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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Estou em falta...

V de Viver, 25.09.24

Em falta convosco e, acreditem ou não, em falta comigo mesma!

Foram poucos os textos por aqui. As reflexões que têm vindo a diminuir ao longo dos anos de existência deste blogue este ano ainda foram menos. Não só por aqui. No meu caderno de escrita também foram muito poucas este ano. Curiosamente um dos melhores anos de sempre da minha vida. Coincidência ou não? Não sei. Mas sei que foi sempre a dor que me chamou mais a escrever e, inclusive, foi através da escrita [aqui e no meu caderno de escrita] que transformei muita dor em cura, e em amor. 

Não gosto de prometer nada que não tenha a certeza de que irei cumprir, mas prometo tentar muito voltar à escrita por aqui. 

Tenho novidades, tenho textos nos rascunhos à espera de serem publicados, mas não me consigo recordar de um ano que tenha passado tão depressa como 2024. 

Voltei hoje aqui porque, tal como todos os anos, parece que renasce em mim uma vontade de escrever enorme no Outono. Sou apaixonada por esta estação e este ano é ainda mais importante na minha vida. E como tal quis mudar a cara do blogue, adequar à estação!

Espero, de coração, que todos os que me costumavam ler (alguns que, fiéis como só no mundo dos blogues se encontram, ainda lêem) estejam bem. Mas vou tentar actualizar-me ainda esta semana. 

Para já deixo-vos com a promessa de tentar muito vir contar-vos sobre este magnifico ano de 2024. 

Um grande beijinho a todos

V. 

De todas as minhas preocupações

V de Viver, 14.03.24

De todos os meus receios poucos foram os que se concretizaram. De todas as minhas preocupações poucas foram as que se mostraram fundadas. 

Preocupamos-nos demais, pensamos demais, vivemos acelerados demais. Sofremos por antecedência, choramos antes da tragédia e, na maioria das vezes felizmente, a tragédia não chega. 

É fácil falar: "vive sem stress", "deixa a vida acontecer". Clichés. Que devíamos usar à regra. 

Os dias passam, as semanas correm e os meses são como o vento. E todos os nossos anseios, no fim, só serviram para nos perturbar. 

Podemos mudar isto? Talvez. É difícil explicar a ansiedade, mas ela nem sempre tem que ser uma coisa negativa. Alguma ansiedade é necessária para que não corramos riscos inúteis. O medo faz parte da vida e devemos aceita-lo. Só não devemos permitir que nos cegue. Que nos molde e nos diminua. Há que agir, sim, apesar do medo. E sim, é precisamente isso a coragem. 

Somos muito mais corajosos do que imaginamos. Basta que ela seja precisa para que nos apercebamos da força que temos, do que somos realmente feitos. 

A minha maior coragem na vida foi não desistir. Apesar do medo, da desilusão, dos fracassos, dos erros (que no fundo foram apenas aprendizagem) continuei sempre a acreditar que era possível. Que existia uma vida maravilhosa para lá do medo.

E há. 

Acreditem tanto como eu acreditei. Os nossos sonhos estão mais perto de nós do que aquilo que podemos imaginar. Os nossos maiores anseios raramente têm fundamento. Não desistam de sonhar, nem de acreditar num amanhã melhor. Semeiem as vossas plantas da melhor forma possível e desse modo nunca terão que temer a colheita. Porque ela chega meus amigos, tarde ou cedo tudo o que plantamos dará frutos. 

Foi só aos 33

V de Viver, 05.12.23

Cresci a achar que era insuficiente. Que fazia tudo errado. Que era por isso que o meu pai não me queria. Porque eu era um erro. Que tinha estragado a vida da minha mãe. 

Cresci a ver erros em tudo o que eu era. O meu corpo era horrível e eu odiava-o. Não era suficientemente inteligente. As minhas amigas vestiam-se melhor. A minha família era disfuncional. Não tinha tinha dinheiro para estudar, logo nunca seria ninguém. 

Cresci e sujeitei-me a relações de merda. Corri atrás de homens que não me queriam. Chorei por eles. Envolvi-me com pessoas indisponíveis por variadíssimas razões. Metia os outros num pedestal, todos eram melhores e mais importantes que eu. 

Cresci a achar-me incapaz. Na minha cabeça eu não conseguia nada. Assustava-me fazer qualquer coisa diferente do que estava habituada. Achava-me pequena para fazer grandes coisas. 

Cresci a procurar validação. Queria que me dissessem que eu era suficiente. Que era boa. Agradava os outros, muitas vezes desagradando-me a mim, porque queria ser aceite. Queria ser gostada.

Cresci a achar que era uma porcaria. Que nunca iria ter uma relação saudável. Que não merecia a vida. Que o meu pai estava certo em não me querer. Que realmente eu tinha estragado a vida da minha mãe ao nascer. 

Cresci a comer demais. Comia as minhas emoções, engordava cada vez mais, comia mais e mais para me sentir melhor, porque já estava horrível, por isso tanto fazia. Odiava-me e odiava o meu corpo.

Cresci a investir energia nos outros. A sentir tanta rejeição em mim, por mim, que me doía até à alma.

Autodestruí-me tantas vezes. Menosprezei-me. Rejeitei-me. 

E só agora percebi.

Que eu sou suficiente. Que se eu não me amar ninguém me amará, mas que isso nem tem importância porque sou eu quem precisa de me amar. 

Que me devia ter sempre tratado como tratava os outros. Que fui sempre muito boa para todos, menos para mim. Que devia amar-me tanto como amava os outros.

Que o amor encontranos quando nos amamos.

Que o meu corpo nunca teve nada de errado. Que um corpo é só um corpo e que se o tratar com amor e respeito ele ficará bem por si só. 

Que me devia admirar a mim. Mais do que a todos os outros. 

Que preocupar-me comigo não é egoísmo. É necessário. 

Que o que eu quero deve estar em primeiro lugar. Que alcançar os meus objectivos é a melhor sensação da vida. Que me fortalece lutar pelo que quero e que, mesmo que seja dificil, nunca devo desistir de lutar pelos meus sonhos. 

Que eu sou a pessoa mais importante da minha vida. Que eu tenho que me admirar todos os dias da minha vida. Que tenho que me preocupar comigo desde que acordo até que me deito.

Que eu sou digna do meu tempo, da minha atenção. Que o melhor investimento que posso fazer é sempre em mim. 

Que ninguém é mais importante que eu. E sim, eu sei, se tu que estás a ler isto tiveres filhos estás a pensar que eles são. Eu não tenho filhos. Acredito que eles sejam, sim, a coisa mais importante da nossa vida. O que eu não acredito é que não tenha que me amar a mim primeiro. Porquê? Porque eu sei (isto eu sei bem demais) que se eu não me amar e cuidar a mim primeiro eu não consigo amar e cuidar aos outros de forma saudável. 

Hoje eu sei isto tudo. Nem sempre soube. Levei anos a construir esta forma de pensar e de viver. 

Foram anos de autodestruição. De falta de autoestima e de amor próprio. De achar que não merecia nada, que era insuficiente.

Só hoje. Apenas hoje posso dizer com toda a certeza que me amo. Que sou importante. Que a minha vida vale a pena. Que sou digna de amor. 

Por isso decidi escrever este texto. Porque talvez tu também te sintas como eu me senti. E, se for esse o caso, eu queria que soubesses que não estás sozinha. Não és só tu quem se sente assim no mundo. Nem sequer só tu e eu. Infelizmente há imensa gente a passar pelo mesmo. A noticia boa? É que todos nós temos o poder de mudar isso. 

Eu sou suficiente. Tu és suficiente.

Eu sou merecedora de amor. E tu também és. 

Temos em nós tudo aquilo que precisamos. E quando descobrimos isso a nossa vida muda completamente.

Acredita em ti. Ama-te. Procura sempre o teu desenvolvimento pessoal. E nunca, jamais, coloques os outros num pedestal. Ninguém é melhor do que tu. Ninguém merece mais o teu amor do que tu. 

Foi só aos 33 que eu descobri isto. 

Nunca é tarde.

Mais um dia ou menos um dia?

V de Viver, 13.10.22

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Sentada numa falésia junto ao mar vim finalizar o meu dia. Um daqueles que não foi nem bom nem mau. Acho que estes dias existem para nos mostrar que nem sempre é preto no branco. Nem sempre é sim ou não. Tristeza ou felicidade. Existem meios termos. Até para alguém que, como eu, não está habituada a eles.

Nem todos os dias são bons, mas todos têm algo de bom, disso não duvido. Pode ser a minha mania de ver sempre o copo meio cheio. Mas é assim que vejo as coisas. Há sempre algo pelo que agradecer. Mais que não seja por ter olhos e ouvidos capazes de ver e ouvir aquilo que estou aqui a presenciar. Não é positivismo fingido. Eu sinto mesmo aquilo que digo.

Felizmente sou uma apaixonada pelas coisas simples da vida. Aquelas que não se pagam e que por nos serem tão comuns não damos o verdadeiro valor. Porque achamos que elas são nossas por direito. Talvez sejam. Talvez o sol, a lua, o mar, o vento, o cantar dos passarinhos sejam um bocadinho de cada um de nós. Pelo menos daqueles que os sabem apreciar. Talvez.

Talvez a vida, no fundo, seja só isto que estou a sentir agora. Está sensação de paz e tranquilidade que o mar e o pôr do sol sempre me proporcionam. A cabeça vazia de outros pensamentos. Nem passado, nem futuro. Apenas o agora, eu, o mar, e a despedida do sol.

Mais um dia ou menos um dia? Talvez seja apenas uma questão de perspectiva.

O Mundo está podre

V de Viver, 21.09.21

O mundo está podre.

Não dá para confiar em ninguém. Meio mundo quer lixar outro meio mundo. As pessoas lutam por ficar por cima, por ver quem brilha mais, quem tem a vida melhor, o carro melhor, a casa melhor. É me quase impossível pensar em viver para sempre rodeada por pessoas assim. Pessoas que não se ajudam, que só sabem julgar, que só sabem criticar.

Por isso isolei-me.

Durante o último ano passei mais tempo sozinha do que acompanhada. Sozinha mesmo. Eu, comigo mesma. Na minha casa, na praia, na rua. Sempre sozinha. Por vezes isso magoa, principalmente nos dias em que existe algo bom para partilhar. É triste sim não ter com quem dividir as conquistas, não ter com quem partilhar a felicidade. Mas é ainda mais duro perceber que quando estás na merda não está lá ninguém. Dói, dói muito. Mata-te um bocadinho a cada vez que acontece. Mas é uma dor necessária. Porque é preciso que todos percebamos que só nos temos a nós. Só podemos confiar a 100% em nós. As nossas dores nunca serão totalmente entendidas pelos outros. As nossas conquistas nunca serão totalmente festejadas e sentidas pelos outros. É duro viver num mundo onde percebes que só te tens a ti. Onde não consegues confiar nas pessoas.

E não, não digo que não existam pessoas boas. Se assim fosse também eu não seria boa. E não sou o tempo todo. Também eu já falhei a alguém, tenho a certeza disso. Também eu já fui a dor de outra pessoa, a desilusão de outra pessoa. Mas gosto de pensar que vivo a minha vida de forma a ser essa pessoa o menor número possível de vezes.

Tu podes destruir-te a ti próprio se pensares demais neste assunto. Porque somos seres sociáveis e precisamos dos outros para socializar. Mas é triste ver naquilo em que o mundo se tornou. E a culpa é nossa. Só nossa. Nós que cá estamos é que permitimos que as coisas chegassem a este ponto. Pessoas que usam outras pessoas. Amigos que não o são de verdade. Amores que não duram mais do que o tempo de validade de um iogurte. Família que se magoa por migalhas. Colegas de trabalho que se chateiam por ver quem faz o melhor papel.

Competição não saudável. Em tudo. Medir forças em tudo.

Porque não medir forças para ver quem ama mais? Porque não medir forças para ver quem ajuda mais, quem se entrega mais, quem se apoia mais? Porquê medir forças apenas por coisas que não têm interesse? Não tenho ilusão de que possa mudar o mundo e transformá-lo num mundo cor de rosa e cheio de unicórnios. Mas recuso-me. Recuso-me a entrar nessa luta de quem tem mais e melhor, de quem faz mais e melhor. E por isso isolo-me. Porque é a melhor forma de não ter que lutar com ninguém.

Deixem-me estar. Deixem-me ficar aqui sossegada no meu desassossego interno.

Pelo menos aqui a minha competição é apenas comigo mesma.

De que valeu?

V de Viver, 16.04.21

De que valeu, afinal, ser a pessoa a quem todos recorreram quando precisaram?

De que valeu estar sempre presente? 

De que valeu estar sempre disposta a ajudar?

De que valeu dizer sempre sim?

De que valeu alinhar em todas as loucuras?

De que valeu ser a amiga que tem a porta sempre aberta?

De que valeu ser a namorada que está sempre ali, que nunca falha?

De que valeu ser a colega de trabalho que desenrasca sempre?

De que valeu ser a pessoa que faz rir, a que faz o ambiente ficar leve?

De que valeu ser aquela que sempre tem um abraço pronto?

De que valeu ser a que sempre acabou com as guerras?

De que valeu dar sempre o braço a torcer?

De que valeu pedir desculpa?

De que valeu atender sempre as chamadas de todos?

De que valeu responder de imediato a todas as mensagens?

De que valeu estar sempre pronta para beber um copo ou um café?

De que valeu ser o ombro onde todos choraram os seus lamentos?

 

E onde estão todos agora quando eu preciso deles?