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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Está tudo bem em não estar tudo bem

V de Viver, 29.08.23

Há meses que não venho escrever por aqui. Nunca deixei de escrever porque é a minha terapia, embora tenha alturas em que escrevo diariamente e outras em que só o faço esporadicamente. 

Não houve nenhum motivo para deixar de escrever aqui. Continuo a achar o mundo dos blogues fascinante. Adoro vir aqui de tempos a tempos e ler o que as pessoas que sigo escreveram. Ver que estão vivas sobretudo. Ter "noticias" delas. 

Acho que é também por isso que por vezes volto. Para dar sinais de vida.

Vida essa que segue. Vou tentando dar o meu melhor todos os dias. Sou incapaz de escrever tudo o que me tem acontecido este ano de 2023 num texto só. Têm sido muitas coisas. A maioria coisas boas. A maioria dos dias têm sido bons, embora eu sinta que não tenho dado o máximo. Que não tenho usado o máximo do meu potencial. 

Claro que eu sei que o nosso melhor é diferente todos os dias. Mas sinto que não tenho estado a dar tudo. Sinto-me cansada, às vezes. Sinto que durante algum tempo me exigi demais e que agora o meu corpo e a minha mente querem abrandar. 

Ainda sou jovem. Mas às vezes acho que comecei a viver (verdadeiramente) muito tarde. Então não é coisa rara na minha vida sentir que me falta tempo. Que deveria acontecer tudo "para ontem" na minha vida.

Sinto-me grata na maioria dos dias. E naqueles dias, como hoje, em que acordo sem energia, sem vontade de fazer absolutamente nada, tento respeitar-me, não me exigir demais e agradecer por ter acordado (visto que não consigo ver mais nada de bom no momento!) 

Não tenho nada de que me queixar. A vida segue e tem sido um bom ano. Mas mesmo assim a minha insatisfação e julgamento acompanham-me: devias ter ido treinar; devias ter comido melhor; andas a comer mal e não alimentas o corpo com os nutrientes que ele precisa; devias ter arrumado a casa em vez de ficares no sofá; devias manter consistência no treino...enfim, todas estas frases fazem, por vezes, parte do meu discurso.

Talvez seja normal. Talvez todos nós tenhamos sido ensinados a cobrar-se demais, a exigir muito de nós. Não digo que seja errado exigir de nós. Mas sei que é preciso ter cautela para não cairmos no erro do exagero. Como em tudo na vida é preciso equilíbrio. Entre o fazer e o apenas ser.

Sim, há dias em que me apetece apenas existir. E está tudo bem.

O meu melhor nunca é o mesmo. E está tudo bem.

Nem sempre consigo fazer o que tem que ser feito. E está tudo bem.

Que consigamos ser tão nossas amigas como somos das nossas melhores amigas. Que nos julguemos menos pelos dias menos bons. A vida é feita de fases e devemos respeitar cada fase nossa.

Claro que escrevi isto para vocês. Mas mentiria se vos dissesse que não o fiz mais para mim. Há dias em que só preciso de me ouvir a dizer que está tudo bem em não estar tudo bem.

 

 

Uma mensagem a quem me lê

V de Viver, 22.05.22

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O dia lá fora está cinzento. Não sei quanto a vocês, mas a mim estes dias convidam-me a ficar no sofá. Ler um livro. Ver um filme. E reflectir. Dias cinzentos dão-me sempre vontade de pensar sobre a vida. Sobre tudo o que já vivi, o que estou a viver e o que ainda está para chegar.

Tenho andado [novamente] ausente do blogue. Não sei se posso usar a desculpa da vida corrida. Até porque sou a primeira pessoa a defender que, bem organizado, o tempo dá para tudo. Tenho continuado a escrever bastante. Mas cada vez mais aquilo que escrevo é tão pessoal que nem sempre é possível partilhar por aqui. 

Tenho feito mais por mim todos os dias. Tenho-me amado mais, mimado mais, apreciado mais. Estou feliz. Espero muito que vocês que me visitam também estejam bem e felizes. 

A vida segue, os dias entrelaçam-se entre si numa enorme mistura de altos e baixos, de dias bons com dias menos bons. Acredito que assim seja para todos. 

Estou sinceramente em paz. Batalhei muito para me tornar na pessoa que sou hoje e digo-vos, de peito cheio, que me orgulho bastante de quem sou hoje em dia. Gostava que todas as pessoas no mundo percebessem que quando nos amamos, quando cuidamos de nós, quando nos priorizamos, a vida começa a fluir de outra forma. 

No dia em que deixei de me sentir uma vitima e percebi que a responsabilidade pela minha vida, pela minha felicidade e pelo meu futuro só dependiam de mim a minha vida mudou completamente. É verdade sim que o amor próprio é o mais importante de todos. Quando nos amamos o amor chega-nos. Quando nos fazemos felizes a felicidade encontra-nos. Quando fazemos o bem o bem vem ter connosco. Acreditem. 

Hoje faço algo por mim todos os dias. Seja o que for. E foi a melhor mudança que fiz até hoje na minha vida. Priorizar-me foi a chave para chegar ao nível de paz e amor próprio em que me encontro.

Afinal sempre há frases clichés que são pura verdade:

"Quando estamos bem por dentro isso nota-se por fora."

É uma verdade universal. 

Para hoje, nesta passagem pelo blogue, sendo honesta quando vos digo que não sei quando cá voltarei (pode ser amanhã, pode ser daqui a uma semana, ou até daqui a um mês) quero deixar-vos um grande agradecimento.

Após esta ausência percebi que tive direito a dois destaques. Um pela minha querida Ana de Deus que se mantém sempre presente no meu blogue e a quem sou imensamente grata por todo o carinho. E outro pela equipa do sapo a quem sou também muito grata por ao longo dos meus (ainda poucos) anos de blogue ir, vez ou outra, destacando aquilo que escrevo. Muito grata e feliz por saber que aquilo que escrevo chega aos vossos corações.

E agradecer de igual forma a todos vocês que vão passando por cá por nunca deixarem de o fazer, mesmo com as minhas longas ausências. 

Se vos puder deixar uma mensagem hoje que seja esta: amem-se muito, priorizem-se sempre. Quando estamos bem tudo à nossa volta fica bem. 

Que eu nunca me esqueça

V de Viver, 17.01.22

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- Que sou suficiente

- Que tenho em mim tudo o que preciso

- Que não preciso da minha outra metade porque eu sou inteira

- Que o meu corpo é normal (como todos os outros)

- Que se quero, posso

- Que já cheguei muito longe

- Que sou inteligente

- Que ainda posso alcançar muito mais (não apenas ter, mas ser)

- Que os erros fazem parte do caminho

- Que todos os que passam na minha vida me ensinam algo

- Que devo ser grata todos os dias porque todos os dias são uma bênção

- Que eu sou capaz

- Que a família deve ser sempre prioridade

- Que o que se ganha fácil perde-se fácil

- Que vale sempre a pena amar

- Que nem tudo o que se perde é uma perda

- Que a vida é feita de fases

- Que dentro de mim existe sombra e luz

- Que todas as pessoas estão a viver as suas lutas

- Que nem todos os dias são de sol, mas ainda assim ele sempre volta

- Que a Natureza me faz bem

- Que devo cuidar de mim todos os dias

- Que se posso sonhar posso realizar

- Que nada é em vão

- Que ninguém é de ninguém

- Que devo respeitar os outros e nunca lhes fazer o que não quero que me façam

- Que esta praia é um dos meus refúgios

- Que todo o pôr do sol é um motivo para agradecer

- Que os outros nem sempre vão querer o mesmo que eu

- Que se aprende muito nos dias menos fáceis

- Que devo comemorar sempre as pequenas vitórias

- Que nunca posso parar de sonhar

- Que o amor próprio é o único que me pode salvar

- Que se eu gostar da minha companhia nunca estarei só

- Que ver o pôr do sol na praia me acalma

- Que cuidar do meu corpo me faz sentir bem

- Que a gratidão nunca é demais

- Que o silêncio pode ajudar muito

- Que a solidão nem sempre é uma coisa má

- Que eu posso tudo

- Que nunca devo depender de ninguém para ser feliz

- Que a felicidade está dentro de mim

- Que os meus objectivos devem estar sempre primeiro

- Que a opinião dos outros é isso mesmo, dos outros

- Que há beleza em tudo porque a beleza está nos olhos de quem vê

- Que nem todos os dias são fáceis e está tudo bem

- Que devo cuidar sempre dos meus pensamentos

- Que a minha paz importa mais que tudo o resto

- Que sou corajosa sim, mas não perfeita

- Que vou sempre cometer erros mas que todos me ensinam algo

- Que por muito que doa, tudo passa

Que eu nunca me esqueça disto e que vocês também não. 

Qual é o nome da tua saudade?

V de Viver, 15.01.22

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É à noite que a saudade me dói mais. Quando pouso a cabeça na almofada vejo a vida passar-me diante dos olhos, como um filme em replay. Erros. Acertos. Lutas. Conquistas. Derrotas. Pessoas. A nossa vida não é igual sem pessoas. Por muito que alguém goste da solitude, ninguém gosta da solidão. Mas é à noite que ela mais se sente. Quando te deitas numa cama que nem sempre foi assim tão grande. Mas não foi o tamanho da cama que mudou, é o vazio que alguém lá deixou ao ir embora. Como aquele buraco vazio que se sente no peito, como se um espaço tivesse em branco quando até há pouco tempo estava recheado de cor. É à noite que fazes o balanço do dia. Que analisas o que fizeste, o que deixaste por fazer. O que disseste e o que deixaste por dizer. À noite quando aquela mensagem não chega. Aquela que esperavas todas as noites quando a presença não era opção. É muito fácil habituares-te a esse tipo de carinho. Difícil é adaptares-te à sua ausência. À noite, enquanto dás voltas e voltas constatando, mais que uma vez, que a cama não parecia tão grande há uns tempos atrás, pensas em como tudo na vida é passageiro. Em como tudo é incerto. Em como as pessoas vêm e vão com tanta facilidade. Cada um a viver as suas vidas. A tentar chegar à sua melhor versão. A querer ser melhor. A curar as suas feridas. E sabes, nesse momento enquanto as lágrimas se te assomam aos olhos, que não podes fazer nada quanto a isso. Que a nossa vida é como uma estação de comboio. Uma constante de chegadas e partidas. Que cada um tem, sim, que fazer o seu percurso. Que não podes, nem deves, prender ninguém. Que nem sempre os outros vão querer o mesmo que tu e que, mesmo quando dizem querer, podem de um momento para o outro mudar de ideias. Pouso a cabeça na almofada depois de mais uma volta na cama. Fecho os olhos. E imagino-me em outra cama, outro quarto, outra casa, outro país, porque não? Lá não estou sozinha. Lá a cama não é tão grande porque ao meu lado, a aquecer-me o corpo e alma está outra pessoa. Aquela pessoa. Todos temos uma pessoa que é aquela pessoa. E todos temos em nós o poder de fechar os olhos e imaginarmo-nos enroscados nos braços daquela pessoa. E aí respiramos fundo. Sorrimos. E, em paz, dormimos um sono mais tranquilo, mais doce e mais quente. Porque enquanto podermos sonhar, enquanto tivermos em nós o poder de imaginar a nossa vida de outra forma, conseguimos ter tudo. Por um segundo. Na nossa imaginação.

 

Fotografia:@google

Perguntas sem resposta

V de Viver, 14.01.22

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Afinal de contas o que importa o que os outros acham de determinada situação? Para que serve a intuição de alguém que vê a situação de fora? Devemos confiar na nossa intuição ou não? Quando a minha intuição me diz algo diferente do que outra pessoa, exterior a determinado acontecimento, diz, devo confiar mais na minha intuição ou na opinião da pessoa? A pessoa pode ser mais velha e mais sábia, mas será que isso realmente significa que sabe mais sobre uma situação que eu vivi e na qual não esteve envolvida? O diz que disse, o ouvi falar, tudo isso é muito bonito, mas até onde devemos realmente acreditar? É mais válido a opinião de uma pessoa fora da situação ou aquilo que a pessoa envolvida na situação te fez sentir?

Aqui estou eu num dos meus lugares favoritos a pensar em todas estas questões. O barulho do mar não cala os meus pensamentos. O solo quentinho não aquece o meu coração esfriado. Estou confusa em relação ao que acreditar. Não estou no drama. Estou bem. Estou até numa das melhores fases da minha vida. Sinto me realizada, feliz e em paz. Contudo há questões que me assombram. E está é uma delas. Não sei se devo acreditar na minha intuição ou se apenas me estou a iludir.

Mas enquanto escrevo, neste exacto momento, penso (e é por isto que a escrita é a minha terapia) as coisas têm sempre que ter uma explicação e um sentido? Vale a pena mexer no que passou? Se a pessoa me fez sentir bem, no curto espaço de tempo que nós tivemos, tenho mesmo que encontrar um significado para isto? Ou devo apenas deixar-me sentir e seguir? Foi bom. Fez me bem. Quero mesmo saber se foi tão sincero e real quanto me pareceu? Ou devo apenas agradecer por mais um ensinamento na minha vida? Devo ser apenas grata à pessoa por me ter feito feliz ou tentar encontrar uma resposta sobre se foi tão sincero quanto me pareceu? 

 

O meu primeiro pôr do sol do ano

V de Viver, 13.01.22

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Escrevo estas palavras sentada numa velha prancha de surf, na minha praia, num cantinho que deve ser de muitos mas que agora é só meu. Vim ver o mar e o pôr do sol, mas o sol ainda está alto mostrando que ainda demorará uns minutos para ir embora. Embora para onde nunca saberei. Ouço as ondas enquanto ouço também uma música no meu único fone de ouvido, o outro há muito que partiu nas ondas deste mar que me faz companhia em melodia de fundo. Penso na vida. Em tudo o que já vivi, em todas as lutas e em como umas desencadearam em vitórias e outras em aprendizagens. Penso nas pessoas que passaram na minha vida e naquilo que aprendi com elas. Penso nos meus avós e em como tenho saudades deles. Penso na minha mãe, na minha irmã. Penso nos amores e nos que não chegaram a sê-lo. A vida é curta, é imprevisível. As pessoas, tal como as ondas do mar, vem e vão. Tenho uma vida recheada de partidas. Mas para terem partido essas pessoas têm que ter chegado. Por isso ouso dizer que tenho, também, uma vida cheia de chegadas. Penso onde estive, onde já cheguei e onde ainda vou chegar. É este o poder do mar e do sol sobre mim. Fazem-me pensar no meu passado, reflectir sobre ele, mas fazem-me também ter esperança no futuro. Tudo é incerto. O que hoje é amanhã pode já não ser. Inclusive eu. Hoje estou viva, mas amanhã? Amanhã não sei. Provavelmente é este o encanto da vida. Não sabermos nada. Nem de onde viemos, nem para onde vamos. O sol aquece-me o rosto fazendo a temperatura contrastar com o gelo em que estão os meus pés. O sol continua alto. Mas vou ficar na praia para o ver partir. Para me despedir de mais um dia, agradecendo por ter tido direito a ele. E enquanto olho o sol agarro-me à esperança de ainda poder apreciar muitas das suas partidas. 

7 dias

V de Viver, 12.01.22

kristina-tripkovic-nwWUBsW6ud4-unsplash.jpgAdivinhem quem se deixou caçar pelo Covid-19? Exactamente, eu.

Mas não vos venho falar do facto de nos mandarem ficar em casa sem que ninguém se preocupe se estamos bem ou mal. Para quem, como eu, vive sozinha não é fácil. Mas não é sobre o facto de nos dizerem que nos vão contactar e nunca o chegarem a fazer que vos venho falar. Embora me assuste pensar que poderão haver pessoas que não têm ninguém e que, efectivamente, podem passar mal sem que ninguém sequer saiba ou se preocupe. Mas não é sobre isto que vos venho falar.

Também não vos venho falar sobre ter tido o lixo sete dias em casa. Sempre ouvi aquela expressão: "as visitas em casa são como o saco do lixo, mais de três dias e começa a cheirar mal". Não que eu concorde plenamente com esta expressão, confesso. Mas não vos venho falar disso, afinal de contas sei que há pessoas que colocam a máscara e vão levar o lixo. Eu também o podia ter feito, mas vivo num prédio, uso o elevador e achei que não devia fazê-lo. Por isso, não é disso que vos venho falar.

Também não vos venho falar do facto de ter que comer o que há em casa, porque afinal de contas eu vivo sozinha, a 200km da minha família. E sim, posso-me dar por contente de ter comida em casa porque há quem não tenha. E sim também, claro que podia ter pedido a algum dos meus colegas de trabalho que fizesse 40km para me vir trazer compras, mas não quis dar trabalho, por isso também não é disto que vos venho falar.

Não é também sobre os sintomas que vos venho falar. Não é sobre a tosse, nem sobre o ranho, nem sobre a dor de cabeça constante. Nem sequer sobre o cansaço físico que, realmente, não me larga mesmo tendo estado sete dias sem fazer nada. Também não é sobre o facto de ter tirado um café na minha máquina de café e de o ter despejado pela pia abaixo porque me sabia a soro fisiológico. Não é sobre nada disto que vos venho falar.

Também não é sobre o facto de pormos tudo em perspectiva e, não pela primeira vez na vida, chegar à conclusão que a saúde é, sim, o nosso bem mais valioso. 

Mas também não é sobre o facto de ser exactamente quando estás doente que vês quem realmente é teu amigo. Sim. Aqueles que mandam pelo menos uma mensagem por dia a perguntar como te sentes. Não, não é sobre o sentires-te acarinhada que vos venho falar. 

Nem é também sobre o facto de pessoas que não esperavas te ligarem a perguntar se estás bem. Não, mais uma vez, não é sobre o facto de te fazerem sentir especial com um simples gesto que vos venho falar. 

Dois minutos. Às vezes menos. É o tempo que leva a fazer alguém sentir-se especial. Impressionante, não?

Acreditem ou não, também não é sobre a solidão que nos assola quando estamos sete dias fechados em casa que vos venho falar. Não é sobre o facto de, mesmo para quem está habituado à solidão, ser mais difícil lidar com ela quando não é por vontade própria. 

Nem sobre o facto de ninguém estar, realmente, preparado para perder a liberdade ainda que por um curto espaço de tempo. 

Nem, e isso seria egoísmo meu, sobre o facto de ter sentido falta de ver e cheirar o mar, de ser acariciada pela brisa e pelo calor do sol no rosto enquanto os meus pés tocam a areia fria. 

Não, não é sobre nada disto que vos venho falar. Mas querem saber a verdade? Se não é sobre isto, então não sei sobre o que vos queria falar. Porque isto é tudo o que vos posso dizer: a vida é imprevisível. Um vírus pode sim chegar e mudar os nossos planos. E é um abre olhos. Porque percebemos o quanto somos pequenos e insignificantes neste mundo. E ao mesmo tempo percebemos como somos todos iguais. Como isto nos pode afectar a todos. Aos que acreditam, aos que não acreditam e aos que não pensam muito no assunto. Achamos sempre que só acontece aos outros, mas adivinhem: não acontece só aos outros. E não, não é só uma gripe. É uma gripe que nos tira a liberdade e, ainda que sejam só sete dias (para assintomáticos/sintomas ligeiros), nos priva daquilo a que estamos tão habituados, a nossa rotina.

 

PS: não me estou a queixar, estou a escrever sobre a minha perspectiva.

PS2: já estou recuperada e fora do isolamento (terminou ontem, embora ainda não tenha saído de casa... Juro-vos que nunca desejei tanto ir levar o lixo!!). 

Fotografia: @kristinatripkovic

Num piscar de olhos

"Rico é quem tem tempo"

V de Viver, 21.12.19

O tempo tem uma maneira engraçada de nos mostrar o que realmente é importante. O próprio tempo. 

A vida passa num abrir e fechar de olhos. Não consigo deixar de pensar que passamos muitas vezes pela vida em piloto automático. Mais de metade do meu ano de 2019 foi passado assim. A desejar que os dias passassem rápido até às folgas para ter algum sossego. E quando as folgas chegavam acabava, na maioria das vezes, por não as aproveitar por pensar que daí a nada já tinha que voltar ao trabalho. Ansiava pelas férias para que, logo que elas iniciavam, viver cada dia com a mesma angústia, a pensar que teria poucos dias para aproveitar. E isso faz de nós o quê? Assassinos do tempo? Ou da vida? 

Passamos por aqui sempre com pressa. Pressa de ir. Pressa de chegar. Pressa de voltar. 

E um dia acordamos e faltam quatro dias para o dia de Natal. E apercebemo-nos com espanto que sendo assim faltam apenas dez dias para o último dia do ano!

Mas, esperam lá? Como assim, passou mais um ano da nossa vida? 

Vivemos mesmo 365 dias, assim, num ápice?

Quando nos damos conta de que o tempo é o nosso bem mais precioso tendemos a ver a vida com outros olhos. Eu, pelo menos, penso assim. Mas se eu penso assim porque é que não aproveito mais? Porque é que não vivo mais? Porque é que me deixo levar pela ansiedade de querer que as folgas cheguem e depois me perco na ansiedade de as folgas estarem a acabar. E depois só quero que cheguem as férias, e depois "Oh não, as férias são demasiados curtas, e agora?". E depois tenho que me despachar para ir trabalhar, e depois tenho que me despachar para apanhar o supermercado aberto, e ir para casa, e fazer o jantar, e... Caramba, cansa só de pensar, não é? 

Hoje dou por mim a pensar que andamos demasiado atarefados para dar valor ao tempo. Para dar valor à vida. E dou por mim, também, a desejar com todas as minhas forças que no próximo ano tudo seja diferente. Aliás, que eu consiga ser diferente, porque não é o caminho que muda, é a forma de caminhar que tem que mudar.

Afinal de contas não é Inverno?

V de Viver, 20.12.19

79644583_566768594162537_1120440251790131200_n.jpg(Imagem Facebook)

Ontem adormeci ao som da chuva. O vento, forte e obstinado trazia com ele o barulho do mar. Não fossem os meus sons preferidos (principalmente na hora de adormecer) e, provavelmente, eu não estaria a escrever este post.

Não percebo nada de meteorologia, os meus conhecimentos sobre o tema não se estenderam além dos retratados nas aulas de geografia de algum ano escolar, já nem sei precisar qual. Mas hoje ao ler nas noticías um título que dizia: "Depois da Elsa chega o Fabian" não consegui deixar de pensar o quão sensacionalistas estão os jornais. 

Elsa? Fabian? Não será apenas Dezembro? A sério, não é normal haver chuva e vento forte em Dezembro?

Juro que não consigo perceber o porquê de tanto alarido. O porquê de terem que dar um nome a cada temporada de chuva e vento. Estamos no fim do Outono, quase início de Inverno, esperavam o quê? Temperaturas acima dos 30 graus e um sol esplendoroso todos os dias?

Eu adoro sol, e nada me deixa mais animada do que acordar com o cantar dos passarinhos na janela, porque imediatamente, ainda antes de abrir a persiana, sei que está um bom dia lá fora. Mas a chuva faz falta. É tempo dela cair. 

O que vale é que ainda existem pessoas imaginativas porque logo após ler sobre as depressões Elsa e Fabian vi a imagem que se apresenta neste post.

E é verdade, esqueçam lá isso. Está um "vento dum cabrão". E é altura dele.

A nostalgia do Natal

Quando as raízes se vão há coisas que, inevitavelmente, perdem o sentido!

V de Viver, 12.12.19

O Natal sempre foi a minha época favorita. Lembro-me de quando era adolescente as minhas amigas preferirem o Carnaval ou as festas da aldeia. Mas eu não. Eu ansiava pelo Natal. Quando eu era muito pequena, diria até aos meus 6 anos (mas sem certeza absoluta) nunca festejávamos o Natal. O meu tio faleceu, com dezanove anos, quando eu nasci e os primeiros anos foram passados como que dentro de uma enorme bolha de dor que rodeava toda a família. Claro que eu não sabia nada acerca disso. Era demasiado pequena, demasiado inocente. Mas ainda que não saiba especificar quando, sei que algures no minha infância o Natal passou a ser festejado.

E era a coisa mais maravilhosa de sempre.

A família toda junta, as mesas cheias de comida, o barulho das conversas dos adultos e a gritaria e os risinhos dos mais pequenos. Era como se, na nossa casa, de um momento para o outro, só existisse felicidade e amor. Recordo essas noites quentes, barulhentas e felizes com uma nostalgia que sou incapaz de explicar.

No entanto faltava sempre alguém. Os avós. O meu avós deixaram de festejar o Natal quando o meu tio faleceu. Aliás, eles deixaram de festejar fosse o que fosse. Mas no Natal de 2011 conseguimos, depois de muita, muita, mas mesmo muita insistência, convencer a avó a jantar connosco. Sim, convencer a avó, porque o avô só precisávamos pedir-lhe. E foi como se advinhássemos que o avô estava prestes a partir. Não que alguma coisa nele o demonstrasse. Não, o meu avô era a pessoa mais rija que eu conheci. Arrisco-me a dizer que com os seus 84 anos era mais rijo que qualquer outra pessoa da família. Mas no início de 2013 o meu avôzinho deixou-nos. De forma inesperada. E digo de forma inesperada porque, como já referi, ele era rijo, era a saúde em pessoa. Mas foi-se. Só ficou o vazio. Chorei dias a fio, e ainda hoje me recordo do meu avô todos os dias. Pode parecer exagero, mas é a mais pura das verdades. A minha avó, deixou-nos este ano. Foi como se outro buraco se abrisse no meu peito. De tal modo, que ainda não me sinto preparada para falar sobre isso.

Por tudo isto, este ano não há Natal. Não há avós e a dor é tanta que, pela primeira vez desde que começámos a festejar o Natal, eu não montei árvore de Natal nem decorei a casa para a época. É como se todo o encanto do Natal tivesse passado com a morte deles. Como se nos tivessem arrancado as raízes. E por esse motivo, até a dor suavizar, nada volta a ser como era. 

Este ano resta-me recordar com nostalgia as noites de Natal dos anos findos. O Natal da infância a ansiar pela hora de abrir os presentes, pela chegada dos primos. Da adoslecência a apreciar as noites longas, quentes e barulhentas, preenchidas por aquele cheirinho a comida, por aquela sensação de paz e amor. De querer um lugar na mesa dos adultos porque já me considerava suficientemente crescida. Das horas a cozinhar com a minha mãe e as minhas tias. A correria para colocar a, extensa, mesa onde toda a família levaria horas a comer, beber e conviver. E de mais tarde, já adulta, apreciar, principalmente, aquela sensação de paz, harmonia, amor e segurança por estar rodeada das pessoas mais importantes da minha vida. Das noites ao som dos risos, da alegria, com o cheiro a lenha queimada da lareira a juntar-se a todos os cheiros da comida sobre a mesa. 

Resta-me recordar e preservar com amor aqueles momentos. Momentos esses em que erámos felizes e não sabíamos.