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Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Coisas que eu [não te] disse

Tudo o que não consigo dizer, escrevo.

Desafio 30 dias de escrita

V de Viver

Porque é que escolheste esse trabalho? Porque é que foste viver para longe da tua família? Porque é que acabaste uma relação de nove anos? Porque é que ainda não casaste? Não achas que está na altura de ser mãe? Porque é que não foste para a universidade? Porque é que não compras um carro novo? Porque é que nunca falas do teu pai? Tens uma cara tão gira, porque é que não fazes dieta? Não achas que devias emagrecer?

Não é uma pergunta intrigante, são várias. Poderia escrever o resto do dia sobre perguntas intrigantes. Sobre o facto de as pessoas quererem sempre saber mais do que aquilo que lhes diz respeito. Sobre o quererem rever-se na vida dos outros, quando cada um tem a sua história e o seu caminho trilhado e a trilhar. Nunca percebi o porquê das pessoas fazerem perguntas sobre as quais não têm qualquer interesse pessoal. Claro que ao crescer dás-te conta que é normal. Todos as fazem, ou quase todos. Mas ainda assim não consigo perceber o que leva as pessoas a pergutarem coisas que, independentemente da resposta, não vão alterar a vida delas em nada. Reparem, não é que eu seja uma daquelas pessoas que responde: "Não é da tua conta". Não, tenho a certeza que nunca respondi isso a ninguém. Mas apenas por uma questão de educação. Por vezes pergunto-me se as pessoas que fazem esse tipo de perguntas já se deram conta do quão ridículo soam. E digo ridículo porque as respostas que eu lhe poderia dar não iriam acrescentar absolutamente nada à vida delas. O ser humano é curioso por natureza. Eu sei. Eu também sou curiosa. Mas acreditem que não é com a vida dos outros. Se alguém me quiser contar alguma coisa da sua vida eu terei todo o gosto em ouvir. Em ajudar se conseguir. Mas se a iniciativa não partir da pessoa eu garanto-vos que não lhe vou perguntar absolutamente nada. 

Acho que hoje este tema veio mesmo a calhar e acabei por escrever mais em jeito de desabafo. Após a minha lesão e devido ao facto de me ver obrigada a ficar em repouso, acabei por voltar a ganhar mais uns quilinhos. Ontem, numa das minhas raras saídas à rua, encontrei uma pessoa com quem já não me cruzava há algum tempo. A pessoa olha para mim, de muletas no meio da rua, e a primeira coisa que me diz é: "Caramba, estás mais gorda não estás?" A minha primeira reação foi dizer-lhe, da forma mais educada que conseguisse encontrar, que fosse foder-se. (Desculpem lá o palavrão). Mas como não encontrei nenhuma forma educada de o fazer sorri e respondi: "Neste momento não é a minha maior preocupação." Não consegui parar de pensar nisso quando voltei para casa. Primeiro porque me parece fútil dizer a uma pessoa que se encontra de muletas que ela está mais gorda. Aliás, é fútil dizer a uma pessoa que está mais gorda, quer ela esteja ou não de muletas. Penso que se fosse ao contrário eu diria algo como: "Então o que é que te aconteceu?". Nunca a minha primeira observação seria para a pessoa estar mais gorda ou mais magra, até porque mesmo que reparasse nisso partiria do princípio de que a pessoa teria espelhos em casa. Na verdade, nem a primeira nem as seguintes observações. Nunca fiz uma observação sobre o peso de ninguém. Porque simplesmente não me diz respeito. 

A minha pergunta intigrante, para essa e para muitas outras pessoas é: Porque é que não se metem na vossa vida? 

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