar a nossa casa durante muito tempo? Acumula lixo, pó, e é muito mais difícil limpar tudo depois. Acredito que seja da mesma forma com as nossas dores. Mas não nos ensinam a lidar com elas. Ensinam-nos que devemos estar sempre bem, alegres e com pensamento positivo. Que estar triste só nos trará mais amargura. Que devemos deixar as coisas seguirem o seu rumo, que "o que tiver que ser será". E sim, eu concordo. O que tiver que ser será. Mas acredito que é preciso perceber de onde vêm as nossas dores, perceber o que temos cá dentro e depois aceitar e deixar fluir. Não devemos fugir do que estamos a sentir, porque por muito que fujamos, o que sentimos acompanha-nos, sempre. Nem sempre está tudo bem. E tudo bem em não estar sempre tudo bem. Senti necessidade de escrever isto porque, realmente, ultimamente tenho-me deixado sugar pela dor. Tenho-me sentido cada dia mais pequena ao lado da imensidão da minha dor. Não estou a conseguir identificar de onde vem isto tudo. Sou uma mulher adulta e independente. Logicamente não tenho, nem sou, tudo o que quero, mas tenho e sou mais do que um dia achei que iria ter/ser. E saber isto leva-me a sentir culpa por estar triste. Porque sei que há pessoas em situações muito piores. Infelizmente lido com a dor e os problemas do ser humano diariamente no meu trabalho. E sei, sei que há vidas piores. Mas ainda assim, e já por várias vezes na minha vida, tenho estas fases negras, estes dias de imensa dor e tristeza. Cercada daquela sensação de estar debaixo de água, a lutar por vir à tona. Mas sei que venho. Sei que mais dia menos dia a cabeça emerge e voltarei a respirar. Voltarei a ser eu. Aquela pessoa alegre e cheia de energia. Por hoje vou continuar a respeitar esta dor. Vou deixar as lágrimas correrem, mesmo que não consiga entender o motivo delas surgirem. Amanhã haverá outro dia. Mas o problema é: haverá mesmo? Estamos tão convencidos que sim, damos a vida por tão certa que às vezes me pergunto se isso não será presunção nossa. Achar que a vida vai estar sempre ali à espera para ser vivida. São questões para as quais não tenho resposta. Provavelmente ninguém terá. Talvez seja a esperança, penso enquanto escrevo. Talvez a esperança de um amanhã melhor seja o que realmente nos mantém vivos, um dia após o outro.  

Sempre

V de Viver, 08.04.21

Sempre existirão dias cinzentos. Dias em que nada te alegra. Em que tudo te pesa no peito. Dias em que te questionas sobre tudo o que fizeste até aqui. Sobre cada passo que deste na tua vida. Sobre cada escolha, cada virar de esquina, cada decisão por mais pequena que tenha sido. Sempre existirão dias em que as lágrimas se sobrepõem aos sorrisos. Dias em que terás que fingir que está tudo bem para não preocupares a tua mãe, o teu pai, a tua irmã, quem quer que seja que te preocupa mais do que tu própria. Em que terás que enxugar as lágrimas, lavar o rosto e colocar o teu melhor sorriso para atenderes uma videochamada. Dias em que terás que te levantar da cama, a rastejar os pés pelo chão, porque a única coisa que querias era poder ali ficar para sempre. Dias em que passas a pente fino a maior parte das decisões que consideras importantes que já tomaste. Em que olhas para trás e só vês fracassos. Sempre existirão dias em que só queres ouvir aquelas músicas que te tocam até à alma. Que só de a ouvires começar, sem perceberes de onde ou porquê, as lágrimas já surgem. Dias em que só te apetece estar sozinha e em que te sentes grata por, realmente, estares sozinha. Dias em que te custa falar com os outros. Em que o silêncio se torna a tua melhor companhia. Sempre existirão dias em que te arrependes. Dias em que percebes que não fizeste a melhor escolha. Dias em que tudo o que querias era uma hipótese de voltar atrás. Dias em que a dor no peito é tão forte e a escuridão te puxa com tanta força para o fundo, que nem sabes como consegues respirar. Sempre, sempre existirão esses dias menos felizes. Esses dias de reflexão. De questionamento. Dias em que te sentes uma autêntica otária por teres acreditado nas pessoas. Por teres confiado. Por teres sido inocente. Por teres sido boa. Sempre existirão dias em que te odeias por seres intensa demais. Por sentires demais, por gostares demais, por acreditares demais, por te entregares demais, por confiares demais. Sempre. Esses dias sempre existirão. E a única coisa que podes, e deves, fazer é seguir. Seguir com a certeza de que eles sempre existirão. Mas também com a certeza de que eles não serão uma constante na tua vida. A vida sempre segue. Mesmo que nem sempre seja como sonhámos. Quase nunca é como sonhámos. Mas, ainda assim, é uma dádiva estar vivo. 

               

                                 

 

 

Fase Neutra

V de Viver, 27.01.21

Sempre fui uma pessoa que sente muito. Nunca gostei de coisas neutras. Sempre fui de oito ou oitenta. Ou quente ou frio. Ou gosto muito ou não gosto nada. 

Talvez por isso este últimos dias estejam a ser uma novidade. Sinto, realmente, que estou numa fase neutra da minha vida. 

Nem feliz nem triste. Nem bem nem mal. 

Estou a aprender a lidar com esta sensação de que as coisas podem, realmente, estar assim assim. Não me sinto feliz. Mas também não estou triste. E estou a aprender, também, que podemos sentir mais do que uma coisa ao mesmo tempo. O que quero dizer é que podemos, sim, estar tristes e estar felizes aos mesmo tempo. Parece loucura, eu sei. Mas é assim que me sinto por vezes. 

Estou numa espécie de limbo. Não sei para que lado me hei-de deixar cair. Não sei se devo tombar para a tristeza. Deixar-me envolver pelas merdas da vida, deixar-me cair, cair e cair lentamente, em direcção à escuridão. Ou se hei-de respirar fundo, olhar para o céu, agradecer por estar viva e tentar, a todo o custo, inclinar-me em direcção à luz. Em direcção ao futuro. E acreditar que ainda tenho muito para viver e que ainda posso, sim, ser muito feliz. 

Estou confusa. Mas não estou triste, nem tão pouco feliz. Não vejo o mundo cor de rosa. Mas também não o vejo preto. Estou numa zona cinzenta. Numa meia felicidade meia tristeza. Não vejo o copo meio vazio, nem meio cheio. Vejo apenas que há algo lá. Que há algo para onde ainda posso seguir. Que tenho que seguir. Que tenho que continuar a andar. Quero muito acreditar que, lá mais à frente, algo vai ser melhor. Que ainda vou voltar a sentir coisas boas. Que ainda vou ser feliz. 

Um dia, acredito eu, vou sair do cinza. Vou dar um passo e sair desta fase neutra. Deste assim assim. Nunca gostei de coisas assim assim. Mas talvez a vida esteja apenas a ensinar-me que podemos e temos que sentir de tudo um pouco. E que, por vezes, mesmo não sabendo o que estamos a sentir, temos apenas que seguir sentindo.