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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

É o amor que faz girar o mundo

V de Viver, 13.02.23

Não gosto muito de dias sem sol. Deixam-me nostálgica. Fico pensativa, introspectiva e com menos energia. Fico, quase literalmente, da cor do dia. Cinzenta. Estava ainda agora a ler um romance, mas fazia-o sem grande entusiasmo, honestamente. "O Livros dos Dois Caminhos", da grande escritora Jodi Picoult, lá porque estou com pouco entusiasmo não faz do livro menos bom.

Curiosamente há uns anos só lia romances. Hoje levo tempo para ler um e já não o faço com o mesmo encantamento. Ainda acredito no amor. Sim, continuo a acreditar que é possível amar e ser amado. Continuo a dar amor a quem se cruza no meu caminho. Mesmo aos que, claramente, não chegam com essa intenção. Mas isso é só mais uma prova de que não controlamos nada, só podemos controlar a forma como reagimos às diversas situações da vida. 

Às vezes tenho a mente tão assoberbada de ideias que me custa escrever. Como hoje, como agora. Nestes dias a minha escrita torna-se confusa. Começo a escrever por um motivo mas as ideias surgem umas atrás das outras, a empurrarem-se para abrir caminho para ver qual chega primeiro ao papel. Geralmente nestes dias não sei o que sinto. Por vezes não sei o que quero. Nestes dias costumo dar-me espaço apenas para existir. Não me exigir muito. Afinal de contas se até a natureza tem dias cinzentos, de sombra, porque não haveria eu de poder tê-los? Tenho calor, curiosamente. Estão 13º lá fora e há pouco estava gelada. Às vezes sinto-me gelada. E sozinha. Quase como se uma coisa levasse à outra. Mas na maioria dos dias gosto e prezo a minha solidão. Solitude. Não sei bem. Mas aprendi, realmente, a apreciar a minha própria companhia. Na maioria dos dias. 

No fundo sou grata a estes dias cinza. Estes dias que me fazem lembrar que nem todos os dias precisamos de estar a 100%. Que o nosso melhor pode ser diferente todos os dias da nossa vida.

Gosto de sentir que aprendo todos os dias alguma coisa. A sabedoria e o conhecimento sempre me cativaram. E quanto mais velha fico mais vontade sinto de aprender. Não necessariamente sobre outros ou sobre algo em especifico. Mas sobre mim. Adoro esta sensação de que me conheço perfeitamente. Esta sensação de que sou a única pessoa no mundo capaz de me perceber, de me amar, de me dar aquilo que quero, que preciso e que procuro. 

Esta percepção de solidão que me trás a sensação de que não preciso de ninguém. De que me basto. De que me tenho a mim mesma e que isso já significa ter o mundo. Ser o mundo. O meu mundo. 

O sol aparece por entre as núvens de vez em quando. Esforça-se por aparecer, por se manter visivel. Por vezes todos nós somos sol. Esforçando-nos para acordar, para sair da cama, para fazer o que tem que ser feito. Mas é bom ser como o sol. Saber que mesmo quando não brilhamos ainda estamos aqui. Dentro de nós mesmos há uma luz que nunca se apaga. Até ao dia em que se apagará para sempre. Mas, não sei porquê, acho que mesmo nesse dia a nossa luz se manterá a brilhar. Enquanto formos lembrados pelos que nos amam, por aqueles cujas vidas conseguimos tocar de uma forma ou de outra. O que me recorda que é o amor. É sempre o amor a chave de tudo nesta vida. É e será sempre o amor que manterá as pessoas vivas. Que manterá o mundo a girar. Sim, é o amor que faz girar o mundo. O amor que sentimos pelos outros. Mas também o amor que sentimos por nós mesmos. E seja qual for o tipo de amor, o importante é que nunca o deixemos morrer. Porque enquanto existir amor as engrenagens da vida continuam a girar, o tempo continua a correr e nós continuaremos vivos. Aqui, ou onde quer que estejamos. Será sempre o amor.

Que nunca nos esqueçamos disso. 

A solitude de domingo

V de Viver, 12.02.23

Junto à janela a beber o meu café depois do almoço apoderasse de mim uma sensação incrível e inexplicável de bem estar. 

Este equilíbrio que eu encontrei. Esta paz que eu conquistei. O amor que sinto por mim, aquele que sempre dei aos outros na esperança de o receber na mesma medida.

Encontrei na solidão a minha melhor companhia. Encontrei em mim aquilo que, durante quase toda a minha existência, achei que me faltava. O amor. 

Se poder deixar um conselho nestas linhas, nesta página onde tantas vezes escrevi o que sentia, onde tantas vezes bebi lágrimas enquanto os dedos tentavam acompanhar a mente, deixo o seguinte: nunca, em hipótese alguma, desistam de vocês. Nunca se abandonem, nunca se esqueçam dos vossos sonhos, dos vossos valores, dos vossos objectivos. 

A melhor coisa que fiz por mim até hoje foi conhecer-me verdadeiramente. Foi saber onde estavam as minhas dores, conhecer a causa delas, e o que podia com elas aprender. Acredito que tudo aquilo que nos acontece na vida tem um propósito. Acredito que todas as pessoas que cruzam o nosso caminho têm uma missão. Assim como acredito que também nós, aos nos cruzarmos nesses caminhos, temos uma missão. Nem sempre vamos compreender essa missão "de caras". Nem sempre vamos conseguir entender a missão do outro na nossa vida no momento em que o outro passa por nós, deixando-nos muitas vezes em pedaços.

É preciso amor. É preciso fé. É preciso acreditar. Acreditar que um dia tudo fará sentido. 

Por muito que nos doa, tudo passa. Tudo sempre passa, o bom e o mau. Porque nunca nada dura para sempre.

É isto que me vai no coração hoje. Nesta solitude de domingo. Mais um domingo sozinha, no meu lar, o meu porto seguro que tanto amo. Pode parecer-vos triste. Pode até ser realmente triste, dependendo da perspectiva. Mas se houve algo que a vida me ensinou foi a ver sempre o melhor lado das coisas. Talvez eu seja apenas uma positiva em excesso. Talvez seja uma sonhadora. Talvez. Mas foi assim que me consegui trazer até aqui. Até este espaço no tempo onde me amo, onde tenho a certeza que consigo enfrentar cada situação que a vida me apresente. Este espaço no tempo onde me orgulho imenso da pessoa que sou e do que fiz com as dores que a vida me trouxe. 

Porque com certeza não é sobre o que nos acontece. É sobre o que fazemos com aquilo que nos acontece. 

Uma noite em Setembro

V de Viver, 08.10.22

Sentada na varanda da minha casa sinto as lágrimas a escorrer pelo rosto enquanto bebo um copo de vinho. Há um ano tinha o hábito de fazer exactamente isto. Sentar-me, sozinha com um copo de vinho e os meus pensamentos. E, claro, uma música.

Faz-me pensar que pouca coisa mudou. Mas o principal mudou bastante:eu.

Sinto-me grata por estar onde estou. Grata por ser a pessoa que tanto lutei para ser. E por ter a consciência que cada vez sou mais quem quero ser.

Mas sei, no fundo, que ainda há coisas que precisam de mudar. Ainda há ciclos que se repetem na minha vida, dores que voltam pelas mãos de outras pessoas. Muda a pessoa, mas a dor é sempre a mesma. E acredito que se os ciclos se repetem é porque ainda tenho alguma coisa a aprender. Claro que temos sempre algo a aprender. Mas refiro-me a ter algo a aprender relativamente ao mesmo.

Sinto que ando em círculos. Embora muita coisa mude há sempre algo que se repete. Mas não me queixo. Sei hoje, como toda a certeza, que não há erros. Há aprendizagens. Tudo vem por um motivo. E só podemos mudar o que vem quando descobrimos esse motivo. Nada nem ninguém chega até nós por acaso. Cada dia que vivo tenho mais a certeza disto.

É verdade que eu sempre fui alguém que pensa demais e sente demais. E é verdade que isso me trouxe muitos dissabores. Mas sinto-me feliz por viver a vida de acordo com os meus valores, de viver em verdade, honestidade e humildade. Não sei onde a vida me leva. Mas vou em paz seja onde for que vá. Porque dei sempre o meu melhor em tudo. Nunca fui desleal para comigo nem para com os outros. E uma das maiores bençãos que tenho na vida é deitar a cabeça no travesseiro, todas as noites, e poder dormir tranquila. Cada um dá o que tem e a conta chega para todos. E se há algo que sei é que eu não tenho motivo para me preocupar com isso.

E acreditem, sinto-me grata por isso. Grata por ser quem sou e com a certeza de que ainda serei alguém melhor. Melhor de acordo com os meus valores. Melhor para mim. Melhor para os outros, mas sempre, sempre de acordo com os meus valores.

 

PS: texto escrito em Setembro. Tenho andado bastante ausente do blogue mas nunca perdi o hábito de escrever. Espero, de coração, que todos os que me lêem sempre que (muito raramente durante este ano) publico alguma coisa, estejam bem. Estou em falta convosco porque não vos tenho lido. Mas vou tentar durante os próximos dias actualizar-me por este mundo dos blogues.

Grata a todos por continuarem por aqui 

Mais uma noite...

V de Viver, 07.07.22
Sentada na varanda da minha casa sinto as lágrimas a escorrer pelo rosto enquanto bebo um copo de vinho. Mas não são lágrimas de tristeza. 

 

Há um ano tinha o hábito de fazer exactamente isto. Sentar-me, sozinha com um copo de vinho e os meus pensamentos. E, claro, uma música.

 

Faz-me pensar que pouca coisa mudou. Mas o principal mudou bastante: eu.

 

Sinto-me grata por estar onde estou. Grata por ser a pessoa que tanto lutei para ser. E por ter a consciência que cada vez sou mais quem quero ser.

Mas sei, no fundo, que ainda há coisas que precisam de mudar. Ainda há ciclos que se repetem na minha vida, dores que voltam pelas mãos de outras pessoas. Muda a pessoa, mas a dor é sempre a mesma. E acredito que se os ciclos se repetem é porque ainda tenho alguma coisa a aprender.

Claro que temos sempre algo a aprender. Mas refiro-me a ter algo a aprender relativamente ao mesmo.

Sinto que ando em círculos. Embora muita coisa mude há sempre algo que se repete.

 

Mas não me queixo.

 

Sei hoje, como toda a certeza, que não há erros. Há aprendizagens. Tudo vem por um motivo. E só podemos mudar o que vem quando descobrimos esse motivo.

Nada nem ninguém chega até nós por acaso. Cada dia que vivo tenho mais a certeza disto.

 

É verdade que eu sempre fui alguém que pensa demais e sente demais. E é verdade que isso me trouxe muitos dissabores. Mas sinto-me feliz por viver a vida de acordo com os meus valores, de viver em verdade, honestidade e humildade.

 

Não sei onde a vida me leva. Mas vou em paz seja onde for que vá. Porque dei sempre o meu melhor em tudo. Nunca fui desleal para comigo nem para com os outros. E uma das maiores bênçãos que tenho na vida é deitar a cabeça no travesseiro, todas as noites, e poder dormir tranquila. Cada um dá o que tem e a conta chega para todos. E se há algo que sei é que eu não tenho motivo para me preocupar com isso.

E acreditem, sinto-me grata por isso. Grata por ser quem sou e com a certeza de que ainda serei alguém melhor. Melhor de acordo com os meus valores. Melhor para mim. Melhor para os outros, mas sempre, sempre de acordo com os meus valores.

Persistentemente

V de Viver, 30.01.22

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Sinto o passado às voltas na minha cabeça.

Acordada ou a dormir sou perseguida por lembranças que teimam em ficar.

Um dia li que a vida é como uma ponte enorme. Que caminhamos nessa ponte sempre com alguém ao nosso lado, mas não é sempre a mesma pessoa. Duas pessoas. Dentre aquelas que caminharam comigo. Duas pessoas completamente diferentes. Cada uma delas, à sua maneira, fizeram-me sentir especial. 

Sonho com um, sonho com o outro. Noite sim, noite não. Sonho a dormir. Sonho acordada. Assomam-se-me à memória enquanto leio uma passagem de um livro, ou quando vejo uma qualquer cena de um filme. De supetão. Chegam sem avisar e instalam-se na minha cabeça como se tivessem prostrados no sofá da casa deles. Confortáveis. Amáveis e cheios de sorrisos. Trazem com eles apenas as boas memórias de momentos felizes. Tocam-me a pele enquanto envolvem os meus cabelos nos dedos. Cada um ao seu jeito. Mas eles não estão aqui. Mas estão. Há muito que partiram, mas estão aqui. A toda a hora. Um selvagem, rebelde. Meu. Tão meu. Ilusão. Nunca me pertenceu. Mas está aqui. Permanece aqui. Partiu, seguiu a vida dele. Mas continua em mim. Gravado em mim. Cada um deles à sua maneira. Um tempo vasto separa as duas histórias. Mas ambas continuam tão presentes em mim. É apenas uma fase, talvez seja a solidão. Talvez. O outro carinhoso, doce. A pessoa que mais carinho me deu, embora se revelasse a história mais curta da minha existência até hoje. Digo até hoje porque não sei o dia de amanhã. E também antes destas histórias eu achava que nunca as teria. Mas não sabemos. Nunca sabemos. Mas foi ele, com certeza, que me ensinou que mereço alguém que me trate bem. Ele, em contra-relógio, como se tivesse passado apenas para me provar que nada, nem ninguém, é por acaso. Que é verdade que todas as pessoas nos podem ensinar algo, que ninguém vem em vão. Aqui andam eles. Às voltas na minha cabeça. Chegam sem qualquer aviso, num cheiro, num som, num carro ou mota que passa na rua, no trânsito que não pára. Tal como a vida, que não pára. Mas eles pararam. Pararam e ficaram. Teimam em não querer sair de dentro de mim. Como fantasmas que se recusam a abandonar o sitio onde foram felizes. Chegam, instalam-se sem autorização e podem levar um dia inteiro a ir e vir dos meus pensamentos. 

Se existem pessoas que nos marcam a alma para sempre estas são duas das que marcaram a minha. Completamente diferentes. Um doce o outro amargo. Um quente o outro frio. Mas ambos passageiros. Como de resto todos nós somos neste vida. 

 

Fotografia: @alex_boyd

O meu primeiro pôr do sol do ano

V de Viver, 13.01.22

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Escrevo estas palavras sentada numa velha prancha de surf, na minha praia, num cantinho que deve ser de muitos mas que agora é só meu. Vim ver o mar e o pôr do sol, mas o sol ainda está alto mostrando que ainda demorará uns minutos para ir embora. Embora para onde nunca saberei. Ouço as ondas enquanto ouço também uma música no meu único fone de ouvido, o outro há muito que partiu nas ondas deste mar que me faz companhia em melodia de fundo. Penso na vida. Em tudo o que já vivi, em todas as lutas e em como umas desencadearam em vitórias e outras em aprendizagens. Penso nas pessoas que passaram na minha vida e naquilo que aprendi com elas. Penso nos meus avós e em como tenho saudades deles. Penso na minha mãe, na minha irmã. Penso nos amores e nos que não chegaram a sê-lo. A vida é curta, é imprevisível. As pessoas, tal como as ondas do mar, vem e vão. Tenho uma vida recheada de partidas. Mas para terem partido essas pessoas têm que ter chegado. Por isso ouso dizer que tenho, também, uma vida cheia de chegadas. Penso onde estive, onde já cheguei e onde ainda vou chegar. É este o poder do mar e do sol sobre mim. Fazem-me pensar no meu passado, reflectir sobre ele, mas fazem-me também ter esperança no futuro. Tudo é incerto. O que hoje é amanhã pode já não ser. Inclusive eu. Hoje estou viva, mas amanhã? Amanhã não sei. Provavelmente é este o encanto da vida. Não sabermos nada. Nem de onde viemos, nem para onde vamos. O sol aquece-me o rosto fazendo a temperatura contrastar com o gelo em que estão os meus pés. O sol continua alto. Mas vou ficar na praia para o ver partir. Para me despedir de mais um dia, agradecendo por ter tido direito a ele. E enquanto olho o sol agarro-me à esperança de ainda poder apreciar muitas das suas partidas. 

7 dias

V de Viver, 12.01.22

kristina-tripkovic-nwWUBsW6ud4-unsplash.jpgAdivinhem quem se deixou caçar pelo Covid-19? Exactamente, eu.

Mas não vos venho falar do facto de nos mandarem ficar em casa sem que ninguém se preocupe se estamos bem ou mal. Para quem, como eu, vive sozinha não é fácil. Mas não é sobre o facto de nos dizerem que nos vão contactar e nunca o chegarem a fazer que vos venho falar. Embora me assuste pensar que poderão haver pessoas que não têm ninguém e que, efectivamente, podem passar mal sem que ninguém sequer saiba ou se preocupe. Mas não é sobre isto que vos venho falar.

Também não vos venho falar sobre ter tido o lixo sete dias em casa. Sempre ouvi aquela expressão: "as visitas em casa são como o saco do lixo, mais de três dias e começa a cheirar mal". Não que eu concorde plenamente com esta expressão, confesso. Mas não vos venho falar disso, afinal de contas sei que há pessoas que colocam a máscara e vão levar o lixo. Eu também o podia ter feito, mas vivo num prédio, uso o elevador e achei que não devia fazê-lo. Por isso, não é disso que vos venho falar.

Também não vos venho falar do facto de ter que comer o que há em casa, porque afinal de contas eu vivo sozinha, a 200km da minha família. E sim, posso-me dar por contente de ter comida em casa porque há quem não tenha. E sim também, claro que podia ter pedido a algum dos meus colegas de trabalho que fizesse 40km para me vir trazer compras, mas não quis dar trabalho, por isso também não é disto que vos venho falar.

Não é também sobre os sintomas que vos venho falar. Não é sobre a tosse, nem sobre o ranho, nem sobre a dor de cabeça constante. Nem sequer sobre o cansaço físico que, realmente, não me larga mesmo tendo estado sete dias sem fazer nada. Também não é sobre o facto de ter tirado um café na minha máquina de café e de o ter despejado pela pia abaixo porque me sabia a soro fisiológico. Não é sobre nada disto que vos venho falar.

Também não é sobre o facto de pormos tudo em perspectiva e, não pela primeira vez na vida, chegar à conclusão que a saúde é, sim, o nosso bem mais valioso. 

Mas também não é sobre o facto de ser exactamente quando estás doente que vês quem realmente é teu amigo. Sim. Aqueles que mandam pelo menos uma mensagem por dia a perguntar como te sentes. Não, não é sobre o sentires-te acarinhada que vos venho falar. 

Nem é também sobre o facto de pessoas que não esperavas te ligarem a perguntar se estás bem. Não, mais uma vez, não é sobre o facto de te fazerem sentir especial com um simples gesto que vos venho falar. 

Dois minutos. Às vezes menos. É o tempo que leva a fazer alguém sentir-se especial. Impressionante, não?

Acreditem ou não, também não é sobre a solidão que nos assola quando estamos sete dias fechados em casa que vos venho falar. Não é sobre o facto de, mesmo para quem está habituado à solidão, ser mais difícil lidar com ela quando não é por vontade própria. 

Nem sobre o facto de ninguém estar, realmente, preparado para perder a liberdade ainda que por um curto espaço de tempo. 

Nem, e isso seria egoísmo meu, sobre o facto de ter sentido falta de ver e cheirar o mar, de ser acariciada pela brisa e pelo calor do sol no rosto enquanto os meus pés tocam a areia fria. 

Não, não é sobre nada disto que vos venho falar. Mas querem saber a verdade? Se não é sobre isto, então não sei sobre o que vos queria falar. Porque isto é tudo o que vos posso dizer: a vida é imprevisível. Um vírus pode sim chegar e mudar os nossos planos. E é um abre olhos. Porque percebemos o quanto somos pequenos e insignificantes neste mundo. E ao mesmo tempo percebemos como somos todos iguais. Como isto nos pode afectar a todos. Aos que acreditam, aos que não acreditam e aos que não pensam muito no assunto. Achamos sempre que só acontece aos outros, mas adivinhem: não acontece só aos outros. E não, não é só uma gripe. É uma gripe que nos tira a liberdade e, ainda que sejam só sete dias (para assintomáticos/sintomas ligeiros), nos priva daquilo a que estamos tão habituados, a nossa rotina.

 

PS: não me estou a queixar, estou a escrever sobre a minha perspectiva.

PS2: já estou recuperada e fora do isolamento (terminou ontem, embora ainda não tenha saído de casa... Juro-vos que nunca desejei tanto ir levar o lixo!!). 

Fotografia: @kristinatripkovic

Desabafos de Dezembro

V de Viver, 13.12.21

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Sentada numa arriba, como se pairasse sobre a imensidão do mar, ouço o barulho das ondas a rebentar na areia acompanhadas pelos gritos incessantes das gaivotas.Também eu grito em silêncio. Foi exactamente para gritar que sai de casa e vim até aqui. 

Já sentia falta deste sitio. O sol de Dezembro aquece-me o rosto contrariando a brisa fresca que vem do mar. À minha volta só a natureza. Ao longe algumas pessoas mas aqui apenas eu. Sozinha. Como sempre me senti. Mas já há muito que não temo a solidão. Aprendi a fazer-me companhia a mim mesma, e gostei. E é isso que por vezes me assusta. Gostar tanto da solidão. Gostar tanto de estar sozinha. Tenho medo de deixar de sentir. Temo não conseguir mais aproximar-me de ninguém. Sinto amor, não me interpretem mal. Sinto amor pelos meus, pela minha família, por mim. Mas amo tanto estar sozinha. Escrevo agora coisas sem sentido, eu sei. Estou num desses dias em que as ideias, os pensamentos, são mais rápidos que os meus dedos. Num desses dias em que não consigo acompanhar o meu raciocínio. 

As ondas vêm e vão. Rebentam formando a espuma que rapidamente desaparece na areia. Verde, azul, creme. As cores que me rodeiam. Mar. Gosto tanto que por vezes me sinto como se fosse apenas uma extensão dele. É inexplicável. Por vezes penso como seria entrar nele e perder-me. Mas não sei se somos nós que entramos nele ou se é ele que entra em nós de toda a vez que nos toca. Consigo senti-lo na pele embora esteja uns bons metros acima dele. 

Tenho-me sentido perdida. Não sei bem o que sinto. Não estou triste, não mesmo. É mais como se um barulho de fundo não saísse da minha mente. Como se alguma coisa quisesse sair de dentro de mim. 

Mas estou em paz. 

Não é isso que todos procuramos? Sinto uma enorme gratidão por este último ano, mas sobre isso escreverei depois. Agora quero apenas deixar fluir os pensamentos e deixar a caneta rolar nas folhas do meu pequeno caderno. Gotas de lágrimas tingem o papel à medida que a caneta avança. Rabiscos de dor. Rabiscos de vida. A vida é algo tão difícil de descrever. 

Estou em paz.

Sinto o coração tão livre como uma borboleta. Borboleta. Sempre gostei de borboletas. Apercebo-me hoje que sempre quis aquilo que elas simbolizam. Transformação. E consegui. Já não sou aquela menina assustada, aquela adolescente incompreendida. Sou hoje a mulher que sempre quis ser. Quero sempre melhorar, quero sempre mais. Sempre fui uma insaciável. Sempre tive fome de viver. Sempre. Mas aprendi, com o grande professor que é o tempo, a viver com calma. A esperar sempre mais mas com a consciência que nem tudo chega quando quero. Por vezes há coisas que só chegam quando ela, a vida, sabe que estamos preparados. 

Portimão, 03/12/2021

Solidão e um copo de vinho

V de Viver, 06.10.21

Um copo de vinho branco na mão pode ser de uma enorme companhia. Sentada na varanda a ouvir música, bebo o vinho e engulo as lágrimas. Não estou triste. Estou reflexiva. Há dias assim, como hoje, em que acordei com as palavras a saltar da cabeça para as pontas dos dedos. Precisava escrever. Escrevi. Nem sempre digo coisas com sentido, mas é tudo muito sentido. Já disse isto hoje. O vinho está fresco, a noite agradável, a música é nostalgia. Mas não é sempre? Passa-me a vida em faixas pela mente. Como se um filme lá estivesse a correr. Erros e acertos. Lágrimas e sorrisos. Pessoas que me marcaram. Umas pelo bem outras pelo mal. Faz parte. Tudo serve para aprender. Bebo mais um gole de vinho e olho as luzes da cidade. Sinto-me privilegiada por ter esta vista sobre a cidade. E grata também. Penso, não pela primeira vez, que tenho um fascínio por varandas, por luzes da cidade e por vistas desafogadas. Será porque, por dentro, me sinto aprisionada? O vinho está fresco, mas queima-me a garganta ao descer, como se estivesse em chamas. Ele não está, e eu? Não me sinto sozinha, ou sinto? Penso nas pessoas que passaram na minha vida. Não deixa de ser curioso que eu pensasse que só teria um amor. Ah, quando somos adolescentes temos uma ideia tão deturpada da realidade da vida! Dou-me conta que podemos, sim, amar mais do que uma pessoa na vida. Refiro-me, como devem ter percebido, ao amor romântico. Sim, porque com certeza amamos muita gente na nossa vida, pessoas além desses amores substituíveis. Porque há amores que não o são, e aqui recordo os meus avós, a minha mãe, a minha irmã. Nunca ninguém poderia substituir esses amores. Mas os outros sim. Não sei se substituir será a palavra mais correta, acredito que cada pessoa pode ser guardada numa gaveta no nosso coração. Da mesma forma que acredito, cada vez mais, que temos lá muitas gavetas. Talvez nunca um amor substitua outro, mas quanto a isso não vos falo com certeza. Mas é após mais um gole de vinho que vos digo que podemos sim amar mais do que uma vez, daquela forma que nos faz aquecer o coração como o vinho me aquece agora a garganta. Há tempos disse que não acredito no amor. Nunca acreditem nas palavras de uma pessoa magoada. Eu acredito no amor, só não sei se consigo voltar a senti-lo. Mas voltei a ter esperança de que sim. Talvez, um dia. Não hoje. Hoje vou ficar apenas aqui no meu lugar seguro, com a minha música, o meu vinho e as minhas lágrimas silenciosas.

Não era isto que querias?

V de Viver, 19.09.21

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Cabeça cheia. Solidão da noite. Lua que me ilumina, lágrimas que brotam mas não correm. Não sei até quando aguento. Não sei até quando suporto. Esta dor que dói miudinha. Dor que disfarço com sorrisos falsos. Ninguém sabe. Silencia. Ninguém sabe as tuas dores. Ninguém sabe as minhas. Ninguém iria compreendê-las, de qualquer forma. Eles ouvem-te mas não te escutam. Ninguém quer saber. Não choro cá fora. Não consigo. Choro por dentro. Lá onde dói mais. Mais um fim de dia. Mais um pôr do sol. Mais uma lua. Mais uma noite de solidão. Gritos silenciosos. Tanto barulho cá dentro. Na minha solidão da noite. Aquela que disfarço com os sorrisos do dia. Grita mais a música que escutas ou o que sentes por dentro?


Ninguém ouve
Ninguém vê.
Só tu sabes.
Só tu vês.
Só tu escutas.
Mas também, só tu percebes.


Todos te olham. Alguns admiram-te. Dizem que és forte. És a maior. Soubessem eles o que tens dentro e jamais te chamariam a rainha da alegria. A princesa dos sorrisos. Mas tu sabes, eles não têm culpa. Disfarças bem. Sorris a todos. Sorris sempre, enquanto por dentro choras.


Não. Não me lamento. Deixo apenas as emoções fluírem aqui. Nas pontas dos dedos correm tão rápido os sentimentos como os gritos que se me gritam no peito. Onde estou? Para onde vou? Sozinha. Sempre sozinha.


Mas não era isto que tu querias?