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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Mais um dia ou menos um dia?

V de Viver, 13.10.22

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Sentada numa falésia junto ao mar vim finalizar o meu dia. Um daqueles que não foi nem bom nem mau. Acho que estes dias existem para nos mostrar que nem sempre é preto no branco. Nem sempre é sim ou não. Tristeza ou felicidade. Existem meios termos. Até para alguém que, como eu, não está habituada a eles.

Nem todos os dias são bons, mas todos têm algo de bom, disso não duvido. Pode ser a minha mania de ver sempre o copo meio cheio. Mas é assim que vejo as coisas. Há sempre algo pelo que agradecer. Mais que não seja por ter olhos e ouvidos capazes de ver e ouvir aquilo que estou aqui a presenciar. Não é positivismo fingido. Eu sinto mesmo aquilo que digo.

Felizmente sou uma apaixonada pelas coisas simples da vida. Aquelas que não se pagam e que por nos serem tão comuns não damos o verdadeiro valor. Porque achamos que elas são nossas por direito. Talvez sejam. Talvez o sol, a lua, o mar, o vento, o cantar dos passarinhos sejam um bocadinho de cada um de nós. Pelo menos daqueles que os sabem apreciar. Talvez.

Talvez a vida, no fundo, seja só isto que estou a sentir agora. Está sensação de paz e tranquilidade que o mar e o pôr do sol sempre me proporcionam. A cabeça vazia de outros pensamentos. Nem passado, nem futuro. Apenas o agora, eu, o mar, e a despedida do sol.

Mais um dia ou menos um dia? Talvez seja apenas uma questão de perspectiva.

Que eu nunca me esqueça

V de Viver, 17.01.22

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- Que sou suficiente

- Que tenho em mim tudo o que preciso

- Que não preciso da minha outra metade porque eu sou inteira

- Que o meu corpo é normal (como todos os outros)

- Que se quero, posso

- Que já cheguei muito longe

- Que sou inteligente

- Que ainda posso alcançar muito mais (não apenas ter, mas ser)

- Que os erros fazem parte do caminho

- Que todos os que passam na minha vida me ensinam algo

- Que devo ser grata todos os dias porque todos os dias são uma bênção

- Que eu sou capaz

- Que a família deve ser sempre prioridade

- Que o que se ganha fácil perde-se fácil

- Que vale sempre a pena amar

- Que nem tudo o que se perde é uma perda

- Que a vida é feita de fases

- Que dentro de mim existe sombra e luz

- Que todas as pessoas estão a viver as suas lutas

- Que nem todos os dias são de sol, mas ainda assim ele sempre volta

- Que a Natureza me faz bem

- Que devo cuidar de mim todos os dias

- Que se posso sonhar posso realizar

- Que nada é em vão

- Que ninguém é de ninguém

- Que devo respeitar os outros e nunca lhes fazer o que não quero que me façam

- Que esta praia é um dos meus refúgios

- Que todo o pôr do sol é um motivo para agradecer

- Que os outros nem sempre vão querer o mesmo que eu

- Que se aprende muito nos dias menos fáceis

- Que devo comemorar sempre as pequenas vitórias

- Que nunca posso parar de sonhar

- Que o amor próprio é o único que me pode salvar

- Que se eu gostar da minha companhia nunca estarei só

- Que ver o pôr do sol na praia me acalma

- Que cuidar do meu corpo me faz sentir bem

- Que a gratidão nunca é demais

- Que o silêncio pode ajudar muito

- Que a solidão nem sempre é uma coisa má

- Que eu posso tudo

- Que nunca devo depender de ninguém para ser feliz

- Que a felicidade está dentro de mim

- Que os meus objectivos devem estar sempre primeiro

- Que a opinião dos outros é isso mesmo, dos outros

- Que há beleza em tudo porque a beleza está nos olhos de quem vê

- Que nem todos os dias são fáceis e está tudo bem

- Que devo cuidar sempre dos meus pensamentos

- Que a minha paz importa mais que tudo o resto

- Que sou corajosa sim, mas não perfeita

- Que vou sempre cometer erros mas que todos me ensinam algo

- Que por muito que doa, tudo passa

Que eu nunca me esqueça disto e que vocês também não. 

Perguntas sem resposta

V de Viver, 14.01.22

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Afinal de contas o que importa o que os outros acham de determinada situação? Para que serve a intuição de alguém que vê a situação de fora? Devemos confiar na nossa intuição ou não? Quando a minha intuição me diz algo diferente do que outra pessoa, exterior a determinado acontecimento, diz, devo confiar mais na minha intuição ou na opinião da pessoa? A pessoa pode ser mais velha e mais sábia, mas será que isso realmente significa que sabe mais sobre uma situação que eu vivi e na qual não esteve envolvida? O diz que disse, o ouvi falar, tudo isso é muito bonito, mas até onde devemos realmente acreditar? É mais válido a opinião de uma pessoa fora da situação ou aquilo que a pessoa envolvida na situação te fez sentir?

Aqui estou eu num dos meus lugares favoritos a pensar em todas estas questões. O barulho do mar não cala os meus pensamentos. O solo quentinho não aquece o meu coração esfriado. Estou confusa em relação ao que acreditar. Não estou no drama. Estou bem. Estou até numa das melhores fases da minha vida. Sinto me realizada, feliz e em paz. Contudo há questões que me assombram. E está é uma delas. Não sei se devo acreditar na minha intuição ou se apenas me estou a iludir.

Mas enquanto escrevo, neste exacto momento, penso (e é por isto que a escrita é a minha terapia) as coisas têm sempre que ter uma explicação e um sentido? Vale a pena mexer no que passou? Se a pessoa me fez sentir bem, no curto espaço de tempo que nós tivemos, tenho mesmo que encontrar um significado para isto? Ou devo apenas deixar-me sentir e seguir? Foi bom. Fez me bem. Quero mesmo saber se foi tão sincero e real quanto me pareceu? Ou devo apenas agradecer por mais um ensinamento na minha vida? Devo ser apenas grata à pessoa por me ter feito feliz ou tentar encontrar uma resposta sobre se foi tão sincero quanto me pareceu? 

 

O meu primeiro pôr do sol do ano

V de Viver, 13.01.22

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Escrevo estas palavras sentada numa velha prancha de surf, na minha praia, num cantinho que deve ser de muitos mas que agora é só meu. Vim ver o mar e o pôr do sol, mas o sol ainda está alto mostrando que ainda demorará uns minutos para ir embora. Embora para onde nunca saberei. Ouço as ondas enquanto ouço também uma música no meu único fone de ouvido, o outro há muito que partiu nas ondas deste mar que me faz companhia em melodia de fundo. Penso na vida. Em tudo o que já vivi, em todas as lutas e em como umas desencadearam em vitórias e outras em aprendizagens. Penso nas pessoas que passaram na minha vida e naquilo que aprendi com elas. Penso nos meus avós e em como tenho saudades deles. Penso na minha mãe, na minha irmã. Penso nos amores e nos que não chegaram a sê-lo. A vida é curta, é imprevisível. As pessoas, tal como as ondas do mar, vem e vão. Tenho uma vida recheada de partidas. Mas para terem partido essas pessoas têm que ter chegado. Por isso ouso dizer que tenho, também, uma vida cheia de chegadas. Penso onde estive, onde já cheguei e onde ainda vou chegar. É este o poder do mar e do sol sobre mim. Fazem-me pensar no meu passado, reflectir sobre ele, mas fazem-me também ter esperança no futuro. Tudo é incerto. O que hoje é amanhã pode já não ser. Inclusive eu. Hoje estou viva, mas amanhã? Amanhã não sei. Provavelmente é este o encanto da vida. Não sabermos nada. Nem de onde viemos, nem para onde vamos. O sol aquece-me o rosto fazendo a temperatura contrastar com o gelo em que estão os meus pés. O sol continua alto. Mas vou ficar na praia para o ver partir. Para me despedir de mais um dia, agradecendo por ter tido direito a ele. E enquanto olho o sol agarro-me à esperança de ainda poder apreciar muitas das suas partidas. 

Desabafos de Dezembro

V de Viver, 13.12.21

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Sentada numa arriba, como se pairasse sobre a imensidão do mar, ouço o barulho das ondas a rebentar na areia acompanhadas pelos gritos incessantes das gaivotas.Também eu grito em silêncio. Foi exactamente para gritar que sai de casa e vim até aqui. 

Já sentia falta deste sitio. O sol de Dezembro aquece-me o rosto contrariando a brisa fresca que vem do mar. À minha volta só a natureza. Ao longe algumas pessoas mas aqui apenas eu. Sozinha. Como sempre me senti. Mas já há muito que não temo a solidão. Aprendi a fazer-me companhia a mim mesma, e gostei. E é isso que por vezes me assusta. Gostar tanto da solidão. Gostar tanto de estar sozinha. Tenho medo de deixar de sentir. Temo não conseguir mais aproximar-me de ninguém. Sinto amor, não me interpretem mal. Sinto amor pelos meus, pela minha família, por mim. Mas amo tanto estar sozinha. Escrevo agora coisas sem sentido, eu sei. Estou num desses dias em que as ideias, os pensamentos, são mais rápidos que os meus dedos. Num desses dias em que não consigo acompanhar o meu raciocínio. 

As ondas vêm e vão. Rebentam formando a espuma que rapidamente desaparece na areia. Verde, azul, creme. As cores que me rodeiam. Mar. Gosto tanto que por vezes me sinto como se fosse apenas uma extensão dele. É inexplicável. Por vezes penso como seria entrar nele e perder-me. Mas não sei se somos nós que entramos nele ou se é ele que entra em nós de toda a vez que nos toca. Consigo senti-lo na pele embora esteja uns bons metros acima dele. 

Tenho-me sentido perdida. Não sei bem o que sinto. Não estou triste, não mesmo. É mais como se um barulho de fundo não saísse da minha mente. Como se alguma coisa quisesse sair de dentro de mim. 

Mas estou em paz. 

Não é isso que todos procuramos? Sinto uma enorme gratidão por este último ano, mas sobre isso escreverei depois. Agora quero apenas deixar fluir os pensamentos e deixar a caneta rolar nas folhas do meu pequeno caderno. Gotas de lágrimas tingem o papel à medida que a caneta avança. Rabiscos de dor. Rabiscos de vida. A vida é algo tão difícil de descrever. 

Estou em paz.

Sinto o coração tão livre como uma borboleta. Borboleta. Sempre gostei de borboletas. Apercebo-me hoje que sempre quis aquilo que elas simbolizam. Transformação. E consegui. Já não sou aquela menina assustada, aquela adolescente incompreendida. Sou hoje a mulher que sempre quis ser. Quero sempre melhorar, quero sempre mais. Sempre fui uma insaciável. Sempre tive fome de viver. Sempre. Mas aprendi, com o grande professor que é o tempo, a viver com calma. A esperar sempre mais mas com a consciência que nem tudo chega quando quero. Por vezes há coisas que só chegam quando ela, a vida, sabe que estamos preparados. 

Portimão, 03/12/2021

Aqui, onde pertenço

V de Viver, 19.11.20

126371510_192936812288909_1217688334664714511_n.jp(Fotografia: V de Viver)

Sentada na areia húmida ouço o som do mar. Escuto os segredos que ele tem para me contar. Dos sítios onde já passou, das pessoas que já viu, das lágrimas que dele fazem parte. As ondas vêm e vão. A espuma da rebentação brinda-me com uma melodia quase mágica. Como se milhões de vidrinhos se juntassem, criando uma sinfonia deslumbrante. Cruzo as pernas e deixo que o sol me aqueça. O vento beija-me os cabelos. O cheiro a maresia preenche-me o corpo e a alma. Coloco as mão sobre as pernas. Relaxo. Respiro o ar salgado que me refresca. Fecho os olhos. Deixo-me levar pelo som das ondas e do vento. Sinto-me leve e em paz. Penso em quantas vezes fazemos aquilo que realmente queremos fazer. Aquilo que nos dá prazer, que nos preenche cada célula do corpo. Sinto a paz a instalar-se no meu corpo e, principalmente, no meu coração. Quero pensar, com fé, que a vida sabe sempre onde é o nosso lugar. Aqui sinto, não pela primeira vez, que é o meu. Que é aqui que pertenço. A esta praia, a este mar, a esta vida. Aqui, com o mar, o sol e o vento como companhia sinto-me em casa. É aqui que pertenço. Sozinha. Mas nunca verdadeiramente só. 

Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia

António Botto

V de Viver, 02.06.20

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Eu hontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.

Chorámos, rimos, cantámos.

Fallou-me do seu destino,
Do seu fado...

Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Poz-se a cantar
Um canto molhádo e lindo.

O seu halito perfuma,
E o seu perfume faz mal!

Deserto de aguas sem fim.

Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?...

Elle afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado...

Ao longe o Sol na agonia
De rôxo as aguas tingia.

«Voz do mar, mysteriosa;
Voz do amôr e da verdade!
- Ó voz moribunda e dôce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte...»
. . . . . . . . . . . . . . . .

E os poetas a cantar
São echos da voz do mar!

António Botto, in 'Canções'

Eu e a minha solidão

V de Viver, 16.10.19

16830269_1288074357929328_1921538110_n.jpgHá dias em que só precisamos estar sozinhos. Em que precisamos esquecer todos ao nosso redor, os problemas, o trabalho, os dramas internos, os dramas das amigas, o que não nos pertence, mas que deixamos que nos encha a cabeça e a alma todos os dias. Há dias em que só o silêncio nos pode fazer companhia. Ou a música. Vivo sozinha há cerca de três anos, altura em que acabei uma relação de nove anos! Caramba, nove anos. Mas isso é outro tema, hoje só quero falar do bem que a solidão nos pode fazer. Quando fiquei sozinha, inicialmente, fiquei assustada. Tinha acabado de começar uma nova vida, um novo trabalho, num sítio completamente diferente e a duzentos quilómetros da minha terra, da minha família, das minhas raízes e daquilo que eu conhecia. Foi, sem dúvida, um sonho tornado realidade porque vim viver para a localidade onde sempre tinha sonhado viver, e foi ainda melhor do que imaginei. Não mudava nada do que aconteceu, até porque acredito que tudo acontece por um motivo, mas foi duro no início. Mas com o tempo a solidão começou a fazer-me companhia. E eu gostei. Parece inacreditável, ainda mais para quem me conhece. Sou uma pessoa super alegre e sociável, mas no dia que me habituei a gostar da minha própria companhia a minha vida mudou. Com os anos (ou será com os danos?!) aprendes que só tu te podes compreender. Só tu tens o poder e a possibilidade de te ajudar, de te escutar e de te fazer feliz. Não digo com isto que devemos passar a vida sozinhos, atenção! Eu gosto muito de estar com os meus amigos, das jantaradas, dos copos e das saídas com eles. Adoro estar com a minha família, nada me faz mais feliz que reunir a família toda. Pretendo apenas que todos que leiam isto possam compreender que, por vezes, estar sozinho pode ser a melhor coisa da vida. Ajuda-nos a crescer de uma forma indescritível. Perdi a conta às vezes que estava com algum problema, alguma dor interior, e fui até à praia, sozinha. Só eu e o mar. Só estar sozinha com o mar é que pode ser melhor que estar efetivamente sozinha.

Acreditem.

Cresci muito mais nos momentos em que me encontrei sozinha do que nos momentos em que alguém me tentou ajudar ou me tentou animar em relação a alguma coisa. Os conselhos das pessoas que nos amam podem ser bons, mas não há nada como os nossos próprios conselhos. Como o nosso próprio olhar sobre os nossos problemas e dilemas. Só isso nos pode ajudar a resolver, tanto os problemas externos como, principalmente, os internos.